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sábado, 1 de agosto de 2015

ESPIRITISMO DE VIVOS

Leopoldo Machado foi um dos iniciadores e concretizadores
de teses de educação e de teatro espírita

CEZAR BRAGA SAID

O “Espiritismo de vivos” tornou-se uma das bandeiras de um dos maiores espíritas que o Brasil já conheceu. Referimo-nos ao baiano Leopoldo Machado (1891-1957), nascido em Cepa Forte, hoje Jandaíra, completando-se este ano 50 anos de sua desencarnação.

Para fundamentar melhor este lema, Leopoldo chegou a escrever um livro intitulado Cruzada do Espiritismo de Vivos (1942)1 que, apesar do tempo, ainda permanece bastante atual pelo enfoque e pelo conteúdo. Nele, declara por meio de dez pontos, o que pretendia com semelhante bandeira.

Desejava e propunha um Movimento Espírita voltado principalmente para os encarnados, sem qualquer demérito para as práticas mediúnicas e para as relações estabelecidas com o mundo espiritual. Mas questionava o fato de a mediunidade, que ignifica“meio”, ser encarada e vivida com um fim em si mesma por alguns companheiros. Acreditava ser necessário se cultivar o intercâmbio sério e salutar com os Espíritos, mas não cultuá-los, reforçando os atavismos que trazemos do passado, muitas vezes ratificados na atual existência.

Entendia a evangelização da criança e do jovem como priori  prioridade nas atividades do Centro Espírita e que as mesmas deveriam se dar por meio da música, da poesia, da literatura, do teatro, da arte espírita de um modo geral. Educador que era, reconhecia que sem alegria, dinamismo e criatividade, não teríamos uma ação evangelizadora genuinamente prazerosa e verdadeiramente educativa.
Valorizava imensamente os movimentos confraternativos onde todos podemos estreitar laços,  aprender juntos por meio de conversas edificantes, em horas construtivas de convivência e de apreciação da arte espírita.

 Foi um dos grandes entusiastas das juventudes espíritas, do processo de Unificação que teve como marcos maiores o “Pacto Áureo” e a Caravana da Fraternidade, da qual foi integrante ativo juntamente com Lins de Vasconcellos, Francisco Spinelli, Carlos Jordão da Silva e Ary Casadio.

Afirma Antonio Cesar Perri, em livro de Eduardo Carvalho Monteiro, que no campo da Unificação Leopoldo teve uma ação pioneira que antecede mesmo a assinatura do “Pacto Áureo”, pois “participou do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita (São Paulo, 1948) e, na seqüência, foi responsável pelo I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (Rio de Janeiro, 1948). O dinâmico divulgador foi um dos iniciadores e concretizadores de teses de educação e de teatro espírita. Atuou como filantropo, expositor, polemista e autor de vários livros. Os reflexos de obras de Leopoldo estão presentes em todas as partes do país até quando se entoa a ‘Canção da Alegria Cristã’, pois é co-autor desta difundida música espírita”.2

A Caravana da Fraternidade percorreu 11 Estados do Norte e Nordeste, colhendo adesões ao “Pacto Aúreo” e divulgando os objetivos da Unificação. Em seu programa constavam conferências para o grande público, mesas-redondas com o objetivo de se chegar a consensos em torno do ideal unificacionista, visitas às instituições espíritas de assistência social, levando estímulos aos seus fundadores e colaboradores, além de programas sociais organizados pelos confrades que os recebiam.

De acordo com Clóvis Tavares,3 Leopoldo Machado publicou cerca de 30 livros e deixou mais 20 que, infelizmente, não vieram a lume. Escreveu por 24 anos para a revista Reformador, publicando poesias, crônicas, artigos e conferências.
Foi também colaborador assíduo dos periódicos O Clarim e Revista Internacional de Espiritismo, além de inúmeros outros jornais espíritas.
Espírito ativo fundou uma escola que até hoje é dirigida por seu sobrinho (Colégio Leopoldo, 1930), um lar destinado inicialmente ao abrigo de velhinhos e crianças (Lar de Jesus, 1942), um albergue noturno e uma escola de alfabetização na instituição espírita onde militou durante muitos anos, o Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, na cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

A seu respeito, disse Carlos Imbassahy que “[...] dificilmente encontraremos nas fileiras do Espiritismo outro propagandista com tanta energia, com tanta coragem, com tanta personalidade.  Tal ou qual festividade corria mais ou menos fraca. Nisso aparecia Leopoldo; tudo se modificava, o seu gênio alegre, comunicativo, logo se transmitia a todos. O ambiente se enchia de vibração nova. Ele emprestava vida a tudo a que se associava”.4

Também o lúcido pensador, autor e divulgador espírita Deolindo  Amorim afirmou que Leopoldo era um espírita muito ativo, inconformado com a displicência, não compreendia o Espiritismo de “câmara mortuária” e por isso era vibrante e contagiante. Disse ainda Deolindo que  ambos tinham lá suas diferenças, mas isso não impedia que um e outro se quisessem bem e se olhassem como amigos: “Divergimos, mais de uma vez, em determinados pontos de vista, e nunca lhe escondi a minha objeção a esta ou aquela de suas opiniões, mas a nossa amizade nunca se rompeu, felizmente. Leopoldo Machado deixou, nas fileiras espíritas, um claro dificilmente preenchível. Que ele possa, do outro lado, na espiritualidade, continuar a nos dar estímulo [...]”.5

Decerto que este grande companheiro desaprovaria qualquer culto em torno da sua personalidade, mas muitas vezes vivemos à cata de novidades, novos autores, novas práticas e vamos seguindo esquecidos dos pioneiros, dos que pavimentaram o caminho para que pudéssemos ter um movimento mais liberto, arejado, valorizando o estudo e as relações mais cristãs, realmente fraternas.

Recordar Leopoldo Machado e conhecer o seu legado é fazer um tributo a todos os pioneiros do Espiritismo que, enfrentando dificuldades sem conta, souberam erseverar abrindo clareiras contra o preconceito e o divisionismo, em prol de um movimento onde possamos estar sempre ombro a ombro e sempre lado a lado, como companheiros, amigos e irmãos que vivem alegres não apenas pensando, mas fazendo o bem e nos querendo uns aos outros, também muito bem.

 Referências:

1MACHADO, Leopoldo. Cruzada do espiritismo de vivos. Matão: O Clarim, 1942.

2MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Leopoldo Machado em São Paulo. São Paulo: USE, 1999.
3RAMOS, Clóvis. Leopoldo Machado. Idéias e ideais. Rio de Janeiro: CELD, 1995.
4 Jornal A Voz da União.
5AMORIM, Deolindo. “Algumas palavras sobre Leopoldo Machado”. Revista Internacional
de Espiritismo. Matão: O Clarim, 1957.


Fonte;  Reformador Ano 125 / Maio, 2007 / N o 2.138

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

BIOGRAFIA - LEOPOLDO MACHADO

Nasceu no Arraial de Cepa Forte, hoje Jandaíra - BA, a 30 de setembro de 1891.
Leopoldo Machado, como era conhecido, iniciou-se na Doutrina Espírita pelas mãos abençoadas do inolvidável José Petitinga, no ano de 1915, tornando-se arauto da fé e do trabalho. Espírito de liderança, foi impulsionado às tarefas do bem e da verdade, vivendo a Doutrina Espírita em toda a sua pujança.leopoldomachado
Após seu casamento com Dona Marília Ferraz de Almeida radicou-se na cidade de Nova Iguaçu - RJ, onde iniciou grandes tarefas. Ele e a esposa tomaram a iniciativa de construir o Albergue Noturno Allan Kardec e o Lar de Jesus para meninas órfãs.
Educador pedagógico, inaugurou o Colégio Leopoldo, tradicional estabelecimento de ensino, considerado uma das melhores organizações educacionais da baixada fluminense.
Jornalista, professor, escritor, poeta, compositor, pregador e polemista, difundiu a Doutrina Espírita por todos os meios e formas, merecendo o respeito dos adversários da Doutrina e a admiração dos confrades.
Leopoldo Machado incentivou as novas gerações a pegar no arado com a criação das Mocidades Espíritas e das Escolas Espíritas de Evangelização para Infância. Impulsionou as Semanas Espíritas, as Tardes Fraternas, os Simpósios, as Mesas Redondas e os Congressos Espíritas. Realizou o "milagre" de estar presente em quase todos os movimentos espíritas confraternativos, percorrendo todo o Brasil, exaltando o Evangelho de Jesus e a Doutrina dos Espíritos, como sendo a volta do Cristianismo Redivivo, no seu sentido mais puro, como era pregado na Casa do Caminho.
Dentre vários eventos, destaca-se o 1 Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, de 17 23 de julho de 1948, tendo frente Leopoldo Machado Lins de Vasconcelos. Foi da mais belas e mais proveitosa realizações espíritas de todos o tempos, de onde, até hoje colhem-se frutos.
Nesse mesmo ano Leopoldo Machado tomava parte ativa no Congresso Brasileiro de Unificação, realizado de 31 de outubro a 05 de novembro. Em 1949 era convocado ao 11 Congresso Pan-americano realizado no Rio de Janeiro e também o Pacto Áureo. Após, esteve presente, juntamente com Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Luiz Burgos na "Caravana da Fraternidade", que teve como coroamento o Pacto Áureo, incentivo unificador na formação do Conselho Federativo Nacional, sob os auspícios da Federação Espírita Brasileira.
Realizou também a Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, em homenagem ao "18 de abril".
Escritor de vários livros espíritas, como Pigmeus Contra Gigantes, Caravana da Fraternidade, Ide e Pregai e muitos outros, além de crônicas, peças teatrais, biografias, roteiros, teses, além de compor inúmeras melodias para a mocidade a infância.
Leopoldo Machado acreditou na força dos moços, como mola propulsora para renovação de valores ao movimento espírita; acreditou nos Congressos, nas Semanas Espíritas e nas Confraternizações.
Lutou tenazmente para desencastelar muitos espíritas, que só pensavam em termos de suas Instituições, porque acreditava que Espiritismo é Luz, é Sol que no futuro próximo iluminará a Humanidade.
Lutou pela renovação de valores e de conceitos, sem fugir aos ditames da Codificação Kardequiana.
Franco, leal, sincero e audaz. Essa foi a figura personalíssima de Leopoldo Machado.
Desencarnou na cidade de Nova Iguaçu - RJ, aos 22 de agosto de 1957.


Fonte: Livro Personagens do Espiritismo, de Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy - Edições FEESP

PATRONO DO GRUPO DA FRATERNIDADE LEOPOLDO MACHADO
SALVADOR - BAHIA - BRASIL
HISTÓRIA DO CENTRO
FONTE: BIOGRAFIAS DE QUEM AJUDOU A CONSTRUIR O COLÉGIO LEOPOLDO
http://www.colegioleopoldo.org.br/leopoldomachado1.html

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terça-feira, 26 de março de 2013

BIOGRAFIA - DEOLINDO AMORIM - O FILÓSOFO E DIDATA DO ESPIRITISMO


Jaci Régis

Deolindo Amorim foi um grande didata a serviço do pensamento espírita. De personalidade serena e afetuosa, lutou incessantemente contra a corrupção do pensamento doutrinário e pelo entendimento da obra de Allan Kardec, sempre de forma elegante e independente.

Deolindo Amorim nasceu no Estado da Bahia, numa família pobre e católica. Foi presbiteriano fervoroso. Rompeu com sua igreja e permaneceu muitos anos sem definição filosófica ou religiosa. Em 1935 descobriu o Espiritismo.

A palavra descobriu é empregada no seu sentido de percepção totalizadora de uma idéia. É, certamente, um exercício intelectual, mas ultrapassa esse universo para penetrar no universo da apreensão do objeto.

Quando se descobre uma doutrina, por exemplo, ela se incorpora a nossa estrutura mental, ao nosso modo de estar no mundo.

Bem ao contrário de qualquer recaída fanática, a descoberta é a forma de inserir-se no conteúdo, abrangendo, pouco a pouco, não apenas os enunciados, as idéias, os conteúdos. É mais, percebe-se os objetivos, divisa-se o rumo e a essência. Enquanto o adepto, o estudioso permanece na superfície ou na profundidade da idéia, o descobridor se integra, faz uma ligação definitiva com a doutrina. Foi o que aconteceu com Deolindo Amorim.

Nascido a 23 de janeiro de 1908, Deolindo mudou-se para o Rio de Janeiro. Radicado na antiga capital do Brasil, tornou-se jornalista e, posteriormente funcionário público, tendo galgado elevada posição funcional no Ministério da Fazenda.

Desde que descobriu a Doutrina Espírita, tornou-se, progressiva e determinadamente, no baluarte pela definição específica do que é o Espiritismo.

Conheci pessoalmente Deolindo Amorim. Missivista atencioso, ele teceu comentários elogiosos à minha obra Comportamento Espírita, na ocasião de seu lançamento. A dimensão de seu trabalho certamente não cabe nos limites destas notas. Sua figura simpática, serena, não significava, entretanto, fraqueza ou acomodação. Polemizou com companheiros de forma responsável e respeitosa. Prosseguiu seu caminho com coerência e dignidade. Manteve posições firmes, mesmo contra amigos e situações.

Personalidade afetuosa, mostrou uma determinação e uma estrutura de pensamento ímpares. Foi, ao longo de sua vida, uma barreira positiva, definida, contra a corrupção do pensamento doutrinário. Lutou sem descanso pelo bom entendimento da obra de Allan Kardec.

Creio que a figura ímpar de Deolindo pode ser definida como o didata por excelência, o professor eficaz do Espiritismo.

O Ativista

Deolindo não ficou na teoria. Além de escrever livros, editar jornais, representar periódicos e enviar artigos para muitos jornais e revistas, proferir conferências, tomou iniciativas que marcaram o movimento espírita brasileiro.

Já em 1939 ele idealizou e promoveu o I Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado na cidade do Rio de Janeiro. Foi uma reunião de intelectuais espíritas, semente de propostas posteriores. O momento era crucial, o Espiritismo era perseguido pela Igreja e pela Polícia. A II Grande Guerra estava iniciada.

Esteve ao lado de Leopoldo Machado na promoção do I Congresso de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil e na criação do Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas.

Foi parceiro fiel de Aurino Souto, presidente da Liga Espírita do Brasil.

Finalmente, fundou em 7 de dezembro de 1957 O Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), instituição de grande influência no estudo e divulgação do Espiritismo, com sede no Rio de Janeiro e que dirigiu até sua desencarnação.

Em Defesa do Espiritismo

Um dos problemas mais emergentes relativos ao bom entendimento da Doutrina Espírita foi a constante tentativa de confundi-lo seja com a Umbanda, o Candomblé, com as religiões cristãs e doutrinas espiritualistas. Principalmente com os cultos afro-católicos, as confusões foram muitos grandes. Hoje, talvez, esse aspecto esteja quase superado mas já foi mais grave. A própria Federação Espírita Brasileira (FEB) pretendeu fazer uma divisão absurda: chamar de Espiritismo todas as práticas mediúnicas ou semelhantes e de Doutrina Espírita, a obra de Kardec.

Em 1947 Deolindo publicou Africanismo e Espiritismo, onde deixa clara a inexistência de ligações filosóficas, práticas ou doutrinárias entre o Espiritismo e as correntes espiritualistas apoiadas na cultura africana, trazida pelo escravos e que se converteram em várias seitas de gosto popular.

Determinado a explanar, didaticamente, as bases da doutrina de Allan Kardec, ele escreveu, O Espiritismo e os Problemas Humanos, O Espiritismo à Luz da Crítica, em resposta a um padre que escrevera livro atacando a Doutrina. Espiritismo e Criminologia, oriundo de uma conferência no Instituto de Criminologia da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1958, lançou O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas, onde não combate nenhuma corrente ou idéia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz, seitas de origem asiática ou africana. Ele simplesmente define, separa, identifica o que é o Espiritismo, mostrando a sua independência filosófica, embora ressaltando eventuais coincidências de pontos filosóficos, devido à base espiritualista desses movimentos.

O Didata da Doutrina

Deolindo não lançou teorias, nem propôs idéias revolucionárias de atualização ou desenvolvimento da Doutrina. Esmerou-se e o fez com absoluto sucesso, em definir o conteúdo, a abrangência, o papel e o lugar do Espiritismo na sociedade e nas doutrinas espiritualistas.

Não se pense, todavia, que tenha sido ortodoxo e conservador.

Nada disso. Foi uma mente aberta ao novo, entendeu perfeitamente o sentido evolucionista do Espiritismo e recusou-se a aceitar as idéias conservadoras, retrógradas.

Na Introdução de O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas ele diz: “Escrevemos este trabalho com o sincero propósito de concorrer, embora despretensiosamente, para que se esclareça cada vez mais a verdadeira posição do Espiritismo perante as doutrinas e os cultos espiritualistas. Todas as doutrinas, como todos os credos, sejam quais forem as suas origens, nos merecem o mais justo respeito. (...) Devemos, porém, dizer claramente o que é e o que não é Espiritismo, para que não haja confusão nem tomem corpo interpretações duvidosas.

E reafirma sua posição: “Repetimos que o Espiritismo é universalista, porque os fatos do espírito são universais, os seus problemas têm o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o Espiritismo não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade nem consistência”.

Que é o Espiritismo, afinal? Vejamos o que nos diz Allan Kardec: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Ciência de observação, sim, nem precisamos dizê-lo, porque tem por objeto uma fenomenologia que já foi comprovada em experiências; doutrina filosófica, realmente, porque, tendo por base experimental o fenômeno mediúnico, faz inquirições sobre as causas e leis, deduzindo conseqüências que incidem no domínio moral, da religião, da filosofia em si. Eis, em síntese, o que é o Espiritismo

Finalizando o excelente O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas, afirma que “Como doutrina essencialmente progressista, recebe os enriquecimentos das ciências, como acompanha os fenômenos sociais e culturais, sem perder, todavia, a sua integridade e as suas características. Nenhuma religião, nenhum culto espiritualista poderia absorvê-lo ou confundi-lo, a despeito da existência de aspectos comuns, porque as suas concepções basilares, tendo conseqüências científicas, filosóficas e religiosas, não permitem adaptações e concessões arbitrárias. Desta proposição, consequentemente, chegamos à conclusão de que O Espiritismo é uma doutrina que se basta a si mesma, sem empréstimos nem acréscimos artificiais “.

A Questão Religiosa

Sobre a questão religiosa no Espiritismo, sua posição foi bem igual a de Kardec. Citando as palavras do fundador, concluía que, como qualquer filosofia espiritualista, o Espiritismo tinha conseqüências religiosas, mas de forma alguma se tornava uma religião constituída.

“Allan Kardec frisa bem que o Espiritismo não é uma religião constituída. Não o fora nos primeiros tempos, quando o seus delineamentos ainda estavam na fase de elaboração, nem o seria hoje, com a experiência histórica de mais de um século, quando a Doutrina já está definitivamente consolidada. O qualificativo constituída não exclui a idéia religiosa. Há muita diferença entre o culto organizado e atos religiosos ou conseqüências religiosas. O Espiritismo tem, indiscutivelmente, conseqüências religiosas, e muito profundas, mas a sua esquematização, a sua índole e a sua conceituação básica não comportam qualquer forma de culto material, nem, sacerdotes, nem chefes carismáticos... O verdadeiro culto para o Espiritismo é o culto interior, é o sentimento, a elevação do pensamento.”

“O fato de haver Allan Kardec preferido não instituir nenhum sistema moral, porque lhe bastou a moral cristã para o coroamento da doutrina por ele codificada, não quer dizer que o Espiritismo concorde ou deva concordar com tudo quanto ensinam as diversas religiões e denominações cristãs; muito menos seria possível introduzir no Espiritismo práticas, dogmas e formas peculiares às religiões oriundas do Cristianismo.”

E, “não é possível reduzir o Espiritismo às limitações de uma seita cristã, assim como não se pode concordar com a suposição corrente de que tudo seja a mesma coisa.”

“Tendo-se preocupado fundamentalmente com a interpretação filosófica do fenômeno e suas conseqüências na ordem moral, a Codificação do Espiritismo não cogitou, nem poderia cogitar, de qualquer culto material, assim como não prescreve cerimônias de iniciação, nem hierarquia sacerdotal” .

Se reconhecida, como é obvio, que o Espiritismo tem uma ligação estreita com a moral de Jesus, e consequentemente com o Evangelho, deixa claro que essa foi uma decisão de Kardec e separa de maneira muito clara o cristianismo do Espiritismo.

Pelo fato de aceitar a mensagem do evangelho, afirmou, não significa que o Espiritismo aceita tudo do cristianismo. Ele sempre foi contrário à confusão dos que tentam diluir o Espiritismo seja com os cultos espiritualistas, seja com os rituais do cristianismo. Repudiava o tudo é a mesma coisa, frase usada para justificar as deturpações gritantes contra a identidade da doutrina.

“É o Espiritismo que interpreta o evangelho , não é o evangelho que interpreta o Espiritismo.”

Reforço à Intelectualidade

Como é comum no movimento espírita, Deolindo foi muito criticado por optar pela cultura e pela inteligência. Existiu, no Rio de Janeiro, a Faculdade Brasileira de Estudos Psíquicos que ele não fundou, como às vezes se diz, mas a que pertenceu e foi seu último presidente. Tornada insubsistente a continuidade da Faculdade, ele promoveu a criação do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) fundado em 7 de dezembro de 1957 e por ele dirigido até sua desencarnação.

Quanto à questão da unificação do movimento, Deolindo nunca aderiu à Federação Espírita Brasileira, tanto que aliou-se à Liga Espírita do Brasil, entidade criada em 1927, por Aurino Souto e da qual Deolindo foi o último 2º vice-presidente.

Em 1949, com o chamado Pacto Áureo, a Liga Espírita do Brasil, que não tinha representatividade nacional, deixou de existir, transformando-se numa entidade federativa estadual. Hoje, depois de várias denominaçòes, é a USERJ - União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro.

Deolindo foi contra o acordo.

Suas palavras sobre o assunto, em 1949: “quando a Liga aceitou o Acordo de 5 de outubro, acordo que se denominou depois, Pacto Áureo, tomei posição contrária (..) votei contra a resolução, porque não concordei com o modo pelo qual se firmara esse documento. E o fiz em voz alta, de pé, na Assembléia, com mais doze companheiros que pensavam da mesma forma”.

Admirava muito Léon Denis, de quem disse: “Léon Denis pertence, com inteira justiça, à galeria dos mais autênticos filósofos espíritas. Discípulo e continuador de Allan Kardec, ninguém o foi, até hoje, com mais afeição e com vigor intelectual”.

Mas seu respeito a sua fidelidade ao pensamento de Allan Kardec foi não apenas exemplar, mas de um tirocínio brilhante e uma defesa inteligente e atuante.

Em 24 de abril de 1984, aos 76 anos de vida terrena, desencarnou Deolindo Amorim, fechando um ciclo fecundo de pensadores espíritas, dos quais, com justiça ele está num lugar privilegiado.

Todavia, mais do que nunca, neste momento em que o Espiritismo precisa decidir seu próprio caminho, o pensamento, a palavra e a postura de Deolindo Amorim são elementos indispensáveis para entender, seguir e definir o futuro da Doutrina.

Postado por; http://www.espiritnet.com.br/Biografias/biogdeol.htm

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