quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História da Era Apostólica - Ainda a Síntese Cronológica

   Tiago, filho de Zebedeu, por Benvenuto Tisi de Garofalo

“Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos para trazerem à tona os erros do nosso tentame singelo. [...] e ao  pedantismo dogmático, ou literário, de todos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o espírito vivifica” 1

HAROLDO DUTRA DIAS

A tendendo ao alvitre de Simão Pedro, Barnabé convidou Paulo para os trabalhos promissores na Igreja de Antioquia.No artigo anterior [publicado em jan. 2010, p. 33-35], concluímos que, da data de sua conversão em Damasco até sua chegada em Antioquia, transcorreram seis longos anos (primeiro trimestre do ano 36 d.C. até o verão do ano 42 d.C.), nos quais o Apóstolo dos Gentios consolidou as profundas transformações que o encontro com Jesus lhe provocou.

Consoante os informes de Emmanuel e Irmão X:

[...] Ainda, aí, entrou a compreensão de Pedro para que não faltasse ao tecelão de Tarso o ensejo devido. Observando as dificuldades, depois de indicar
Barnabé para a direção do núcleo do “Caminho”, aconselhou-o a procurar o convertido de Damasco, a fim de que sua capacidade alcançasse um campo novo de exercício espiritual.

[...]

Pressuroso e prestativo, Saulo de Tarso em breve se instalava em Antioquia, onde passou a cooperar ativamente com os amigos do Evangelho. [...]2
Com efeito, daí a meses, um portador da igreja de Jerusalém chegava apressadamente a Antioquia, trazendo notícias alarmantes e dolorosas. Em longa missiva, Pedro relatava a Barnabé os últimos fatos que o acabrunhavam.
Escrevia na data em que Tiago, filho de Zebedeu, sofrera a pena de morte, em grande espetáculo público. [...]3(Grifo nosso.)
Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo infamante.(Grifo nosso.)

[...]

O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.4
Imensas surpresas aguardavam os emissários de Antioquia, que já não encontraram Simão Pedro em Jerusalém. As autoridades haviam efetuado a prisão do ex-pescador de Cafarnaum, logo após a dolorosa execução do filho de Zebedeu. [...]5

Nos capítulos 11, 12 e 13 do livro Atos dos Apóstolos encontramos uma descrição parcial dos fatos ocorridos durante a permanência do Apóstolo em Antioquia, entre eles a mudança do nome dos seguidores de Jesus, que passaram a se chamar “cristãos”, um ano depois da chegada de Paulo (Atos, 11:26); as previsões do profeta Ágabo a respeito dos martírios em Jerusalém (Atos, 11:28); o martírio de Tiago, filho de Zebedeu, e irmão de João Evangelista (Atos, 12:2); a prisão de Simão Pedro, a morte de Herodes (Atos, 12:3 e 23) e a viagem de Paulo e Barnabé a Jerusalém (Atos, 12:25).

Essa descrição parcial é bastante enriquecida com os dados trazidos pelo Benfeitor Emmanuel, no romance Paulo e Estêvão, permitindo-nos organizar um quadro razoavelmente detalhado do período.

Desse modo, conjugando as informações, é possível determinar que o martírio de Tiago  ocorreu, segundo o relato do Espírito Irmão X, onze anos após a crucificação. Em publicações anteriores demonstramos que a crucificação de Jesus se deu em abril/maio do ano 33 d.C.,6 portanto, Tiago morreu no ano 44 d.C.,7 data em que Simão Pedro escreveu a missiva para Barnabé, que se encontrava em Antioquia.



Herodes Agripa I, filho mais novo de Herodes Magno (Herodes, o Grande), foi condecorado com o título real pelo imperador romano Calígula no ano 37 d.C., mas somente reinou, efetivamente, a partir do ano 41 d.C. Os historiadores divergem quanto à data da sua morte, especulando que ela tenha ocorrido entre setembro/outubro de 43 d.C. e fevereiro de 44 d.C.

Harold Hoehner, em sua tese de doutorado intitulada Chronology of the Apostolic Age,8 postula que Herodes morreu no ano 44 d. C., apresentando diversas evidências documentais e arqueológicas bastante convincentes. Ademais, sua data se harmoniza perfeitamente com aquela informada pelo Espírito Irmão X.

Após o recebimento da carta de Simão Pedro, Paulo e Barnabé dirigiram-se a Jerusalém, onde foram  surpreendidos pela ausência do próprio Simão, que havia se retirado da cidade, em função da sua anterior prisão.

Não obstante, Barnabé e Paulo entregaram a coleta de donativos ao apóstolo Tiago, regressando a Antioquia profundamente impressionados com as mudanças ocorridas na Igreja de Jerusalém, que perdera suas características de simplicidade e independência.

O resumo das datas mencionadas neste artigo e no anterior pode ser conferido na tabela acima, enriquecida com outros eventos mencionados no livro Atos dos Apóstolos

Fonte: Reformador  Ano 128 • Nº 2. 171 • Fevereiro 2010

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Breve notícia, p. 10.
2Idem, ibidem. P. 2, cap. 4, p. 388.
3Idem, ibidem. p. 395.
 4XAVIER, Francisco C. Contos desta e doutra vida. Pelo Espírito Irmão X. 2. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 23. p. 111-112.
5Idem. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2007. P. 2, cap. 4, p. 396.
6Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, ano 126, n. 2.154, set. 2008, p. 33(351)-35(353).
7Consultar o artigo intitulado “A Igreja de Antioquia”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.167, out. 2009, p. 34(392)-36(394)
8O leitor não deve confundir essa tese de  doutorado, não publicada, com outro livro de Harold Hoehner intitulado Chronological Aspects of the Life of Christ, publicado pela Editora Zondervan, de caráter estritamente religioso. Sua tese de doutorado reúne todos os requisitos que uma obra acadêmica deve apresentar para ser aceita pelos especialistas da área, ao contrário do seu livro, acima citado, que foi dirigido ao público religioso.
9Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, ano 126, n. 2.154, set. 2008, p. 33(351)-35(353).
10Consultar o artigo intitulado “O primeiro Mártir”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.158, jan. 2009, p. 29(27)-31(29).
11Consultar o artigo intitulado “A Igreja de Antioquia”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.167, out. 2009, p. 34(392)-36(394).



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“Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos para trazerem à tona os erros do nosso tentame singelo. [...] e ao pedantismo dogmático, ou literário, de todos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o espírito vivifica.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

A simplicidade e humildade do Benfeitor espiritual Emmanuel pode levar o estudioso iniciante a crer que haja erros nas informações trazidas pelo romance histórico Paulo e Estêvão. Na época em que essa extraordinária obra veio a lume (1942), é certo que a maioria dos dados históricos, sobretudo aqueles relacionados à cronologia, estavam em discordância com as pesquisas bíblicas publicadas na primeira metade do século XX.

Ainda hoje, enciclopédias, dicionários bíblicos, artigos esparsos, produzidos por autores daquele período ou por pessoas que não atualizaram seus estudos, contêm dados, datas, informes diametralmente opostos ao daquela obra mediúnica. Por outro lado, a mais recente pesquisa acadêmica (1980-2009) parece confirmar cada detalhe deste romance espiritual, como se pode constatar do trabalho de John P.
Meier, E. P. Sanders, W. D. Davies, Craig Evans, Bruce Chilton, James H. Charlesworth, Joseph Fitzmyer, Barth Ehrman, David Flusser, Geza Vermes, Haroldo Hoehner, para citar apenas os mais conhecidos.

Temos abordado nesta coluna, ainda que de forma resumida e simples, as datas mais significativas do primeiro século do Cristianismo, conjugando essa recente pesquisa histórica com as revelações espirituais presentes na obra Paulo e Estêvão, no intuito de fornecer um quadro cronológico desse período, capaz de auxiliar o leitor na leitura e compreensão do Novo Testamento, em especial do livro Atos dos Apóstolos.

Nesse sentido, transcorridos mais de um ano desse esforço, sentimos necessidade de fornecer um resumo dos dados apresentados até o presente momento, na esperança de que essa “tabela cronológica” seja útil a todos que anseiam por uma compreensão mais precisa da “História da Era Apostólica”, com vistas a uma melhor apropriação do conteúdo espiritual da mensagem evangélica.

Naturalmente, não poderemos explicar meticulosamente todas as datas apresentadas, remetendo o leitor aos números anteriores da revista Reformador, onde poderão ser encontrados informes mais detalhados, com a dedução de cada data específica.

Todas essas datas são apresentadas com a menção da estação do ano correspondente, tendo em vista a impossibilidade, na maioria dos casos, de se fixar o dia e o mês exato do evento. Por esta razão, cumpre lembrar que nos países banhados pelo Mar Mediterrâneo o clima é muito semelhante, com verões secos e quentes e invernos moderados e chuvosos.
As estações do ano se dividem em dois grandes blocos: primavera–verão (abril–setembro) e outono inverno (outubro–março).

É importante ressaltar que o romance mediúnico Paulo e Estêvão representa uma espécie de “bastidores”, making-off do livro bíblico Atos dos Apóstolos, razão pela qual é indispensável sua leitura e citação. O fio condutor de toda a história apostólica se encontra em Atos dos Apóstolos e Emmanuel irá seguir esse roteiro de forma rigorosa.

A crucificação de Jesus se deu em abril/maio do ano 33 d.C.,2 ao passo que Pentecostes (Atos, 2) ocorreu cinquenta dias depois daquela data. Ainda nesse ano, Pedro discursou no Templo de Jerusalém (Atos, 3:1; 4:31).

No ano 34 d.C., Pedro fixa residência na cidade de Jerusalém, fundando a “Casa do Caminho”, primeiro núcleo cristão de assistência aos necessitados e divulgação do Evangelho. Por essa época, ocorreu a pitoresca morte de Ananias e Safira (Atos, 4:32; 5:11).

Os primeiros acontecimentos descritos no romance Paulo e Estêvão ocorreram na primavera/verão do ano 34 d.C., ocasião em que Jeziel (Estêvão) é levado cativo para as galeras romanas (outono de 34 d.C.), e acaba aportando doente em Jerusalém, sendo conduzido para a “Casa do Caminho” no inverno de 34/35 d.C., ou seja, final daquele ano e início do outro.

Nesse mesmo período, talvez, Pedro foi preso e discursou no Sinédrio (Atos, 5:12-42), sendo libertado em função da célebre intervenção de Gamaliel.

Na primavera do ano 35 d.C., Estêvão é nomeado para ser um dos sete trabalhadores que cooperariam com os Apóstolos nos trabalhos da igreja nascente (Atos, 6:1-7), sendo preso e apedrejado pouco tempo depois, no verão do ano 35 d.C.3 (Atos, 6:8; 7:60).

Decorridos oito meses da morte do primeiro Mártir, Saulo procura Abigail na pequena propriedade rural situada na estrada de Jope, surpreendendo-a em grave estado de saúde. Esse dramático encontro entre Saulo e Abigail só pode ter ocorrido no início do ano 36 d.C.4

Adentrando em Damasco, acometido de temporária cegueira, após a gloriosa visão do Cristo, o jovem Saulo sente que “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas”.5 A primavera tem início no mês de abril, quando cessam as chuvas.

Nesse caso, é plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que a conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do ano 36 d.C.6

Paulo pregando em Atenas (desenho animado para a Capela Sistina)

Após breve estada em Damasco, Paulo se retira para o deserto (Atos, 9:8-25; Gálatas, 1:15-18). O tempo de permanência do antigo doutor da lei no deserto de Palmira foi estabelecido de forma precisa: três anos (Gálatas, 1:17-18). Emmanuel confirma e esclarece detalhes sobre esse período. Durante sua estada no Oásis de Dan, Paulo foi surpreendido com a notícia da morte do seu grande orientador, Gamaliel.7

Ao retornar do Oásis de Dan, no deserto da Arábia, Paulo passa por Damasco (Gálatas, 1:17), de onde se retira às pressas, escondido em um cesto, tendo em vista a ordem de prisão contra ele expedida (Atos, 9:19-25).

A chegada de Paulo em Jerusalém (Atos, 9:26-29; Gálatas, 1:18--20) verificou-se num dia quente de verão, três anos após sua conversão em Damasco, ou seja, no verão do ano 39 d.C. Sua permanência na Judeia foi extremamente curta, pois se viu obrigado a fugir da perseguição dos membros da Sinagoga dos cilícios, após ter feito ardorosa pregação naquele local.8

Aconselhado por Simão Pedro, o tecelão fixou residência em sua cidade natal, Tarso (Atos, 9:30; Gálatas, 1:21), pelo período de três anos. Essas informações podem ser encontradas no romance Paulo e Estêvão:

[...] Saulo de Tarso, agora resistente como um beduíno, depois de agradecer a generosidade do benfeitor e despedir-se dos amigos com lágrimas nos olhos, tomou novamente o rumo de Damasco, radicalmente transformado pelas meditações de três anos consecutivos,passados no deserto.9 (Grifo nosso.)
Assim, durante três anos, o solitário tecelão das vizinhanças do Tauro exemplificou a humildade e o trabalho, esperando devotadamente que Jesus o convocasse ao testemunho.10 (Grifo nosso.)

Desse modo, a permanência de Paulo em Tarso se estendeu do verão do ano 39 d.C. ao verão do ano 42 d.C., “até que Barnabé o convidasse para os trabalhos promissores na Igreja de Antioquia”.11

Em resumo, da data de sua conversão em Damasco até sua chegada em Antioquia, transcorreram seis longos anos (primeiro trimestre do ano 36 d.C. até o verão do ano 42 d.C.), nos quais o Apóstolo dos Gentios consolidou as profundas transformações que o encontro com Jesus lhe provocou.

Fonte: Reformador  Ano 128 • Nº 2. 170 • Janeiro 2010

1XAVIER, Francisco C. Paulo e  Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. d. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Breve notícia, p. 10.
2Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, ano 126, n. 2.154, setembro de 2008, p. 33(351)-35(353).
3Consultar o artigo intitulado “O primeiro Mártir”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.158, janeiro de 2009, p. 29(27)-31(29).
4Consultar o artigo intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.160, março de 2009, p. 36(114)-37(115).
5XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 10, p. 250.
6Consultar o artigo intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.160, março de 2009, p. 36(114)-37(115)
7Consultar o artigo intitulado. “A preparação no deserto”, publicado a revista Reformador, ano 127, n. 2.162, maio de 2009, p. 34(192)-36(194).
8Consultar o artigo intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revista Reformador, ano 127,n.2.164,julho de 2009,p.34(272)-35(273).
9XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. P. 2, cap. 2, p. 320.
10Idem, ibidem. p. 385. 11Consultar o artigo intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.164, julho de 2009, p. 34(272)-35(273).


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“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”1
HAROLDO DUTRA DIAS

Na época de Jesus eram utilizados rolos de papiro ou de pergaminho para o registro de livros, cartas, documentos públicos ou privados. Havendo necessidade de uma cópia do original (autógrafo), recorria-se ao trabalho dos copistas profissionais, que estavam munidos de equipamento e técnica indispensáveis ao êxito da difícil empreitada.
Do contrário, o interessado deveria lançar-se ao trabalho meticuloso e exaustivo de produzir sua própria cópia, correndo o risco de perder o material, papiro ou pergaminho, por falhas no processo de escrita, acondicionamento ou preparo físico das tintas e dos rolos.
Ao longo dos séculos, os livros que compõem a coletânea chamada Novo Testamento (NT) foram copiados por milhares de pessoas nos mais diversos locais ao redor do Mar Mediterrâneo. A maior parte dessas cópias se perdeu, algumas por desgaste natural do material utilizado, papiro ou pergaminho, outras por ignorância do local onde foram guardadas pelos copistas.
Por volta do século XVIII, foram descobertos diversos locais naquela região onde estavam acondicionados manuscritos do Novo Testamento. Essas descobertas desencadearam verdadeira corrida em busca dos “papiros e pergaminhos” antigos.
Atualmente, estão catalogados cerca de 5.500 manuscritos gregos do NT, sem contar os manuscritos das traduções feitas ao longo dos séculos, tais como manuscritos da  Vulgata Latina, da versão Siríaca, Armênia, Egípcia (Copta), além das citações dos Pais da Igreja.
A catalogação e comparação desses manuscritos ganharam fôlego na década de 70, ocasião em que se reuniram os maiores especialistas do mundo para publicarem as duas edições críticas do texto grego do NT, uma, destinada aos tradutores (UBS), e outra, aos especialistas (Nestle-Aland).
As duas adotam o mesmo texto-padrão, variando apenas as notas de rodapé, que no caso da edição Nestle-Aland é mais robusta e completa.
A essa altura o leitor deve estar se perguntando: o que vem a ser uma “edição crítica”?
Antes de responder a essa aparentemente singela pergunta, convém esclarecer alguns pontos.
O ramo do conhecimento que lida com a comparação e catalogação de manuscritos antigos se chama “Crítica Textual”. O estudioso da área, por sua vez, é denominado “Crítico Textual”.
Considerando que a imprensa foi inventada somente no século XVI, não é difícil imaginar que, antes dessa data, há uma profusão de manuscritos, nas mais diversas línguas, de um número incalculável de autores. Existem os manuscritos gregos de Homero, Platão,
Aristóteles; os manuscritos em latim de Virgílio, Horácio, Santo Agostinho; os manuscritos egípcios, hindus, hebreus, chineses, entre outros. Em suma, toda a literatura antiga está preservada em cópias manuscritas.
Desse modo, os críticos textuais acabam se especializando em determinado autor e/ou livro, razão pela qual não devemos nos surpreender com a existência de especialistas em manuscritos do NT.
O primeiro trabalho de um crítico textual consiste na catalogação, datação, determinação da origem de cada manuscrito em particular que contenha determinado livro ou fragmento dele. Uma vez realizado esse trabalho preliminar, compete-lhe a explicação da história da transmissão daquele texto, separando os manuscritos por região, época, tipo de escrita, tradição textual.
Ao reconstruir a história da transmissão do texto, o crítico textual deve especificar quais são os manuscritos mais antigos, os mais completos, os mais bem redigidos, demonstrando como esses ancestrais chegaram até nós e quais cópias derivam deles, numa espécie de construção da árvore genealógica dos manuscritos.
Encerrado o trabalho de catalogação, inicia-se a comparação crítica de cada frase para se descobrir em quais pontos os manuscritos divergem. Essas divergências são conhecidas como “variantes textuais”.
Obtida a lista de variantes para cada frase do texto, no caso do NT para cada versículo, o crítico textual deve ser capaz de explicar a existência de cada uma em particular, apontando quais delas são alterações intencionais e quais são decorrentes de erro ou desatenção do copista.
A edição crítica de um texto  antigo, portanto, representa a definição do texto adequado, ou seja, aquele que melhor reflete o “texto original perdido (autógrafo)”, após catalogação e comparação do maior número possível de cópias manuscritas disponíveis, acompanhadas de notas de rodapé com as variantes textuais mais importantes.
Em se tratando de textos redigidos antes da invenção da imprensa, os especialistas utilizam apenas edições críticas, pois elas constituem um resumo de todo o material manuscrito disponível para determinado livro, possibilitando ao estudioso a comparação das variantes textuais e a reconstituição da história da transmissão daquele texto. É o caso do Novo Testamento, que dispõe de duas edições críticas, como já mencionado, cuja diferença reside apenas nas notas de rodapé, uma contendo mais variantes textuais do que a outra.
Considerando que essas duas edições críticas somente foram publicadas na década de 70, todas as traduções do NT feitas no século XX se baseiam nesse texto crítico da UBS//Nestle-Aland.
O estudo da edição crítica do texto grego do Novo Testamento nos permite compreender as variantes textuais de todos os versículos, para podermos avaliar de forma crítica quais foram introduzidas com interesse teológico e quais são resultado de simples erro dos copistas.
Por outro lado, é muito comum alguém dizer que determinado versículo foi acrescentado, mas sem embasamento da Crítica Textual, ou seja, sem dizer em quais manuscritos aquele texto está ausente, de modo a comprovar suas afirmações. Não vale apenas dizer algo, é preciso demonstrar mediante provas manuscritas a veracidade das afirmações.
Para tanto, é imprescindível conhecer a “edição crítica” a fundo.
É bom lembrar que é ilusão buscar o autógrafo (manuscrito original) dos textos antigos. No caso do Novo Testamento, nenhum original foi encontrado.
Todos os manuscritos que possuímos (5.500) são cópias feitas ao longo de 1.500 anos.
Esse fato, porém, não nos deve preocupar. Há livros antigos de autores famosos cujos manuscritos são escassos. Alguns deles contam com apenas dois ou três manuscritos descobertos, mas nem por isso duvida-se da autenticidade deles.
O Novo Testamento é o único livro antigo que conta com essa infinidade de cópias manuscritas, portanto, é o livro mais bem atestado da Humanidade. A imensidade de cópias, não obstante o trabalho que oferece aos estudiosos, representa nossa maior segurança, pois permite a definição do texto-padrão com muito mais segurança do que qualquer outro livro antigo.
Seguramente, foi a estratégia adotada pela Espiritualidade superior para preservação dos textos da segunda revelação.
Fonte: Reformador  Ano 128  Nº 2. 175 • Junho 2010


1DIAS,Haroldo D. (Tradutor). O novo testamento. Brasília: EDICEI, 2010. João, 8:32.



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História da Era Apostólica - Caminho para Deus

Adicionar legenda

“Eu sou o Caminho.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

Àvésperas da sua prisão no Getsêmani, o Mestre reuniu a pequena comunidade dos seus discípulos diletos, com desvelado carinho, revelando os ásperos testemunhos que os aguardavam, apontando as diretrizes do trabalho apostólico e consolando o coração aflito e temeroso dos seus seguidores.

Naquele momento, entregaria o Cristo aos homens a revelação inesquecível acerca da sua pessoa e missão: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”.1 O emissário celeste, com vistas à implantação do Reino de Deus no mundo, estabelecia o sublime roteiro, consubstanciado no seu Evangelho de Amor.

A presença do Cristo no Orbe era prova de que o Céu descera à Terra, vencendo gigantesco abismo, para revelar e provar a bondade e a misericórdia infinitas de Deus. Pelo trabalho infatigável de suas mãos augustas, surgira para a Humanidade o luminoso caminho entre o coração humano e o Pai. A comunhão da criatura com o Criador tornara-se uma realidade.

A comunidade cristã primitiva, incluindo os apóstolos, costumava utilizar em suas citações do Antigo Testamento uma versão grega, elaborada no século II a.C., conhecida como Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX).

Na Septuaginta, o vocábulo grego hodos (caminho) traduz a palavra hebraica derek (caminho). No sentido comum, esse termo indica o lugar no qual se anda, dirige ou marcha. Porém, desde a Antiguidade, a expressão é empregada em sentido figurado, significando “medidas, procedimentos, o meio de atingir o alvo, o estilo e modo de realizar algo”, ou ainda “o modo pelo qual se vive”.

Assim, hodos (caminho) pode significar os atos ou o comportamento dos homens, a forma como a vida é conduzida (Êxodo, 18:20). A vida como um todo, ou nos seus aspectos individuais, pode ser chamada “um caminho” (Salmos, 119:105; Isaías, 53:6).
Nesse contexto, a vida de uma pessoa pode ser qualificada de um modo positivo (Jeremias, 6:16; Provérbios, 8:20) ou de um modo negativo (Jeremias, 25:5; Provérbios, 8:13). O ponto de referência, no Antigo Testamento, para avaliar o caminho que o homem segue, é a vontade de Deus. Se o homem permite que a vontade Divina seja o fator determinante das suas ações, significa que anda no caminho de Deus. Caso contrário, ele apenas segue um caminho que escolheu para si (Jeremias, 7:23-24), que é o “caminho dos pecadores” (Salmos, 1:1). 

Por esta razão, os textos dos Profetas constituem um verdadeiro chamamento ao arrependimento dos maus caminhos (Jeremias, 25:5; Isaías, 55:7).  É nesse sentido que pode ser entendido o trabalho de João Batista como precursor, ou seja, aquele que prepara o caminho para Jesus, mediante o anúncio da vinda do Messias, e também, mediante o chamamento ao arrependimento.

Expressando esse ângulo do ensinamento, asseverou o Benfeitor Emmanuel:
Se o determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?

– O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para a comunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, o homem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesma lei, efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina.

Eis o mal.

Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.

Eis o resgate.


[...]
O Criador é sempre o pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando os filhos transviados como incursos em vastas experiências.
Mas, como Jesus e os seus prepostos são seus cooperadores divinos, e eles próprios instituem as tarefas contra os desvios das criaturas humanas, focalizam os prejuízos do mal com a força de suas responsabilidades educativas, a fim de que a Humanidade siga retamente no seu verdadeiro caminho para Deus.2 (Grifo nosso.)

Não é por outra razão que a expressão “andar nos caminhos do Senhor” significa, no Antigo Testamento, agir de acordo com a vontade de Deus, revelada em seus mandamentos, estatutos e ordenanças (1Reis, 2:3; 8:58).

A lei de Deus é chamada “o caminho do Senhor” (Jeremias, 5:4), e os Profetas se esforçam para convencer as pessoas da necessidade de sua observância, porque Israel sucumbe, vezes sem conta, à tentação de evitar as admoestações Divinas (Êxodo, 32:8; Malaquias, 2:8). Considerando-se as enormes dificuldades encontradas para manter-se fiel aos desígnios divinos, pode-se entender a euforia do salmista: “Guardei os caminhos do Senhor” (Salmos, 18:21).

Nessa linha interpretativa, Emmanuel assim se expressa:

A vida deveria constituir, por parte de todos nós, rigorosa observância dos sagrados interesses de Deus.3

É por essa razão que vemos o Messias coroando sua obra com o sacrifício extremo, tomando a cruz da ignomínia sem uma queixa, deixando-se imolar, sem qualquer reprovação aos seus algozes. Do cimo do madeiro, exemplificava a sua fidelidade a Deus, aceitando serenamente os desígnios do Céu, em testemunho sublime do seu inexcedível amor pelos rebeldes tutelados.

Na hora sombria da cruz, caminha humilde, coroado de espinhos, ensinando a renúncia por amor ao Reino de Deus, revelando à Humanidade o caminho da redenção.

Emmanuel, enfocando essa nuance do ensino, relata:

A localização histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da Vinha. O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos e estabelecer a luta salvadora para que os homens reconheçam a condição de eternidade que lhes é própria.4

Por fim, no Evangelho de João, a palavra hodos (caminho) se aplica à pessoa de Jesus, de modo sem igual no Novo Testamento. O discípulo amado registra para a posteridade as suaves exortações do Senhor, nos últimos instantes de sua presença física entre eles.

Mais uma vez, Emmanuel esclarece o tema:
Jesus é o nosso caminho permanente para o Divino Amor.
Junto dele seguem, esperançosos, todos os espíritos de boa vontade, derentes  sinceros ao roteiro santificador.
Dessa via bendita e eterna procedem as sementes da Luz Celestial para os homens [...]5

Não podemos nos esquecer.

Fonte: Reformador  Ano 127 • Nº 2. 161 • Abr i l 2009

1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. João, 14:6, p. 1879.
2XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 135.
3Idem. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 21.
4Idem, ibidem. Cap. 133, p. 282.
5Idem. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 25 


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