domingo, 27 de outubro de 2013

OS FRUTOS DO ESPIRITISMO


Por Enrique Eliseo Baldovino


Homenagem ao Sesquicentenário de 
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 
Allan Kardec

Relendo o penúltimo artigo (8º) das páginas históricas da Revista Espírita de dezembro de 1864 (RE dez. 1864–VIII: Comunicação espírita – A propósito da Imitação do Evangelho [Bordéus, maio de 1864; Grupo de Saint-Jean – Médium: Sr. Rul.], páginas 395-397),(1) encontramos uma notável instrução ditada pelo Espírito de Verdade, que comentaremos a seguir, com letra cursiva e menor, transcrevendo a mensagem original e intercalando as nossas considerações, junto das lúcidas observações de Allan Kardec.

Comunicação Espírita

A PROPÓSITO DA IMITAÇÃO DO EVANGELHO

(Bordéus, maio de 1864; Grupo de S. João – Médium: Sr. Rul.)

“Um novo livro acaba de aparecer. É uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há dezoito séculos vim, por ordem de meu Pai, trazer a palavra de Deus aos homens de boa vontade. Essa palavra foi esquecida pela maioria, e a incredulidade, o materialismo vieram abafar o bom grão que eu tinha depositado em vossa Terra. Hoje, por ordem do Eterno, os bons Espíritos, seus mensageiros, vêm a todos os pontos da Terra fazer ouvir a trombeta retumbante. Escutai suas vozes; elas são destinadas a mostrar-vos o caminho que conduz aos pés do Pai celeste. Sede dóceis aos seus ensinamentos; os tempos preditos são chegados; todas as profecias serão cumpridas.

O contexto histórico desta profunda comunicação é o mês de maio de 1864, poucos dias depois do notável aparecimento do livro Imitation de L’Évangile selon le Spiritisme, de Allan Kardec, lançado em Paris em abril de 1864 (1ª edição),(2) cujas merecidas comemorações o Movimento Espírita nacional e internacional estão realizando, por ocasião do Sesquicentenário de O Evangelho segundo o Espiritismo (a 3ª edição, revista, corrigida e modificada é de 1866).(3) O Espírito de Verdade usa, de forma clara, uma linguagem eminentemente evangélica, recordando a passagem de Jesus, na Terra, há 18 séculos – contando desde a época da Codificação da Doutrina dos Espíritos –, e o próprio Espírito de Verdade cita, como o faz no Prefácio a L’Évangile selon le Spiritisme, que “os tempos são chegados”.

“Pelos frutos se conhece a árvore. Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a discórdia tinha substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens que sucumbiam ao peso de suas aflições, despertados pelos acordes melodiosos das vozes de além-túmulo, compreenderam que seguiam por um caminho errado e, envergonhados de suas fraquezas, arrependeram-se e pediram ao Senhor a força para suportar suas provações.

O Espírito de Verdade volta a citar outro formoso ensino do Cristo: “Pelos frutos se conhece a árvore” (Mateus, 7:15-20). Os frutos opimos e saborosos da portentosa árvore do Espiritismo são as benesses que Ele espalha pelo mundo, Doutrina que continua salvando vidas através dos anos, explicando o porquê do sofrimento, identificando as causas das aflições, ensinando a perdoar, a amar sem esperar retribuição e norteando mentes e corações para o bem, cujas conquistas vivenciais devem-se sobremaneira ao elevado esclarecimento e consolo que a Doutrina Espírita proporciona à Humanidade, no seu aspecto filosófico, científico e religioso, e com as consequências ético-morais, educacionais, sociais etc., que decorrem do seu cerne doutrinário.

“Provas e expiações, eis a condição do homem na Terra. Expiação do passado, provas para fortalecê-lo contra a tentação; para desenvolver o Espírito pela atividade da luta; para habituá-lo a dominar a matéria e prepará-lo para os prazeres puros que o esperam no mundo dos Espíritos.

“Há muitas moradas na casa de meu Pai, disse-lhes Eu há dezoito séculos. Estas palavras, o Espiritismo veio torná-las compreensíveis. E vós, meus bem-amados, trabalhadores que suportais o calor do dia, que credes ter que vos lamentar da injustiça da sorte, bendizei vossos sofrimentos; agradecei a Deus, que vos dá meios de resgatar as dívidas do passado; orai, não com os lábios, mas com o coração melhorado, para vir ocupar melhor lugar na casa de meu Pai, porque os grandes serão humilhados, mas, como sabeis, os pequenos e os humildes serão exaltados.” Espírito de Verdade

Claramente, o próprio Espírito de Verdade se identifica de novo como sendo Jesus, ao citar mais um ensinamento evangélico (“Há muitas moradas na casa de meu Pai” [João, 14:2]), e asseverando sem rodeios: «disse-lhes Eu há dezoito séculos” (grifos nossos). No livro Missionários da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, através do médium Chico Xavier, o elevado Instrutor Alexandre, falando no Mundo Espiritual ante uma assembleia, acerca dos temas Mediunidade e fenômeno, expressou com profunda inspiração:

“(…) – Mediunidade – prosseguiu ele, arrebatando-nos os corações – constitui “meio de comunicação”, e o próprio Jesus nos afirma: “Eu sou a porta… se alguém entrar por mim será salvo e entrará, sairá e achará pastagens”! Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor?(4) Ouvi-me, irmãos meus!… Se vos dispondes ao serviço divino, não há outro caminho senão Ele, que detém a infinita luz da verdade e a fonte inesgotável da vida! Não existe outra porta para a mediunidade celeste, para o acesso ao equilíbrio divino que anelais no recôndito santuário do coração! Somente através d’Ele, vivendo-lhe as sublimes lições, alcançareis a sagrada liberdade de entrar nos domínios da Espiritualidade e deles sair, conquistando o pão eterno que vos saciará a fome para sempre. Sem o Cristo, a mediunidade é simples “meio de comunicação” e nada mais, mera possibilidade de informação, como tantas outras, da qual poderão assenhorear-se também os interessados em perturbações, multiplicando presas infelizes. Lembrai-vos, contudo, de que a lei divina jamais endossou o cativeiro e nunca sancionou a escravidão! Esquecestes a palavra divina que pronunciou: “vós sois deuses”? (…) (Grifos nossos)

Observação de Allan Kardec

Agora é o próprio Codificador do Espiritismo quem comenta a comunicação do Espírito de Verdade na referida Revue Spirite, tecendo sensatas considerações em forma de Nota final, que também transcrevemos a seguir. Seus comentários magistrais fazem jus à notável frase-síntese que descreve o seu bom senso, frase muito conhecida em nosso meio: Jesus, a porta. Kardec, a chave.(5)

“Sabe-se que assumimos menos responsabilidade pelos nomes quando pertencem a seres mais elevados. Não garantimos mais essas assinaturas do que muitas outras, limitando-nos a entregar tal comunicação à apreciação de cada espírita esclarecido. Contudo, diremos que não é possível desconhecer nela a elevação do pensamento, a nobreza e a simplicidade das expressões, a sobriedade da linguagem, a ausência de superfluidade. Se ela for comparada com as que foram inseridas na Imitação do Evangelho (Prefácio e cap. III: O Cristo Consolador), e que levam a mesma assinatura, posto obtidas por médiuns diferentes e em épocas diversas, nota-se entre elas uma analogia marcante de tom, de estilo e de pensamentos, que acusa uma origem única. De nossa parte, dizemos que pode ser do Espírito de Verdade, porque é digna dEle, ao passo que temos visto muitas assinadas por este nome venerado ou o de Jesus, cuja prolixidade, verbiagem, vulgaridade, por vezes mesmo a trivialidade das ideias, traem a origem apócrifa aos olhos dos menos clarividentes. Só uma fascinação completa pode explicar a cegueira dos que se deixam apanhar, se não também o orgulho de julgar-se infalível e intérprete privilegiado dos puros Espíritos, orgulho sempre punido, mais cedo ou mais tarde, pelas decepções, pelas mistificações ridículas e por desgraças reais nesta vida. À vista desses nomes venerados, o primeiro sentimento do médium modesto é o de dúvida, porque ele não se julga digno de tal favor.”

A prudência, a humildade e a sabedoria de Allan Kardec são realmente proverbiais. O Codificador compara esta comunicação da Revista Espírita às elevadíssimas mensagens do Espírito de Verdade que constam no citado Prefácio de Imitation de L’Évangile e no capítulo: Le Christ Consolateur, sendo que estas instruções são dignas da autoria do nome venerado de Jesus. Mas Kardec, na sua grande humildade, prefere “entregar tal comunicação à apreciação de cada espírita esclarecido”.

Jesus e o Espírito de Verdade

A mesma e clara identificação do Espírito de Verdade com o Cristo encontra-se também no cap. XXXI de O Livro dos Médiuns,(6) na dissertação IX, que possui uma oportuna e explicativa Nota de Kardec, após a profunda mensagem assinada por Jesus de Nazaré:

“(…) Venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis! (…) Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino: instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes: Irmãos! nada perece; Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade”.

A mesma mensagem, com poucas variações, encontra-se em O Evangelho segundo o Espiritismo,(7) agora assinada pelo Espírito de Verdade (Paris, 1860).

O Consolador prometido

Por tudo isso, o lúcido Codificador cita no cap. VI: O Cristo Consolador, a promessa do Consolador prometido, feita outrora por Jesus e registrada no Evangelho de João, 14:15 a 17 e 26:

“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito”.(8)

A Doutrina Espírita é Jesus de volta

O Espiritismo é, de forma incontestável, o Cristianismo redivivo, porque nos ensina a colocar em prática o Evangelho de Jesus, isto é, a imitá-lO (Imitation de L’Évangile), a emular o Cristo, ora revivido pelos elevados ensinos da Doutrina Espírita, que restaura a Sua palavra e os Seus exemplos, sendo que O Evangelho segundo o Espiritismo contém a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas circunstâncias da vida. A epígrafe do Codificador Allan Kardec é muito profunda, racional e belíssima, em todos os sentidos: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente à razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Em boa hora saiu a lume a edição histórica de O Evangelho segundo o Espiritismo,(9) em comemoração aos 150 anos do lançamento dessa extraordinária Obra, com o selo da Editora FEB – Federação Espírita Brasileira, em parceria com as 27 Federativas Espíritas Estaduais, em cujo número encontra-se a nossa centenária FEP – Federação Espírita do Paraná.

É tanta a importância desse Livro, pela sua considerável influência sobre a vida prática das nações (que extraíram, extraem e extrairão dele instruções excelentes), que, durante a codificação de Imitation de L’Évangile selon le Spiritisme, Allan Kardec teve que se recolher à sua residência da Ville Ségur, conforme narra Obras Póstumas, sob o título: Imitação do Evangelho (Ségur, 9 de agosto de 1863; médium: Sr. d’A…).(10)Durante a confecção desta Obra, os Espíritos Superiores disseram a Kardec: “(…) Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular. (…) Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar. (…)”

O Evangelho segundo o Espiritismo: o Livro da Esperança

No primeiro centenário (1964) do lançamento de L’Évangile selon le Spiritisme, o Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, escreveu, à época, um Prólogo comemorativo aos 100 anos da publicação de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, e intitulou esse proêmio duma forma comovedora: Livro da Esperança, o que deu também o nome ao mesmo livro.

Esse preâmbulo foi ditado por Emmanuel em Uberaba-MG, em 18 de abril de 1964, o qual registrou o seguinte no seu parágrafo final:

“É por isso, leitor amigo, que em nos associando aos teus anseios de sublimação, que se nos irmanam na mesma trilha de necessidade e confiança, diante do Primeiro Centenário de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, nós te rogamos permissão para nomear este livro despretensioso de servidor reconhecido, como sendo Livro da Esperança”.(11)

Obrigado, Senhor!

Finalmente, repitamos com Emmanuel,(12) parafraseando o exórdio do citado Livro da Esperança, mas agora referindo-nos às merecidas comemorações do Sesquicentenário de Luz de L’Évangile selon le Spiritisme, com profunda gratidão ao Cristo:

“Oh! Jesus! No luminoso centenário de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em vão tentamos articular, diante de Ti, a nossa gratidão jubilosa!… Permite, pois, agradeçamos em prece a Tua abnegação tutelar e, enlevados ante o Livro Sublime, que Te revive a presença entre nós, deixa que Te possamos repetir, humildes e reverentes: Obrigado, Senhor!…”

Referências bibliográficas:

(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Tradução de Júlio Abreu Filho. Dezembro de 1864, pp. 395-397. EDICEL.
(2) ________. Imitation de L’Évangile selon le Spiritisme. 1re édition, com XXXVI-443 páginas. Paris, les éditeurs du Livre des Esprits (35, Quai des Augustins); Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri, libraires, au Palais-Royal, et au bureau de la Revue Spirite. Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie (Paris, 30, rue Mazarine). Abril de 1864.
(3) ________. L’Évangile selon le Spiritisme. 3e édition, com XXXV-444 páginas. Paris, les éditeurs du Livre des Esprits; Dentu, Fréd. Henri, libraires, au Palais-Royal, et au bureau de la Revue Spirite, 59, rue et passage Sainte-Anne. Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie (Paris, 6, rue des Poitevins). 1866.
(4) XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Ditado pelo Espírito André Luiz. 13ª edição. Capítulo 9 (Mediunidade e fenômeno), p. 99. FEB, 1980.
(5) XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. Opinião Espírita. Ditado pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 4ª edição. Cap. 2: O Mestre e o Apóstolo, p. 25. Uberaba-MG. Comunhão Espírita Cristã: CEC, 1973.
(6) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. Cap. XXXI: Dissertações espíritas, número IX, com Nota de Kardec. 62ª edição, pp. 458-460. FEB, 1996.
(7) ________. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo VI: O Cristo Consolador, item 5 (Instruções dos Espíritos – Advento do Espírito de Verdade). Mensagem ditada pelo Espírito de Verdade em Paris, 1860, pp. 107-108. Edição histórica. FEB, 2013.
(8) ________. _____. Cap. VI: O Cristo Consolador, item 3 (Consolador prometido), pp. 105-106. Edição histórica. FEB, 2013.
(9) ________. _____. Edição histórica (200 mil exemplares), em comemoração aos 150 anos do lançamento de L’Évangile selon le Spiritisme. Tradução de Guillon Ribeiro. Com 410 páginas. Editora FEB, em parceria com as 27 Federações Espíritas Estaduais, 2013.
(10) ________. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. Ségur, 9 de agosto de 1863 (Médium: Sr. d’A…) Imitação do Evangelho. 22ª edição, pp. 307-310. FEB, 1987.
(11) XAVIER, Francisco Cândido. Livro da Esperança. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 1ª edição. Prólogo: Livro da Esperança, p. 12. CEC, 1964.
(12) ________. _____. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª edição. Obrigado, Senhor! Página 14. CEC, 1964.



Fonte; MUNDO ESPÍRITA FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO PARANÁ


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sábado, 26 de outubro de 2013

A POSSESSÃO, SEGUNDO KARDEC


“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado.” (Allan Kardec)

Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico nas obras da Doutrina Espírita nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”:

1857
Questão 473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo?

– O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material. (1)

Kardec retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem:

Questão 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?

– Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.

Os Espíritos, aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos.

Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico.

Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos:

“O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.”

1858
Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida: (2)

“Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a idéia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação da uma idéia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados.”

Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão.

1861
O texto acima é parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns” (3), com uma diferença significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por “constrangimento”.

1862
Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: (4)

“Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)”

Na mesma revista e no mesmo ano, (5) Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte consideração:

“O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão.”

1863
A retomada do termo tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa “Um Caso de Possessão”. (6) (7) Senão vejamos:

“Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.(...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (...)”

(O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A..., a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas.

– Já que tomastes posse do corpo da Sra.A... poderíeis nele ficar ?
– Não; mas vontade não me falta.
– Por que não podeis ?

– Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça.
– Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A....
– Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes.

O Sr. Charles (...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A... não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade.

Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes.

Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal intencionado.

Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento.

Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante,  infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei.” Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo.(...)

Um dia, para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente.

Vemos, aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. (8)

Mas, voltando aos Possessos de Morzine, (9) diz Kardec referindo-se ao perispírito:

“Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. (...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)”

Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine.

Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: (10)

“Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857 (...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...)

(...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere.”

1864
Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia (12), refere-se Kardec na Revista Espírita, (11):

“No artigo anterior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão.”

O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: (12)

“Desde que o bispo pisou em terras de Morzine”, diz uma testemunha ocular, “sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e (...) soltavam gritos e urros, que nada tinham de humano. (...)

As possessas, cerca de setenta, com um único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A última resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções.” (...)

Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo (13) a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima:

“(...) para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio.”

No mesmo livro (14), há considerações sobre as causas da possessão:

“O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições.

Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.”

1867
Ainda na Revista Espírita (15) encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la:

“Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. (...)

Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...) algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada.”

1868

Em “A Gênese”, (16) Kardec disserta sobre domicílio espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção”.

“Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção.

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)”

“Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado.”

“Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)”

Seguindo ainda, no mesmo livro:

“Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões.” (17)

Com as curas, as libertações do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (S. Mateus, cap. XII, 22 e 23) (18)

Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispensável de terceiros.

Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que existe possessão e também coabitação.

Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia-a-dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de idéia, mas, sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, astuto, inteligente, honesto e, antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás.

A fé raciocinada sob a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o à busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras, a dos dogmas e a do fanatismo.

Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta.

FERNANDO A. MOREIRA
fermorei@uol.com.br

Bibliografia:

(1) KARDEC, Allan . O Livro dos Espíritos, ed. FEB, 1987, perg. 473, pg. 250.
(2) Revista Espírita , 1858, pg. 278.
(3) KARDEC, Allan . O Livro dos Médiuns, ed. FEB, 1982 , item 240, pg. 300.
(4) Revista Espírita, 1862, pg. 109.
(5) Idem , 1862, pg. 359.
(6) Idem , 1863, pg. 373.
(7) KARDEC, Allan . Obsessão, ed. “O Clarim”, 1993, pg. 225.
(8) Idem , pg. 229.
(9) Revista Espírita, 1863 pg. 01.
(10) Idem, 1863, pg. 103.
(11) Idem, 1864, pg. 11.
(12) Idem, 1864, pg.225.
(13) KARDEC, Allan . O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. FEB, 1995, pg. 432.
(14) Idem, pg. 171.
(15) Revista Espírita, 1867, pg. 192.
(16) KARDEC, Allan . A Gênese, ed. FEB, 1980, pg. 306.
(17) Idem, pg. 330.
(18) Idem, pg. 329.


Recomendamos  Leitura;

VAMPIRISMO E PARASITISMO ESPIRITUAL


1. CONCEITOS:

“Ação pela qual Espíritos involuídos, arraigados às paixões inferiores, se imantam à organização psicofísica dos encarnados (e desencarnados), sugando-lhes a substância vital.” (Martins Peralva- Estudando a Mediunidade.)

“O parasitismo espiritual (ou vampirismo) é um processo grave de obsessão que pode ocasionar sérios danos àquele que se faz hospedeiro (o obsidiado), levando-o à loucura ou até mesmo à morte.” (Espiritismo de A a Z, citando Suely Caldas Schubert, Obsessão/Desobsessão: profilaxia e terapêutica espíritas.9 ed. Rio:FEB, 1994, p. 192)

2. ESPÉCIES:
1 - espíritos muito apegados às sensações materiais prosseguem, após o túmulo, a buscar as sensações que desfrutavam quando encarnados, se vinculando aos encarnados que vibram em faixa idêntica, parceiros de paixões desequilibrantes.

2 - os obsessores, por vingança e ódio, ligam-se às suas vítimas com o intuito de absorver-lhes a vitalidade, enfraquecendo-as, em busca de maior domínio.

3 - existem aqueles que, já libertos do corpo físico, ligam-se, inconscientemente, aos seres amados que permanecem na crosta terrestre, mas sem o desejo de fazer o mal.

4 - entre os encarnados, existem pessoas que vivem permanentemente sugando as forças de outros seres humanos, que se deixam passivamente dominar.

Vampirismo Recíproco:

      O vampirismo pode, ainda, comportar a forma de Vampirismo Recíproco, onde ambos os espíritos envolvidos alimentam-se dos fluidos doentios do seu companheiro, apegando- se a ele instintivamente.
      Um exemplo é o caso relatado na obra “Nos Domínios da Mediunidade”, onde um homem desencarnado e uma mulher encarnada vivem em regime de escravidão mútua, nutrindo-se da emanação um do outro. Ela busca ajuda na sessão do trabalho desobsessivo realizado por um centro espírita e, com o concurso de entidades abnegadas, consegue o afastamento momentâneo do espírito obsessor. Bastou, porém, que o espírito fosse retirado para que ela o fosse procurar, reclamando sua presença.

3. CAUSAS EFETIVAS:
- desregramentos emocionais (tristeza, cólera, medo, etc.)
- Glutonaria
- Excessos alcoólicos
- Fumo
- desvios sexuais
       No capítulo III da Obra “Missionários da Luz”, merecem destaque as passagens onde André Luiz e Alexandre observam médiuns que apresentam alguns dos desregramentos retro mencionados:

3.1. Sexo:
Pessoa observada: Rapaz que se exercitava no desenvolvimento mediúnico, freqüentando um centro numa cidade brasileira, em que o Espírito Alexandre era mentor. Casado há oito meses, no entanto era atraído irresistivelmente para ambientes malignos, não resistindo às atrações de atividades doentias no campo sexual, tornando-se por isto mesmo ponto de atração para entidades grosseiras no mundo espiritual, que agiam à maneira imperceptíveis vampiros.

Observação de André Luiz: “- As glândulas geradores emitiam fraquíssima luminosidade que parecia abafa por aluviões de corpúsculos negros, a se caracterizarem por espantosa mobilidade. Começavam a movimentação sob a bexiga urinária e vibravam ao longo de todo o cordão espermático, formando colônias compactas nas vesículas seminais, na próstata, nas mucosas uretrais, invadiam os canais seminíferos, e lutavam com as células sexuais, aniquilando-as. As mais vigorosas daquelas feras microscópicas, situavam-se no epidídimo, onde absorviam, famélicas, os embriões delicados da vida orgânica. Estava assombrado. Que significava aquele acervo de pequeninos seres escuros? Pareciam imantados uns aos outros na mesma faina de destruição. Seriam expressões mal conhecidas da sífilis?”

Resposta de Alexandre - “ - Não, André, não temos aí sob os olhos o espiroqueta de Schaudinn, nem qualquer nova forma suscetível de análise material por bacteriologistas humanos. São bacilos psíquicos da tortura sexual, produzido pela sede febril de prazeres inferiores. O dicionário médico do mundo não conhece e, na ausência de terminologia adequada aos seus conhecimentos, chamemos-lhes de larvas, simplesmente. Têm sido cultivados por este companheiro não só pela incontinência no domínio das emoções próprias, através de experiências sexuais variadas, senão também pelo contacto com entidades grosseiras, que se afinizam com as predileções dele, entidades que visitam com freqüência, à maneira de imperceptíveis vampiros. O pobrezinho ainda não pode compreender, que o corpo físico é apenas leve sombra do corpo perispiritual, e não se capacitou de que a prudência, em matéria de sexo, é equilíbrio da vida, e recebendo as nossas advertências sobre a temperança, acredita ouvir remotas lições de aspectos dogmático exclusivo, no exame da fé religiosa. (...)

3.2. Álcool.
Pessoa observada: Cavalheiro maduro, que tentava a psicografia, na mesma reunião de desenvolvimento mediúnico.

Observação de André Luiz: “- Semelhava-se o corpo a um tonel de configuração caprichosa, de cujo interior escapavam certos vapores muito leves, mais incessantes. Via-se-lhe a dificuldade para sustentar o pensamento com relativa calma. Não tive qualquer dúvida. Deveria ele utilizar de alcoólicos em quantidade. O aparelho gastro-intestinal parecia totalmente ensopado em aguardente, porquanto essa substância invadia todos os escaninhos do estômago e começando a fazer-se sentir nas paredes do estômago, manifestava a sua influência até o bolo fecal. Espantava-me o fígado enorme. Pequeninas figuras horripilantes, postavam- se, vorazes, ao longo da veia horta, lutando desesperadamente com os elementos sangüíneos mais novos. Toda a estrutura do órgão se mantinha alterada. Terrível ingurgitamento. Os lóbulos cilíndricos, modificados, abrigavam células doentes e empobrecidas. O baço apresentava anomalias estranhas.”

Esclarecimento de Alexandre: “- Os alcoólicos aniquilavam-no vagarosamente:

a. Este companheiro permanece completamente desviado em seus centros de equilíbrio vital;
b. Todo o sistema endocrínico foi atingido pela atuação tóxica;
c. Inutilmente trabalha a medula para melhorar os valores da circulação;
d. Em vão esforçam-se os centros genitais para ordenar as funções que lhe são peculiares, porque o álcool excessivo determina modificações deprimentes sobre a própria cromatina;
e. Debalde trabalham os rins na excreção dos elementos corrosivos, porque a ação perniciosa da substância em estudo anula diariamente grande número de nefrons;
f. Os pâncreas, viciado, não atende com exatidão ao serviço de desintegração dos alimentos;
g. Larvas destruidoras exterminam as células hepáticas;
h. Profundas alterações modificam as disposições do sistema nervoso vegetativos;
i. Não fossem as glândulas sudoríparas, tonar-se-lhe-iam impossível a continuação da vida física.

3. 3. Glutonaria.
Pessoa observada: Dama simpática e idosa ao desenvolvimento da mediunidade de incorporação, na mesma reunião;

Observação de André Luiz: “- Fraquíssima luz emanava de sua organização mental e, desde o primeiro instante, notara-lhe as deformações físicas.

a. O estômago dilatara-se horrivelmente;
b. O fígado, consideravelmente aumentado, demonstrava indefinível agitação;
c. Desde o duodeno à sigmóide, notavam-se anomalias de vulto;
d. Guardava a idéia de presenciar não o trabalho de um aparelho digestivo usual, e sim, de vasto alambique gorduroso, cheirando a vinagre de condimentação ativa;
e. Em grande zona do ventre superlotado de alimentação, viam-se parasitos conhecidos, mas além deles, divisava outros corpúsculos semelhantes a lesmas voracíssimas que se agrupavam em grandes colônias desde os músculos e as fibras do estômago até a válvula íleo-cecal. Semelhantes parasitos atacavam os sucos nutritivos, com assombroso potencial de destruição.

Esclarecimento de Alexandre: “- Temos aqui uma pobre amiga desviada nos excessos de alimentação. Todas as suas glândulas e centros nervosos trabalham para atender as exigências do sistema digestivo. Descuidada de si mesma, caiu na glutonaria crassa, tornando-se presa de seres de baixa condição.”

4. PROCESSO DE VAMPIRIZAÇÃO:
4.1.Produção das larvas mentais:
A cólera, a intemperança, os desvarios do sexo e as viciações da personalidade formam criações inferiores, chamadas de larvas mentais, que são o alimento das entidades infelizes, portadoras de vigoroso magnetismo animal, contaminando o meio ambiente onde quer que o responsável pela sua produção circule. Formam nuvens de bactérias variadas, obedecendo ao princípio das afinidades.

4.2 O Contágio:
      Para nutrir-se desse alimento, o desencarnado agarra-se aos companheiros de ignorância ainda encarnados, sugando-lhes a substância vital.
      O médico Dias da Cruz lembra que "toda forma de vampirismo está vinculada à mente deficitária, ociosa ou inerte que se rende às sugestões inferiores que a exploram sem defensiva". E explica a técnica utilizada pelos espíritos vampirizadores, situando-a nos processos de hipnose.
      Por ação do hipnotizador, o fluido magnético derrama-se no campo mental do paciente voluntário, que lhe obedece o comando. Uma vez neutralizada a vontade do sujeito, as células nervosas estarão subjugadas à invasão dessa força. Os desencarnados de condição inferior, consciente ou inconscientemente, utilizam esse processo na cultura do vampirismo.
      Justapõem-se à aura das criaturas que lhes oferecem passividade, sugando-lhes as energias, tomam conta de suas zonas motoras e sensoriais, inclusive os centros cerebrais (linguagem e sensibilidade, memória e percepção), dominando-as.
      De acordo com Marlene Rossi Severino Nobre, membro da Associação Médico Espírita do Brasil (Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 12, páginas 30-32), os espíritos inferiores desencarnados produzem substâncias destrutivas, que atingem os pontos vulneráveis de suas vítimas.
      Essas substâncias, conhecidas como simpatinas e aglutininas mentais, têm a propriedade de modificar a essência do pensamento dos encarnados, que vertem contínuos dos fulcros energéticos do tálamo, no diencéfalo. Esse ajuste entre desencarnados e encarnados é feito automaticamente, em absoluto primitivismo nas linhas da natureza. Os obsessores tomam conta dos neurônios do hipotálamo, "acentuando a dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que aí se fixam para o governo das excitações e produzindo nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parassimpático". (o nosso mentor André Luiz (Evolução Em Dois Mundos, Francisco C. Xavier, 11ª ed,1989, pg. 117-118)
      A propósito, Allan Kardec (A Gênese, 29ª ed., FEB, pg. 305) relata que “Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele...” Ainda orienta o Codificador (mesma obra, pg. 285), que“Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta quando, por sua extensão e irradiação, o perispírito com eles se confunde. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com quem se acha em contato molecular. (...)Se os eflúvios maus são permanentes e enérgicos, podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.”

5. AS ENTIDADES EXPLORADORAS.
      “vampiro é toda entidade ociosa que se vale, indebitamente, das possibilidades alheias e, em se tratando de vampiros que visitam os encarnados, é necessário reconhecer que eles atendem aos sinistros propósitos a qualquer hora, desde que encontrem guarida no estojo de carne dos homens.”(Missionários da Luz, André Luiz, psicografia de Francisco Cândido 

Xavier cap. 4.1 )
      Tendo vivido muito mais de sensações animalizadas que de sentimentos e pensamentos puros, algumas criaturas, além do túmulo, prosseguem imantados aos ambientes domésticos que lhes alimentavam o campo emocional. Aos infelizes que caíram em semelhante condição de parasitismo, as larvas servem de alimento habitual.
      No livro "Evolução em dois Mundos", André Luiz compara os parasitas existentes nos reinos inferiores da Natureza aos "parasitas espirituais", pois os meios utilizados pelos desencarnados, que se vinculam aos que permanecem na esfera física, obedecem aos mesmos princípios de simbiose prejudicial.
      Reportando-se aos ectoparasitas (os que limitam sua ação às zonas de superfície, como os mosquitos sobre a pele) e aos endoparasitas (os que se alojam nas reentrâncias do corpo a que se impõem, como a infestação de elementos saprófagos), o autor traça um importante paralelo entre estes e a ação dos obsessores:

DESENCARNADOS AGINDO COMO ECTOPARASITA: absorvem as emanações vitais dos encarnados que com eles se harmonizem. São os que se aproximam eventualmente dos fumantes, dos alcoólatras e de todos aqueles que se entregam aos vícios e desregramentos de qualquer espécie.

DESENCARNADOS AGINDO COMO ENDOPARASITA: conscientes os que, "após se inteirarem dos pontos vulneráveis de suas vitimas”, tomam conta de seu campo mental "impondo-lhes ao centro coronário a substância dos próprios pensamentos, que a vitima passa a acolher qual se fossem os seus próprios.” (Evolução em dois Mundos, André. Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier - Waldo Vieira, cap. XIV a XV, 5.. ed. FEB.).

      Os obsessores utilizam também as formas ovóides, para intensificar o cerco sobre suas vítimas, imantando-as a estas, para instalar o parasitismo espiritual. Envolvido nos fluídos dos obsessores, com o pensamento controlado pela interferência hipnótica dos algozes, o obsidiado passa a viver no clima que estes criaram, agravado pelas ondas mentais altamente perturbadoras dos ovóides, vendo inclusive os clichês mentais que projetam em fenômenos alucinatórios ou ouvindo-lhes as acusações na acústica da mente.

O corpo espiritual se transforma em um corpo ovóide em três casos:

1º) O homem selvagem quando retorna, após a morte do corpo denso, ao plano espiritual, sente-se atemorizado diante do desconhecido. A vastidão cósmica o assusta, bem como a visão de Espíritos, mesmo os bons e sábios, pois crê estar frente a deuses e, por isso, refugia-se na choça que lhe serviu de moradia terrestre. Anseia por retornar à taba onde vivera e ao convívio dos seus e alimenta-se das vibrações dos que lhe são afins. Nestas condições estabelece-se nele o monoideísmo, isto é, idéia fixa, abstraindo-se de tudo o mais. O pensamento que lhe flui da mente permanece em circuito viciado, continuamente. É o monoideísmo auto-hipnotizante. Não havendo outros estímulos, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, tal como ocorre aos órgãos do corpo físico.

2º) Desencarnados, em profundo desequilíbrio, aspirando a vingar-se ou portadores de vicioso apego, envolvem e influenciam aqueles que lhes são objeto de perseguição ou atenção e auto-hipnotizam-se com as próprias idéias, que se repetem indefinidamente. Em conseqüência, os órgãos perispiríticos se retraem, por falta de função, assemelhando-se então a ovóides, vinculados às próprias vítimas que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, por sentirem culpa, remorso, ódio, egoísmo, externados em vibrações incessantes, sob o comando da mente. Configura-se, neste caso, a parasitose espiritual.

3º) Os grandes criminosos, ao desencarnar, ver-se-ão atormentados pela visão repetida e constante dos próprios crimes, vícios e delitos, em alucinações que os tornam dementados. Os clichês mentais que exteriorizam torna-lhes o fluxo do pensamento vicioso, resultando no monoideísmo auto-hipnotizante. E tal como nos casos anteriores, perdem os órgãos do corpo espiritual, transubstanciando-se em ovóides.

6. O COMBATE AO VAMPIRISMO
6.1. Reencarnações Expiatórias: são conseqüências da lei de ação e reação,
constituindo-se no recurso utilizado pela Providência para devolver o equilíbrio aos espíritos, quando a reconciliação pelo amor torna-se inviável. A família consangüínea é o instrumento utilizado pela Providência para promover o resgate dos espíritos envolvidos. Inicialmente, reencarna o que tiver mais méritos, sendo indicada para recebê-lo como mãe alguém que tenha débitos a serem resgatados relativamente à maternidade, uma vez que a gestação trará o desconforto gerado pelo assédio do vingador. Desde as primeiras ligações fluídicas do reencarnante ao corpo físico, passando pela infância, adolescência e até atingir a fase adulta, o espírito que retorna continua padecendo da influência de seu desafeto, que lhe permanece enlaçado pela força de sentimentos negativos. Mais uma vez o instituto da família é usado pela Providência para que o reencarnante, através de uniões conjugais provacionais, ofereça ao seu verdugo um novo corpo, como filho consangüíneo, para que o amor de paternal ou maternal o envolva e promova o resgate dos equívocos praticados no passado.

6.2. Transformação do Ser: A arma fundamental de combate ao vampirismo é a transformação do Ser, visando as melhores condições de seu campo eletromagnético. Assim, quem sofre com tal influência espiritual negativa pode dela se livrar através do serviço no bem, com a prática do amor ao próximo. Ao reconhecer sua culpa, pode começar a construir a cura reajustando-se e servindo como exemplo ao seu perseguidor.
      É conveniente recordar os ensinamentos de Kardec quando afirma que “os espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morreriam no meio desses fluidos porque Espírito não morre, mas uma força instintiva os manteriam afastados dali como a criatura terrena se afasta de um fogo muito ardente ou de uma luz muito deslumbrante.” (A Gênese, cap. XIV, item 11).
      Sem esta transformação, as tentativas externas de desligamento das entidades infelizes não encontram sucesso. Não adianta o trabalho de retirada dos vampiros, mesmo inconscientes, se o encarnado invoca mentalmente as entidades, atraindo-as novamente para o seu convívio. O mesmo pode ser dito com relação à doutrinação das entidades. Embora efetuada com perseverança e métodos precisos, a medida exige tempo e tolerância fraternal, podendo encontrar obstáculo no fato do encarnado haver se convertido em poderoso imã de atração.

6.3. Oração: A oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece é vibração, energia, poder. A prece provoca um estado psíquico que revela nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qualquer forma, pode emitir raios de espantoso poder. Toda criatura que cultiva a oração, com o devido equilíbrio do sentimento, transforma gradativamente, em foco irradiante de energias da divindade.
      No Capítulo IV da obra Missionários da Luz, há o relato da prece de Cecília, que rezando pelo esposo, é cercada por luzes sublimes, rogando pela iluminação do companheiro a que parecia amar infinitamente. Seu coração se transformava num foco ardente de luz, do qual saíam inúmeras partículas resplandecentes, projetando-se sobre o corpo e sobre a alma do esposo com a rapidez de minúsculos raios. Os corpúsculos radiosos concentravam-se em massa, destruindo as pequenas formas horripilantes do vampirismo devorador.

7. CASOS DE VAMPIRISMO NA LITERATURA ESPÍRITA.
      Além daqueles mencionados no decorrer do presente trabalho, a título de ilustração, são inúmeros os casos de vampirismo narrados na literatura espírita, com destaque para aqueles ilustrados por André Luiz:

Nosso Lar - Caso da mulher cercada de pontos negros, que, chegada do Umbral, implora socorro do outro lado da cancela. O socorro é negado, em virtude de tratar-se de um forte vampiro, cujos pontos negros representavam cinqüenta e oito crianças assassinadas ao nascer.

Obreiros da Vida Eterna - Cenas de vampirismo em uma enfermaria de hospital. "Entidades inferiores, retidas pelos próprios enfermos, em grande viciação da mente, postavam-se em leitos diversos, inflingindo-lhes padecimentos atrozes, sugando-lhes vampirescamente preciosas forças, bem como atormentando-os e perseguindo-os".

Nos Domínios da Mediunidade - (capítulo X) Caso da Jovem Parricida (pág. 71 a 79) e Caso Pedro (capítulo IX) “uma convulsão epiléptica o obsessor ligando-se a Pedro, seguindo-se convulsão generalizada tônico-clônica, com relaxamento de esfíncteres. O mentor Aulus afirma ser possessão completa ou epilepsia essencial e analisa que, no setor físico, Pedro está inconsciente, não terá lembrança do ocorrido, mas está atento em espírito, arquivando a ocorrência e enriquecendo-se.”

Libertação - (pág. 140 e 141) Caso da jovem Clorótica, que mantinha uma ligação mental com os seus obsessores, permitindo o domínio completo de sua mente, que utilizavam como se fosse a deles. Encontrava-se praticamente desapossada de seu livre-arbítrio e suas reações não mais lhe pertenciam, pois expressavam a vontade das entidades que funcionavam como seus algozes. E caso Margarida- Gregório (p. 110), onde o personagem Gregório vampiriza antiga companheira de nome Margarida, quando solicitado pelo mentor Gúbio a interromper a vampirização que colocava a vida de Margarida em perigo, afirma ter necessidade do alimento psíquico que só a mente de Margarida pode proporcionar.

Entre a Terra e o Céu - (cap. III) Caso Odila- Zulmira: A jovem senhora é Zulmira, e a irmã desencarnada que lhe vampiriza o corpo é Odila, a primeira esposa de Amaro, dolorosamente transfigurada pelo ciúme a que se recolheu. Empenhada em combater aquela que considera inimiga, imanta-se a ela, através do veículo perispirítico, na região cerebral, dominando a complicada rede de estímulos nervosos e influenciando os centros metabólicos, com o que lhe altera profundamente a paisagem orgânica.

No Mundo Maior - (pág. 37 a 74) Caso Pedro-Camilo, 20 anos sob a atuação de um único obsessor. Durante esse período, o quimismo espiritual ou a fisiologia do perispírito se desequilibrou e, conseqüentemente, desencadeou distúrbios orgânicos, entre os quais a ameaça de amolecimento cerebral.

8. CONCLUSÃO
     
 Dias da Cruz, no livro “Instruções Psicofônicas” Espíritos Diversos, através de mensagem psicografada por Francisco C. Xavier, afirma ser imperativo o uso dos antissépticos do Evangelho para garantir a higiene mento-psíquica. E prossegue:
      “Bondade para com todos, trabalho incansável no bem, otimismo operante, dever irrepreensivelmente cumprido, sinceridade, boa-vontade, esquecimento integral das ofensas recebidas e fraternidade simples e pura, constituem sustentáculo de nossa saúde espiritual.” (...) Procurando, pois, o Senhor e aqueles que o seguem valorosamente, pela reta conduta de cristãos leais ao Cristo, vacinemos nossas almas contra as flagelações externas ou internas da parasitose mental.”
      A prática do bem rompe os sentimentos inferiores, produzindo, além da própria transformação de quem o pratique, também a daqueles que a ele se agrega pelos vínculos do ódio e da vingança, pelo exemplo de fraternidade.
      Desse modo, os espíritos vingadores, ao encontrar a vítima transformada pelo esforço na prática do bem, da mesma forma como foram atraídos pelas suas fraquezas, serão contagiados pela nova situação e, em conseqüência, desestimulados a prosseguirem a perseguição.
      É possível concluir que pela prática da caridade, é possível obter a transformação moral necessária para se modificar e aos inimigos, evitando-se dolorosos resgates reparatórios.

Por Fernanda Louro Figueras
Fonte; http://www.mundoespirita.net/vampirismo.html

BIBLIOGRAFIA

O Espiritismo de A a Z, FEB
Evolução em Dois Mundos - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Missionários da Luz - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Nosso Lar - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Obreiros da Vida Eterna - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Nos Domínios da Mediunidade - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Libertação- FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Entre a Terra e o Céu - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
No Mundo Maior - FEB - F. C. Xavier / André Luiz
Estudando a Mediunidade- Martins Peralva
Revista Cristã de Espiritismo nº 12, páginas 30-32, Marlene Rossi Severino Nobre, Associação Médico-Espírita do Brasil
A Gênese, FEB, Allan Kardec
O Livro dos Médiuns, FEB, Allan Kardec
Instruções Psicofônicas- Espíritos Diversos, FEB- Francisco C. Xavier/ Dias da Cruz


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