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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A “CIÊNCIA OFICIAL”


Questões acerca da natureza do Espiritismo - IV

Silvio Seno Chibeni

Neste artigo são tecidas algumas considerações acerca da ciência oficial ou acadêmica, que serão úteis para o esclarecimento de certas questões sobre a ciência espírita, nos artigos subseqüentes desta série.[1]

Questão:

Costuma-se dizer que a “ciência” aprova ou rejeita determinado ponto. O que devemos entender por isso? Existe realmente uma “posição oficial” da ciência? Nesse caso quais seriam os órgãos ou pessoas que poderiam ter tal prerrogativa, de determinar a posição oficial da ciência? Parece-nos que na época de Kardec essa frase normalmente se referia às grandes academias e aos órgãos oficiais dos estados europeus. Há hoje algo equivalente?

Resposta:

A autoridade de que a ciência desfruta hoje em dia entre o público em geral pode ser aquilatada pelo fato de ser freqüentemente explorada para induzir à aceitação de determinadas teses, processos, sistemas políticos, produtos de consumo, etc. Há um efeito quase que intimidador associado à rotulação de algo como ‘científico’. Bens de consumo variados, desde cremes dentais até sofisticados aparelhos eletrodomésticos são ditos terem sido elaborados por processos científicos, ou submetidos a testes científicos. Geralmente despreparadas para avaliar por si próprias se, em cada caso, a qualificação é ou não pertinente, as pessoas tornam-se vítimas de manipulações diversas.

Mesmo no plano das idéias e teorias – e isso é o que mais de perto nos interessa aqui –, a demanda por cientificidade é notória. Diversas disciplinas mais recentes na história do pensamento, ou menos seguras de seus fundamentos e métodos, procuram de alguma forma modelar-se pelas disciplinas mais estabelecidas e bem sucedidas, como a física, a química e a biologia, inquestionavelmente consideradas científicas. Em nome desse processo de modelagem, porém, têm-se produzido verdadeiras aberrações científicas, que retardam o desenvolvimento das disciplinas nascentes ou em vias de consolidação. Embora a proposta de aprender-se algo acerca da natureza da ciência, ou do chamado “método científico”, pela inspeção das disciplinas paradigmaticamente científicas seja adequada e mesmo indispensável, a falta de preparo filosófico tem amiúde levado ao seu fracasso parcial ou total.

Bastante diverso foi o resultado alcançado por Allan Kardec no desenvolvimento do Espiritismo. Possuidor de sólida formação filosófica e científica, ele soube imprimir às investigações dos novos fenômenos um cunho genuinamente científico, conforme procurei destacar nos artigos da lista de referências bibliográficas. A ciência espírita, cujos fundamentos ele lançou, têm por objeto de estudo o elemento espiritual do ser humano. Esse elemento manifesta-se em múltiplos fenômenos psicossomáticos, anímicos e mediúnicos, sendo estes últimos os que desencadearam as pesquisas iniciais e permitiram o estabelecimento das leis básicas da teoria.

Nos referidos trabalhos, argumento, ademais, que o Espiritismo constitui a única abordagem científica disponível para essa gama de fenômenos. As propostas alternativas surgidas após ele invariavelmente incorreram nas aludidas distorções de concepção, por falta, entre outras coisas importantes, de uma adequada percepção das diferenças de objetos de estudo relativamente às ciências exatas. Em sua lucidez, Kardec reconheceu-as prontamente, apontando-as em diversas de suas obras, como por exemplo no item 7 da Introdução de O Livro dos Espíritos e ao longo das primeiras partes de O que é o Espiritismo e O Livro dos Médiuns. Estruturou então a teoria espírita em conformidade com as peculiaridades dos fenômenos de que trata, conferindo-lhe, ademais, consistência lógica, simplicidade, poder explicativo, abrangência, coerência e integração harmônica com ciências limítrofes, atributos igualmente necessários para qualquer disciplina que queira fazer jus ao título de ‘científica’.

Feitas essas observações preliminares (que serão parcialmente desenvolvidas nos artigos restantes desta série), posso adentrar agora mais diretamente o tópico específico da pergunta formulada. Felizmente, posso poupar-me à maior parte da tarefa, recomendando ao leitor a consulta dos artigos de Aécio P. Chagas, “O que é a Ciência?” e “A Ciência confirma o Espiritismo?”, incluídos na lista de referências bibliográficas. Nesses trabalhos a questão da ciência oficial, relativamente aos interesses espíritas, foi tratada de modo seguro e esclarecedor. Não me cabe aqui reproduzir seu conteúdo. Limitar-me-ei a relembrar alguns dos tópicos principais da análise do Prof. Chagas, estendendo um pouco a discussão para responder de forma explícita a pergunta que foi feita.

Uma distinção importante destacada nos trabalhos mencionados é aquela entre “ciência-conhecimento”, “ciência-atividade” e “ciência-comunidade”. Quando se afirma que a ciência aprova isso ou aquilo, a frase é passível de dupla interpretação: Ou significa que a coisa faz parte (ou pode ser deduzida) do corpo teórico paradigmático de uma das ciências maduras (física, química e biologia); ou, em sentido secundário, que a comunidade científica tem uma opinião mais ou menos geral a seu respeito, embora ela ainda não faça parte de nenhuma teoria bem estabelecida.

A idéia de uma “posição oficial” da ciência só é razoável se entendida com referência às teorias que, à época, integram os paradigmas das ciências maduras. Felizmente, não existe na ciência um Conselho Supremo (como o de certas religiões, partidos ou governos) que decida qual é a ortodoxia. É inerente à natureza da ciência contemporânea a distribuição do poder de avaliação em múltiplas instâncias, entre as quais se encontram as academias, departamentos universitários, institutos de pesquisa, agências de fomento e, principalmente, os periódicos especializados.

Os profissionais acadêmicos não ignoram que os jornais e revistas especializados canalizam hoje o grosso da produção científica, possuindo complexo sistema de filtragem que em inglês se chama de “double-blind refereeing”: os trabalhos submetidos para publicação são enviados anonimamente a vários membros conceituados da própria comunidade científica, que os examinam criticamente e anonimamente. Teses discrepantes dos paradigmas que não sejam maciçamente apoiadas por evidências experimentais e argumentos racionais são barradas por esse sistema. Se quisermos, podemos dizer que conflitam com a “posição oficial”, mas apenas nesse sentido específico. Não estou afirmando que o sistema seja infalível, mas ao lado de procedimentos semelhantes de rigor na preparação de profissionais, contratação, etc., asseguram o rigor das teorias, técnicas e processos da ciência, possibilitando o seu progresso seguro.

No tempo de Kardec as publicações periódicas eram em número bem menor e não haviam ainda assumido o papel central que desempenham hoje; o conhecimento científico era veiculado principalmente em livros e memórias, publicados sob iniciativa individual ou das academias. Estas últimas ocupavam, conforme se sugere na pergunta, um papel muito importante; as instâncias avaliatórias da ciência eram, pois, mais centralizadas. Não raro isso deu margem a abusos e decisões erradas, como aliás observou Kardec várias vezes, ao discutir o caráter falível das corporações científicas. Hoje abusos e erros naturalmente ainda ocorrem, porém são geralmente detectados com mais facilidade pela enorme e integrada malha da comunidade científica.

* * *

O próximo artigo examinará alguns aspectos das relações entre a ciência espírita e as ciências acadêmicas, destacando-se a esclarecida e firme postura de Allan Kardec a esse respeito.

Referências:

(Vários destes artigos encontram-se, ao lado de outros sobre temas correlacionados, disponíveis no site do Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp: http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482.)
CHAGAS, A. P. “O que é a Ciência?”, Reformador, março de 1984, p. 80-83 e 93-95.
––. “A Ciência confirma o Espiritismo?”, Reformador, julho de 1995, p. 208-11.
CHIBENI, S. S. “Espiritismo e ciência”, Reformador, maio de 1984, p. 144-47 e 157-59.
––. “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, p. 328-333, e dezembro de 1988, p. 373-378.
––. “Ciência espírita”, Revista Internacional de Espiritismo, março 1991, p. 45-52.
––. “O paradigma espírita”, Reformador, junho de 1994, p. 176-80.

Notas

[1] O conteúdo do texto corresponde, com várias adaptações, a parte de entrevista concedida por mim ao GEAE (Grupo de Estudos Avançados de Espiritismo), pioneiro na divulgação do Espiritismo pela Internet. A entrevista foi publicada no Boletim n. 300 (edição extra), que circulou em 7/7/1998, podendo ser encontrado no site http://www.geae.org. Gostaria de agradecer ao GEAE a anuência para o aproveitamento do material nesta série de artigos. Sou especialmente grato aos seus membros Ademir L. Xavier Jr., pela iniciativa da entrevista, e Carlos A. Iglesia Bernardo, por haver reunido as relevantes e oportunas questões.

Artigo publicado em Reformador, outubro de 1999, pp.


Leitura  Recomendada;

AS PROVAS CIENTÍFICAS
CIÊNCIA ESPÍRITA
ALGUMAS ABORDAGENS RECENTES DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS
A PESQUISA CIENTÍFICA ESPÍRITA
AS RELAÇÕES DA CIÊNCIA ESPÍRITA COM AS CIÊNCIAS ACADÊMICAS
A RELIGIÃO ESPÍRITA
REVISÃO DA TERMINOLOGIA ESPÍRITA?
O ESPIRITISMO EM SEU TRÍPLICE ASPECTO: CIENTÍFICO, FILOSÓFICO E RELIGIOSO 1
POLISSEMIAS NO ESPIRITISMO
AS ACEPÇÕES DA PALAVRA ‘ESPIRITISMO’ E A PRESERVAÇÃO DOUTRINÁRIA
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES OPORTUNAS SOBRE A RELAÇÃO ESPIRITISMO-CIÊNCIA
POR QUE ALLAN KARDEC?
O PARADIGMA ESPÍRITA
A EXCELÊNCIA METODOLÓGICA DO ESPIRITISMO
http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2015/01/a-excelencia-metodologica-do-espiritismo.html

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

AS ACEPÇÕES DA PALAVRA ‘ESPIRITISMO’ E A PRESERVAÇÃO DOUTRINÁRIA


Questões acerca da natureza do Espiritismo - I

Silvio Seno Chibeni

A série de artigos que ora se inicia reproduz, com algumas adaptações formais e de conteúdo, entrevista concedida por mim ao GEAE (Grupo de Estudos Avançados de Espiritismo), pioneiro na divulgação do Espiritismo pela Internet. As questões originaram-se em debates do Grupo, tendo sido reunidas por Carlos Alberto Iglesia Bernardo.[1]

Os dois primeiros artigos versam sobre certos problemas terminológicos, o terceiro sobre a religião espírita e os quatro restantes sobre vários aspectos das relações entre o Espiritismo e a ciência. A exposição em forma de perguntas e respostas será mantida, por motivos didáticos.

Questão:

Existe um problema de significado de palavras que tem gerado alguma confusão até mesmo em meios espíritas. Trata-se da interpretação da própria palavra ‘Espiritismo’. Há os que interpretam a palavra em sentido amplo, como significando o estudo dos fenômenos mediúnicos e das comunicações com os Espíritos, sem referência necessária à codificação de Kardec. Outros são da opinião de que a palavra ‘Espiritismo’ refere-se apenas à doutrina codificada por Allan Kardec, empregando-se para outras noções expressões como ‘novo espiritualismo’ ou ‘espiritualismo moderno’, ‘umbanda’, ‘candomblé’, etc. Neste caso, as expressões ‘Espiritismo kardecista’ e ‘Espiritismo cristão’ serviriam apenas para dar ênfase a idéias embutidas na própria palavra ‘Espiritismo’, sendo pois redundantes. Como vê essa questão?

Resposta:

A palavra ‘Espiritismo’ tem realmente sido utilizada com acepções bastante diversas. Trata-se de um fato comum em toda linguagem natural; somente em linguagens artificiais, como certas linguagens da lógica e da matemática, consegue-se evitar a polissemia.[2] As palavras, quer escritas, quer faladas, são símbolos com os quais representamos idéias ou conceitos. Essa relação de representação é arbitrária, ou seja, associamos tal palavra a tal idéia de forma inteiramente livre e convencional.

A necessidade de comunicação, que constitui o principal objetivo da linguagem, recomenda-nos, no entanto, entrarmos em acordo com os outros integrantes de nossa comunidade lingüística acerca dessas convenções, para se evitarem desentendimentos semânticos. Nas linguagens ordinárias tal acordo estabelece-se de forma natural e muitas vezes inconsciente, possibilitando um razoável grau de comunicação, pelo menos quanto às noções do dia-a-dia. Quando surgem noções novas e complexas, porém, costuma ocorrer um período de indefinição ou confusão, que pode se prolongar muito, se não tomarmos as providências cabíveis, para que todos utilizem as mesmas palavras para designá-las.

Quando Allan Kardec deu início a uma nova abordagem dos fenômenos mediúnicos e anímicos – que sempre existiram, naturalmente –, preocupou-se com esse ponto. Percebendo que o desenvolvimento de uma nova teoria tipicamente envolve a criação de novos conceitos, cunhou diversos termos, nos casos em que se fazia absolutamente necessário, como ‘Espiritismo’, ‘espírita’, ‘perispírito’, ‘mediunidade’ e outros tantos, utilizados, por exemplo, para designar diversas noções da teoria dos processos mediúnicos. Fez isso de forma deliberada e explícita, em diversas de suas obras. Além desses neologismos, a teoria espírita exigiu a alteração dos significados de muitas palavras já em uso, como é o caso de ‘Deus’, ‘anjo’, ‘demônio’, ‘céu’, ‘inferno’, ‘bem’, ‘mal’, etc. Nesses casos também Kardec indicou claramente as novas acepções dadas aos vocábulos.

Não obstante todas as precauções tomadas por Kardec, é inegável que muitas das palavras cuja acepção ele procurou fixar a bem da inteligibilidade vêm sofrendo desvios de significado por vezes bastante grandes, como se ressalta corretamente na questão, relativamente à própria palavra ‘Espiritismo’. Fatos desse gênero ocorrem também nas diversas disciplinas acadêmicas, porém em menor escala, dadas as peculiaridades das correspondentes comunidades lingüísticas, formadas por indivíduos que passaram por longo e rigoroso (idealmente!) processo de formação. No caso do Espiritismo, porém, não há e nem deve haver uma formação oficial dos espíritas. A preservação doutrinária e, por conseguinte, lingüística, do Espiritismo fica, assim, na dependência do empenho de cada pessoa e de cada instituição (centro, federação, editora, associação) em estudar profundamente os textos básicos, mantendo-os constantemente como referência ou paradigma, ainda que complementações e ajustes periféricos se façam eventualmente necessários. [3]

Ora, é isso o que pouco se vê no movimento espírita atualmente. Nem todos lêem; poucos estudam; raros compreendem. Faltam reuniões de estudo de Espiritismo em muitos centros. Editoras, revistas e jornais proliferam em grande número, muitas vezes publicando sem critérios doutrinários rigorosos. O resultado não poderia ser outro: confusões, desorientações e disputas muito freqüentes.

O que fazer? Um pouco de reflexão mostra que os problemas de linguagem do movimento espírita não podem ser resolvidos com imposições deste ou daquele teor, ou de apelo a dicionários. Os filósofos contemporâneos têm ressaltado que o conteúdo semântico do vocabulário de uma disciplina pode ser delimitado por meio de definições explícitas, mas apenas parcial e preliminarmente. O que confere significado completo e estável às palavras é sua utilização em corpos teóricos coerentes e com potencial elucidativo de uma determinada gama de fenômenos. Considere-se, por comparação, as definições de ‘massa’, ‘força impressa’, ‘inércia’, etc. que Newton fez figurar no início de sua monumental obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (1687). É claro que elas servem para indicar algo, porém se forem isoladas da teoria mecânica desenvolvida no restante do livro perderão inteligibilidade e conteúdo cognitivo. Tomando agora um exemplo negativo, analisem-se as propostas de investigação que surgiram com a pretensão de substituir o Espiritismo, como a metapsíquica e a parapsicologia. À falta de teorias completas e coerentes – pois que não as têm – tais disciplinas viram-se e ainda vêem-se a braços com notória proliferação terminológica que, não obstante sua complexidade, pouco parece contribuir para a veiculação de conceitos inteligíveis, com conteúdo empírico (isto é, que expressem a realidade dos fatos) e fertilidade heurística (ou seja, que contribuam para o desenvolvimento do conhecimento).

No caso do Espiritismo, Kardec e alguns dos seus continuadores mais lúcidos trataram de desenvolver o arcabouço lingüístico simultaneamente com uma teoria dotada de todas as principais características de uma boa teoria científica, e na medida estrita da necessidade de expressão simbólica dos conceitos envolvidos. Desse modo, para o estudioso atento e esclarecido do Espiritismo não há lugar para dúvidas e mal-entendidos acerca das palavras, noções e princípios fundamentais. As confusões que se notam nos meios espíritas ou semi-espíritas não provêm de falhas estruturais ou conceituais no programa de pesquisa espírita iniciado por Kardec, mas da falta de preparo e de estudo sério, conforme já ressaltei. O remédio é, pois, único e fácil de encontrar, mas de difícil aplicação. Requer-se uma mudança de atitude intelectual e prática, que começa pelo reconhecimento do valor paradigmático das realizações de Kardec, passa pela disposição de colocar a doutrina acima de vaidosas concepções pessoais e falsas necessidades de modernização, e culmina com a instituição de uma política sistemática e pertinaz de valorização do estudo e do rigor doutrinário. (É justo registrar aqui que é ao longo dessas linhas que se vem pautando a atuação de diversos indivíduos e instituições respeitáveis no movimento espírita, do tempo de Kardec aos nossos dias, cabendo destacar, por seu vulto e ancianidade, as contribuições da Federação Espírita Brasileira.)

Para finalizar, retomo de forma mais tópica a questão formulada. O bom senso indica que se deve reservar a palavra ‘Espiritismo’ para designar aquilo para que foi cunhada, ou seja, a doutrina, teoria, paradigma, ou programa de pesquisa iniciado por Kardec. Devemos notar que já na primeira edição do Livro dos Espíritos (1857) Kardec traça a distinção clara entre o espiritualismo e a doutrina espiritualista específica cujos fundamentos essa obra estava lançando – o Espiritismo. Dada a importância do assunto, Kardec aborda-o já no primeiro parágrafo da Introdução. Quando essa Introdução é reformulada e ampliada, na segunda edição (1860), o trecho em questão é mantido quase sem alteração, figurando ainda no parágrafo inicial do livro, valendo a pena ser relido:

Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.

Essas considerações são de uma clareza impressionante. Agora se outras pessoas utilizam a palavra ‘Espiritismo’ com acepções diversas da original, para designar, por exemplo, o espiritualismo ou o “novo espiritualismo”, ou seitas mediunistas afro-brasileiras, não podemos obrigá-las a empregar outras palavras, dado o respeito que devemos ter pela liberdade de expressão. Notando, porém, que existe uma dependência da preservação semântica de uma teoria relativamente à integridade do próprio conteúdo da teoria, vemos que a única medida eficaz que podemos tomar é a de zelar pela preservação da teoria espírita e insistir no uso original do termo ‘Espiritismo’ (e cognatos) em todas as ocasiões que se nos deparem, fazendo ver as diferenças doutrinárias existentes entre as abordagens.

Há, ou podem ser criadas, palavras em número suficiente para designar sem ambigüidade todas as teorias, doutrinas ou seitas. Não creio que devamos apelar para artifícios aparentemente mais fáceis, como o de acrescentar adjetivos diversos (‘kardecista’, ‘cristão’, etc.) ao termo ‘Espiritismo’. Se descuidarmos da preservação doutrinária nas instituições e publicações, tais expressões sofrerão, a seu turno, desvios de significado, que terão de ser corrigidos novamente com mais acréscimos, num processo sem fim certo.

* * *

No próximo artigo desta série será analisada criticamente a proposta de revisão de certos termos utilizados no Espiritismo, que alguns alegam ser necessária para a “modernização” da doutrina ou para sua “adaptação” ao progresso da ciência.

Referências:

(Estes artigos e outros que tratam de assuntos correlacionados estão disponíveis também na Internet. Consulte-se o site do Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp: http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482.)

CHAGAS, A. P. “Polissemias no Espiritismo”, Revista Internacional de Espiritismo, setembro de 1996, p. 247-49.
CHIBENI, S. S. “Por que Allan Kardec?” Reformador, abril 1986, p. 102-3.
––. “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, p. 328-333, e dezembro de 1988, p. 373-378.
––. “O paradigma espírita”, Reformador, junho de 1994, p. 176-80.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
XAVIER Jr., A. L. “Algumas considerações oportunas sobre a relação Espiritismo-Ciência”, Reformador, agosto de 1995, p. 244-46.

Notas

[1] A entrevista foi publicada no Boletim n. 300 (edição extra), que circulou em 7/7/1998, podendo ser encontrado no site http://www.geae.org. Gostaria de agradecer ao GEAE a anuência para o aproveitamento do material nesta série de artigos. Sou especialmente grato aos seus membros Ademir L. Xavier Jr., pela iniciativa da entrevista, e Carlos A. Iglesia Bernardo, por haver reunido as relevantes e oportunas questões. Nas transcrições de trechos das obras clássicas de Allan Kardec utilizei as excelentes traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira, confrontando-as com os originais franceses.

[2] Um termo polissêmico é aquele que possui mais de um significado. Para um exame de alguns termos que têm sido empregados polissemicamente em textos espíritas, com efeitos negativos, ver o artigo de Aécio P. Chagas, “Polissemias no Espiritismo”. Consulte-se também o artigo de Ademir L. Xavier Jr. citado na lista de referências bibliográficas.

[3] Para uma análise da noção de paradigma e de seu papel na ciência e no Espiritismo, veja-se o artigo “O paradigma espírita”, citado na lista de referências bibliográficas. A solidez científica e filosófica dos fundamentos lançados por Kardec é abordada no texto “A excelência metodológica do Espiritismo”. Consulte-se também, a esse respeito, o artigo “Por que Allan Kardec?”.

Artigo publicado em Reformador, julho de 1999, pp. 212-214.


Leitura  Recomendada;

AS PROVAS CIENTÍFICAS
CIÊNCIA ESPÍRITA
ALGUMAS ABORDAGENS RECENTES DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS
A PESQUISA CIENTÍFICA ESPÍRITA
AS RELAÇÕES DA CIÊNCIA ESPÍRITA COM AS CIÊNCIAS ACADÊMICAS
A “CIÊNCIA OFICIAL”
A RELIGIÃO ESPÍRITA
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O ESPIRITISMO EM SEU TRÍPLICE ASPECTO: CIENTÍFICO, FILOSÓFICO E RELIGIOSO 1
POLISSEMIAS NO ESPIRITISMO
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES OPORTUNAS SOBRE A RELAÇÃO ESPIRITISMO-CIÊNCIA
POR QUE ALLAN KARDEC?
O PARADIGMA ESPÍRITA
A EXCELÊNCIA METODOLÓGICA DO ESPIRITISMO
http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2015/01/a-excelencia-metodologica-do-espiritismo.html

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES OPORTUNAS SOBRE A RELAÇÃO ESPIRITISMO-CIÊNCIA


Ademir L. Xavier Jr.

1 - Considerações Iniciais:

A nosso ver, têm ocorrido recentemente alguns abusos que se exteriorizam na forma de afirmações, que acreditamos um tanto descabidas, publicadas em diversos periódicos espíritas e obras diversas. Elas são todas concernentes ao contexto em que o Espiritismo pode ser (pretensamente) inserido no conjunto das ciências modernas. Tais abusos tentam, de uma maneira algo desesperada, não só estabelecer uma possível conexão entre o Espiritismo e as demais ciências ordinárias (principalmente a Biologia, Química e notadamente a Física) como também justificar a Doutrina Espírita diante de tais disciplinas. Nosso objetivo aqui é estabelecer as causas principais de tal movimento, apontando sua prescindibilidade e seu aspecto prejudicial ao Movimento Espírita.

O que move a tentativa acima mencionada de justificar a importância do Espiritismo via ciência, bem como sua possível interpretação científica diante de outras doutrinas científicas são, basicamente, a falta de compreensão do aspecto científico real do Espiritismo, a ignorância em relação ao verdadeiro significado da Ciência (como ela opera e se estabelece) e, de algum modo, um certo gosto por novidades, modernismos e fatos extraordinários.

O aspecto científico do Espiritismo anunciado por Kardec está, ao que parece, longe de ser compreendido em sua última expressão dentro do atual Movimento Espírita. Não compreendendo os ingredientes essenciais e suficientes que identificam uma doutrina como sendo genuinamente científica (ingredientes que o Espiritismo possui completamente), busca-se uma adequação da Doutrina Espírita dentro dos moldes do puro empirismo, ou de outra forma, lançando mão de argumentos em torno do indutivismo ingênuo. Há, de uma maneira ou de outra, um forte apelo ao senso comum.

Para avaliarmos completamente o aspecto científico do Espiritismo é necessário o emprego da análise moderna da Filosofia, mais precisamente o ramo que estuda a teoria do conhecimento científico ou Epistemologia da Ciência. Não entraremos aqui nos detalhes dessa análise, aliás um tanto complexa, afirmamos apenas que tal estudo já pode ser encontrado, e indicamos ao leitor o lugar onde encontrá-lo (ver Chibeni 1988 e 1994).

Uma possível fonte de confusão entre a relação Espiritismo e as demais ciências é gerada, muitas vezes, pela falta de significado preciso para certas palavras. Os exemplos são muitos, um clássico é o da palavra energia. Há diversos significados ligados a essa palavra, e é necessário imenso cuidado em se especificar claramente tais significados. Na Física Clássica, por exemplo, ela designa uma qualidade inerente aos corpos materiais, que permanece latente até que certas condições sejam satisfeitas. Não é infreqüente o uso do termo energia por diversos autores espirituais, mas nesse caso, nenhuma tentativa de associação direta com o significado implicado pela Física pode ser inferido. Existem, entretanto, muitos autores (encarnados, é claro!) que parecem confundir, não poucas vezes, as duas acepções possíveis, sugerindo uma tradução da energia de que falam os Espíritos em termos da energia usada na Física, nossa velha conhecida.

De outras vezes, a precipitada justificativa científica do Espiritismo segue a freqüente moda de justificação científica feita em outras doutrinas, como por exemplo a Teosofia e doutrinas orientalistas (ver, por exemplo, Phillips 1980). Essa justificativa caracteriza-se por uma tentativa de inserção de certas idéias religiosas, na maioria das vezes de origem oriental, no contexto de recentíssimas descobertas ou modelos da Física contemporânea. É natural que haja pessoas que pensem ser necessário o mesmo procedimento com o Espiritismo. Não compreendem, entretanto, que a Doutrina Espírita já possui uma base científica própria, e que a natureza do fenômeno que ela estuda, bem como o estado atual de nosso conhecimento sobre a matéria não permitem uma conexão tão direta entre a Física, por exemplo, e o Espiritismo. Além disso, é necessário que se saiba que muitos dos modernos modelos da Física (como exemplo, o diversos modelos teóricos de interação entre partículas e campos no microcosmo) sofrem radicais revisões todos os dias. O Espiritismo, por sua vez, tem uma estrutura muito mais estável, porque repousa em fenômenos de caráter mais diretamente observável, sendo suas afirmações de muito maior confiança7. É certo que o Espiritismo guarda uma relação com as outras ciências, mas os fatos espíritas, por si sós, já asseguram uma especial independência de seu objeto de estudo com o das demais ciências materiais. Não obstante, essa independência foi muito bem identificada e analisada por Kardec em O que é o Espiritismo.

Dentro do Movimento Espírita, muitas vezes a anunciação de descobertas gerais das ciências materiais (como a Física, com seus novos modelos acerca do funcionamento do Universo) é feita, em geral, tendo por base obras de divulgação científica (ver Chagas 1995) que, a nosso ver, pecam por falta de precisão da discussão das idéias, sem contar com a dificuldade inerente de se expressarem conceitos altamente abstratos, muitas vezes (como, por exemplo, a unificação do espaço e do tempo em um contínuo quadri-dimensional, a dilatação do tempo, etc., da Teoria da Relatividade Restrita) em termos de uma linguagem mais acessível ao leigo. Isso implica, idealmente, a tentativa de fazer o não especialista compreender plenamente tais conceitos, tais quais são dentro da teoria em que estão inseridos. É bastante clara a impossibilidade de tal tentativa. Se desprezarmos os erros grosseiros de tradução que muitos textos de divulgação trazem, quando de origem estrangeira, concluímos que eles podem, no máximo, passar ao leitor não especialista uma idéia vaga de tais conceitos. Ora, assim sendo, uma importante questão seria: Que valor pode ter a tentativa de se relacionar conceitos e fundamentos das ciências ordinárias com fundamentos importas de Doutrina Espírita, quando tal intento é feito tão-só baseando-se em textos de propaganda científica? A precariedade de tradução, a dificuldade de expressão apropriada dos conceitos, bem como a transitoriedade das teorias que tais textos podem trazer são suficientes para termos uma idéias clara da resposta a essa questão.

Relacionada à dificuldade de entendimento do aspecto científico real do Espiritismo está a profunda falta de informação existente nos meios espíritas ( o que é, no nosso entender, bastante natural) e, por que não dizer, acadêmicos (o que já não parece tão natural assim), em torno do conceito de Ciência. Mais uma vez, um apelo à Epistemologia se faz necessário (ver Chibeni 1988 e 1994, Chalmers 1976). As implicações dessa ignorância são as eternas e mal fundamentadas críticas ao Espiritismo feitas por diversas escolas parapsicológicas e demais adeptos das denominadas "ciências psi" (Chibeni 1988). Esses rejeitam, explicitamente, a idéia do Espírito como causa envolvida em grande parte, se não em todos, dos posteriormente denominados "fenômenos paranormais". Assim agindo, queremos deixar claro ao leitor, tais escolas são levadas por uma idéia ultrapassada de Ciência, bem como por concepções obsoletas do método científico.

2 - Um Exemplo:

Um exemplo um tanto exagerado das confusões com relação às questões expostas anteriormente pode ser encontrado no artigo "Matéria e antimatéria" (Reformador, abril 1994). O autor inicia dizendo que "a ciência terrestre chama de matéria tudo o que tem energia e massa, é sólido (...) ou fluídico (...) e ocupa lugar no espaço e no tempo". Essa afirmação, de caráter geral, confere à matéria determinadas propriedades como, por exemplo, massa, mas não pode ser usada para caracterizar certos tipos de matéria no universo. O ponto crítico está onde é afirmado:

"É de antimatéria o plano vital em que se movem os Espíritos desencarnados."

E, mais abaixo:

"É pela diferença de sinalização de carga elétrica dos elementos que formam o 'plano invisível' que, em condições normais, não o percebemos fisicamente."

Em nenhum lugar dentro da bibliografia espírita, escrita por autores abalizados e de peso, podem ser encontradas ou sequer deduzidas tais afirmações. Muito ao contrário, das obras de Kardec tem-se claramente que o mundo espiritual constitui um universo paralelo, totalmente independente do material, tanto que, ainda que o mundo material perecesse, o espiritual continuaria existindo. Isso porque matéria e espírito são dois princípios independentes no universo com uma origem desconhecida. As questões 25, 26, 27, 84, 85 e 86 de O livro dos Espíritos, são suficientes para esclarecer quaisquer dúvidas. Vejamos, por exemplo, a questão 86:

"O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita?

Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem."

Por outro lado, o que a Física estabelece como certo com respeito à antimatéira torna absurdas as afirmações propostas acima relacionadas ao mundo espiritual. Conforme H. Alvén (1965), que foi ganhador do Prêmio Nobel em 1970, em "Propriedades da Antimatéria":

"A teoria de Dirac do elétron e a descoberta do pósitron criou a crença de que toda partícula possui sua correspondente antipartícula. Essa crença foi confirmada pela descoberta do antipróton. Todas as outras partículas parecem Ter também antipartículas. Disso se conclui que os "antiátomos" devem existir, e são semelhantes aos átomos ordinários, com núcleos formados de antiprótons e nêutrons envoltos por pósitrons. Tais antiátomos devem Ter as mesmas propriedades dos átomos ordinários. Eles devem formar compostos químicos similares aos compostos químicos ordinários, que emitem linhas espectrais a exatamente os mesmos comprimentos de onde dos átomos ordinários." (Grifo nosso.)

Assim sendo, as propriedades da antimatéria são as mesmas da matéria ordinária, ou, em outros termos, antimatéria é o nome dado a um tipo especial da matéria! Por outro lado, a existência da antimatéria foi confirmada experimentalmente 10, assim como a impossibilidade de coexistência simultânea de matéria e antimatéria. Essa é, também, a causa da inexistência natural de antimatéria em nosso mundo. Está claro, entretanto, que de nenhum lugar, nem do atual conhecimento da Física, nem da Doutrina Espírita, semelhantes afirmações podem ser inferidas.

3 - A Não Necessidade e os Perigos:

Do que foi exposto, é bastante óbvio que as tentativas de inserção do Espiritismo no contexto das modernas teorias científicas, bem como sua justificação diante da academia estabelecida, o que visa um tanto à sua valorização, são totalmente desnecessárias. De fato, elas são desnecessárias porque, tendo como objetivo de estudo algo que não se identifica como sendo a matéria ordinária, o Espiritismo consegue suficiente independência com relação às demais doutrinas científicas que estudam a matéria, para caracterizar-se como um ramo independente de conhecimento. Não só por isso, pelo caráter harmônico com que os princípios espíritas interagem entre si, fruto de sua boa fundamentação, pela maneira com que estão estabelecidos tais princípios e por suas bases experimentais, pode-se considerar a Doutrina Espírita como uma teoria genuinamente científica no sentido epistemológico moderno. Essa doutrina tem como objetivo o estudo do elemento espiritual, e não se confunde de nenhuma maneira com as demais ciências, embora guarde alguma relação com elas. Lembramos, também, que Allan Kardec jamais se atreveu a tentar interpretar os novos conceitos que descobriu de acordo com os conhecimentos científicos de sua época. Se o tivesse feito, não sabemos quais teriam sido as conseqüências, desastrosas com certeza, ao posterior desenvolvimento e expansão da Doutrina Espírita.

Os prejuízos de uma campanha indiscriminada que visa a ressaltar ou inferir precipitadamente semelhante relação podem ser facilmente previstos. Tais prejuízos podem não ser grandes para aqueles que já possuem um conhecimento considerável do corpo doutrinário espírita, mas o que dizer dos iniciante? Quantas confusões totalmente desnecessárias podem ser evitadas nas mente dos principiantes em Espiritismo se certas afirmações simplesmente não forem feitas? Acreditamos não serem poucas.

O verdadeiro trabalho espírita está no aprimoramento do espírito humano em sua bagagem moral, na sublimação dos instintos humanos, vertendo-os em valores divinos, em suma, no progresso moral do mundo. Para isso, sim, o estudo acurado e cauteloso é imprescindível. Também por isso, experimentações científicas detalhadas no campo espírita só podem ser feitas com a expressa colaboração do Plano Espiritual superior que, para isso, exige uma definitiva demonstração desses valores divinos em nós. (Ver No Mundo Maior, de André Luiz, p. 31.)

Referências:

Chibeni, S. S. "A excelência metodológica do Espiritismo", Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.
Chibeni, S. S. "O paradigma espírita", Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.
Phillips, S. M. Extra-Sensory perception of Quarks, Wheaton, Illinois, Theosophical Publishing House, 1980.
Kardec, A. O que é o Espiritismo, 36a ed., FEB.
------. O livro dos Espíritos, 75a ed. FEB.
Chagas, A. P. "A Ciência confirma o Espiritismo?" Reformador, jul. 1995.
Chalmers, A. F. What is this thing called science? St. Lucia, University of Queensland Press, 1976.
"Matéria e antimatéria", Reformador, abr. 1994.
Alvén, H. "Antimatter and the Development of the Metagalaxy", Rev. Modern Phys., vol. 37, p. 652, 1965.
André Luiz, No Mundo Maior (psic. F. C. Xavier), 19a ed., FEB.

(Artigo publicado em Reformador de agosto de 1995, pp. 244-46. Digitado por Cristina em 5/98)Ademir L. Xavier Jr.

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terça-feira, 11 de novembro de 2014

ELE É NOVIDADE, EMBORA NÃO SEJA. (MAGNETISMO)



Do que estou falando? Do Magnetismo. E onde ele é novidade, embora não seja? No meio espírita.

Isso é deveras impressionante. Não por ser ou deixar de ser novidade, mas por não termos tido olhos de ver o que Allan Kardec nos deixou.

O que hoje chamamos de passes ele chamava de ação magnética; a hoje denominada água fluida ou fluidificada era por ele indicada como água magnetizada; passistas eram magnetizadores enquanto a mediunidade curadora foi reduzida à ação de frágeis médiuns passistas… E assim seguimos desnaturando e desconfigurando o que a base espírita tão bem estabeleceu.

Alguns acham que tudo não passa de uma questão semântica, etimológica ou de terminologia, o que, convenhamos, é tentar minimizar danos. Senão vejamos o que temos hoje, em comparação ao que se verificava no tempo de Kardec, tomando por base apenas um fator: o tempo (e vou utilizar apenas este como ponderação, embora existam outros e alguns até com mais relevância ainda, mas que a eles me referirei noutros artigos):

Passe: um passe, ensina a maioria das Casas Espíritas, não precisa ser demorado, via de regra chegando ao tempo máximo de 2 minutos; uma ação magnética real muito raramente era inferior a 30 minutos;

Água fluidificada: a quase totalidade dos Centros Espíritas acredita que os Espíritos a fluidifiquem, mas quando usam um passista nessa ocupação, no prazo de um ou dois minutos eles são(?) capazes de fluidificar uma centena ou mais de vasilhames, não importando a capacidade dos mesmos; para Kardec assim como para os Espíritos da
Codificação, quem magnetiza a água é o magnetizador (LM- Cap. 8, item,131: “O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético”) e este costumava demorar em torno de 15 minutos num único vasilhame;

Passistas: acreditando que são apenas “canais” da Espiritualidade, eles não precisam demandar tempo em suas ações, posto que os Espíritos fazem tudo (até porque é alegado que não somos nós quem fazemos e sim eles); já os magnetizadores, conscientes de sua participação ativa e concentrada nas atividades magnéticas, precisam de longa preparação teórica e prática, além de ‘manipularem’ os fluidos por bastante tempo em cada sessão magnética.

Médiuns passistas: além de Allan Kardec não ter criado esse neologismo, estes não precisam de tempo para iniciarem os passes, enquanto os magnetizadores costumavam demandar um tempo médio de 5 a 10 minutos só para estabelecer relação magnética com o paciente para, só então, iniciarem a ação magnética propriamente dita.
  
 Além dessas ponderações, as dificuldades de se buscar base e dados na obra do mestre lionês, tomando-se por referência os termos hoje em voga, torna o esforço quase infrutífero, pois as informações não batem. E quando nos lembramos que ele tinha trinta e cinco anos de experiência como magnetizador quando codificou o Espiritismo e, portanto, sabia do que falava e sugeria, fica muito esquisito pensar que ele tivesse esquecido de deixar lastro nesse caminho abençoado que é o do Magnetismo.

Mas mantenhamos a esperança; ainda há tempo de abrirmos os olhos e percebermos mais claramente o que nossa curta visão tem-nos impedido de observar com mais proveito.

Como anotou Michaelus, no primeiro capítulo de sua notável obra ‘Magnetismo Espiritual’, publicada pela FEB: “Os homens opõem obstáculos ao descobrimento das próprias verdades indispensáveis ao seu progresso e à sua felicidade”. Que tal andarmos para frente?
ARTIGO ESCRITO POR JACOB MELO, PUBLICADO NA EDIÇÃO DE ABRIL/2013 DO JORNAL CORREIO ESPÍRITA DO RIO DE JANEIRO.



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