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terça-feira, 20 de novembro de 2012

RIVAIL E O MAGNETISMO


O magnetismo animal, também conhecido por mesmerismo, visto ter sido Franz Anton Mesmer, doutor pela Universidade de Viena, o seu célebre renovador nos tempos modernos, esteve em voga nos fins do século XVIII, adquirindo maior impulso na primeira metade do XIX. Na França, sobretudo, sumidades médicas e ilustres prelados confirmavam a veracidade dos fenômenos magnéticos, principalmente no que diz respeito a curas psíquicas, a diagnósticos e prescrições terapêuticas fornecidos por sonâmbulos, com quem igualmente se observavam incontestáveis fatos de clarividência ou lucidez, de visão a distância, de visão através de corpos opacos, de previsão etc.

Pouco depois que o jovem discípulo de Pestalozzi chegou a Paris, teve a sua curiosidade despertada para o magnetismo animal, a que o marquês de Puységur, juntamente com d'Eslon, professor e regente da Faculdade de Medicina de Paris, e com o sábio naturalista Deleuze, haviam imprimido nova feição, ao modificarem os métodos de Mesmer, disso resultando na descoberta do sonambulismo provocado. Rivail refere-se elogiosamente a esses magnetistas franceses, colocando ao lado deles os nomes de dois outros grandes vultos: o barão Du Potet e o sr. Millet.

A iniciação de Rivail nesse novo ramo dos conhecimentos humanos deu-se aproximadamente em 1823, segundo ele próprio o afirmou. E nos anos que se seguiram aplicaria parte do seu tempo, mas sem prejuízo de suas tarefas educacionais, no estudo criterioso e equilibrado, teórico e prático, de todas as fases ou graus do sonambulismo, testemunhando muitos prodígios provocados pela ação do agente magnético. Suas leituras não se circunscreveram às obras favoráveis ao magnetismo. No propósito de aquilatar o valor das objeções, leu, igualmente, conforme frisou na página 277 da Revue Spirite de 1858, grande número de livros contra essa ciência, “escritos por homens em evidência”.

O barão Du Potet, que mais tarde seria amigo dos espíritas, tornara-se desde 1825 o chefe da escola magnética na França, tendo ido mais longe que seus predecessores na aplicação do magnetismo à terapêutica. Este justamente o lado que mais impressionou a Rivail, que com o tempo pôde inteirar-se bem da força magnética que todos os seres humanos possuem em graus diversos, vindo a ser, ele próprio, “experimentado magnetizador”, segundo escreveu seu amigo pessoal e discípulo Pierre-Gaëtan Leymarie, na Revue Spirite de 1871. Este valoroso espírita lembraria ainda, pela Revue Spirite de 1886, página 631, que o mestre lionês conheceu as pesquisas do padre português José Custódio Faria (o abbé Faria dos franceses) e lhe rendia as devidas homenagens. O padre Faria, iniciado nas práticas do Magnetismo pelo marquês de Puységur, a quem dedicou seu livro De la cause du somneil lucide, ou étude de la nature de l'homme (1819), considerando-o seu mestre, foi o precursor do hipnotismo de Braid. Lecionou em liceus e academias de várias cidades francesas.

Despido dos preconceitos dominantes na época, o padre Faria pôs por terra o caráter sobrenatural com que a Igreja cercava o magnetismo, iniciando em 1813 as suas concorridas conferências na rua de Clichy (Paris), seguidas de demonstrações práticas.

A Igreja condenava o Magnetismo. Tudo provinha da ação de fluidos de origem infernal. Um teólogo francês escreveu que “o sonambulismo e o magnetismo eram sobrenaturais e diabólicos, anticristãos, anticatólicos e antimorais”. O padre Faria estudou as práticas magnéticas e convenceu-se da inanidade de tais interpretações. Crente e padre, não teve dúvida em afrontar as iras dos teólogos do seu tempo, para afirmar que nada havia de sobrenatural em tais fenômenos e que o sono hipnótico era, afinal, uma “modalidade da sugestão.” (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira , Lisboa – Rio de janeiro, vol. X, p.919)

Diz Anna Blackwell, no prefácio à sua tradução inglesa (1875) de O Livro dos Espíritos, que Rivail tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris, a mais importante da França. Ele, porém, ficaria eqüidistante das rivalidades doutrinárias que haviam surgido entre os magnetizadores parisienses. Soube fazer amigos nessa e naquela corrente de idéias, e um deles, o magnetizador Fortier, a quem conhecia desde muito tempo, foi quem, em 1854, lhe falaria pela primeira vez das chamadas mesas falantes.

Tendo, assim, adquirido sólidos conhecimentos de magnetismo, ciência que ele mais tarde, em diferentes ocasiões, demonstrou possuir em profundidade ao elaborar o corpo doutrinário do Espiritismo, foi capaz de perceber, logo ao início de suas observações pessoais junto às mesas girantes e falantes a íntima solidariedade entre o Espiritismo e Magnetismo, o que o levaria a afirmar: “Dos fenômenos magnéticos do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas, não há senão um passo; sua conexão é tal, que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do ouro.”

(WANTUIL, Zeus e THIESEN, Francisco. ALLAN KARDEC. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Vol. I, cap. 17. P. 102 a 105)



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sábado, 20 de outubro de 2012

OBRAS DE AFONSO CAHAGNET E KARDEC BATIZADOS NO FOGO


AFONSO CAHAGNET

"Se há estações para as flores, há séculos para as luzes.”
(Últimas palavras dos Arcanos, t. III)

            Anos antes de surgirem os fenômenos tiptológicos e as mesas falantes, girantes, através da mediunidade das irmãs Fox, no Estado de Nova York, os quais iniciaram celeremente uma verdadeira revolução nos conhecimentos do porquê de nossa existência, já Louis Alphonse Cahagnet, conceituado magnetizador, nascido em Caen (França), em 1809, mantinha relações com os entes do além-túmulo por intermédio de vários pacientes em estado sonambúIico, ou de êxtase, estados provocados pela ação magnética. Desse intercâmbio surgiu, em 1847, o primeiro tomo de  Arcanes de la vie future dévoilés, mais ou menos ao mesmo tempo que aparecia nos Estados Unidos a volumosa obra mediúnica intitulada The principIes of nature, her divine revelations and a voice to mankind ditada pelos Espíritos ao reverendo William Fisbough, através da mediunidade de André Jackson Davis.

            Do primeiro volume dos Arcanos fez-se uma tradução portuguesa, que sabemos ser muito antiga, mas não podemos precisar o nome do tradutor e o ano de sua publicação, por falta absoluta de referências nesse sentido.

            Na cidade de Argenteuil (arredores de Versalhes), Cahagnet fundava, também em 1847, a sociedade dos Estudantes Swedenborgianos, que mais tarde se aproximou do Espiritismo kardecista.
  
Não obstante todo o cuidado que se deve tomar na aceitação das narrativas dos sonâmbulos, Gabriel Delanne é o primeiro a afirmar que com Cahagnet o caso é diferente, sustentando que o célebre magnetista realmente conversou com os Espíritos, identificando muitos deles, "Não são simples reprodução de imagem dos sere desaparecidos: são individualidades que conversam, se movem, vivem e afirmam categoricamente que a morte não as atingiu" - fala Delanne, confirmando o intercâmbio entre o Além e Cahagnet.

            Em 1850 Cahagnet publicou Sanctuaire du Spiritualisme, ou o Estudo da alma humana e de suas relações com o Universo, segundo o sonambulismo e o êxtase; em 1851 aparecia Lumière des morts ou Études magnétiques, philosophiques et spiritualistes, e Traitement des maladies, obra esta que engloba um estudo das propriedades medicinais de 150 plantas que a extática Adèle Maginot transmitira a Cahagnet, além de uma exposição de diversos métodos de magnetização; em 1853, traduzidas do alemão, dava à luz em Paris as Lettres odiques--magnétiques du chevalier de Reichenbach.

            Embora descendente de uma família pobre, e tendo trabalhado sucessivamente, para poder viver, como relojoeiro, torneiro de cadeiras, caixeiro de comércio, fotógrafo, conseguiu, com sua poderosa força de vontade e seu dinamismo extraordinário e sua honestidade, adquirir posição de destaque, respeitado e admirado por todos quantos com ele privavam, mesmo os inimigos.

   No primeiro tomo dos Arcanos da vida futura desvendados, o Autor, numa dedicatória aos ilustres magnetizadores Barão du Potet e Hébert de Garnay, este último, gerente do Journal du Magnétisme, declara desassombradamente num certo ponto: "Outros têm temor em revelar verdades que poderiam ofender o espírito das seitas. Se estas últimas sustentam com denodo e boa-fé os erros, quanto não devemos nós dar a conhecer a fim de esclarece-las? Acaso devemos temer qualquer coisa quando nos é dado substituir a fé pela experiência, e quando demonstramos a todos a inefável bondade do Criador? Não, senhores, vós o sabeis após haver adquirido, como eu, provas irrefutáveis de um mundo melhor; são estas provas que se torna necessário que todos as obtenham, e a ciência, que propagais  com tão corajosa perseverança, deve fornecê-las a todas as pessoas."

            "Se eu não houvesse sido auxiliado pela luz divina, teria sucumbido sob tão penosa tarefa" - declara mais adiante Cahagnet.
  
  O Barão du Potet, homem que na época era um tanto céptico com respeito a essas revelações do Além, mas que mais tarde foi constrangido a acreditar nelas e no mundo dos Espíritos, "por efeito de sério exame dos fatos", no próprio dizer dele, escreve então a Cahagnet longa carta de agradecimento, com alguma ironia, e termina assim: "Um filósofo céptico disse: "A alma não me parece senão fraca centelha que no instante do trespasse se dissipa nos ares", Vós provareis - eu espero - que tal filósofo estava em erro."

            De fato, assim fez Cahagnet e, "interrogando os túmulos, falando com os seres falecidos" e anotando as palestras desse maravilhoso intercâmbio, edificou a portentosa obra com cerca de mil páginas, que formaram o tomo I dos Arcanos, descortinando para a Humanidade desorientada uma nova pátria, cheia de vida, de atividade; onde moram os nossos mortos, Na bela introdução a esse monumental trabalho adverte o Autor: "Sede prudentes, não admitais nem rejeiteis nada sem um exame maduro; aquilo que não puderdes compreender, jamais digais que não é!" E mais adiante informa: "Esta obra vos oferecerá a prova de um mundo melhor que o nosso, onde vivereis após deixardes aqui o vosso corpo, e onde um Deus infinitamente bom vos recompensará em cêntuplo as aflições que vos eram proveitosas nesta terra de dor. Vou demonstrar que vossos pais e amigos ali vos esperam com impaciência, e que podeis, embora ainda sobre este globo, entrar em comunicação com eles, falar-lhes e deles obter as informações que julgardes necessárias." '

            Concluindo sua introdução, disse que se sentiria muito feliz se - "conseguisse firmar com outros homens essa crença que adquirira sobre a existência desse mundo de consolação, e fizesse penetrar pelo menos em algumas almas toda a felicidade que sentia, de esperanças tão doces!"

            Ao tomo I dos Arcanos, seguiram-se os tomos II e III. "Tudo o que a ignorância, o fanatismo, a tolice reeditaram posteriormente contra a nossa doutrina foi então despejado sobre o pobre magnetizador” diz Gabriel Delanne. Cahagnet, porém, não esmorece. Nessa época, ele, juntamente com outros companheiros, fundam, sob os auspícios da Sociedade dos Magnetizadores Espiritualistas, o jornal Le Magnétiseur Spiritualiste, no qual são consignados todos os fatos maravilho os das relações o Além, obtidos por ele e pelos magnetistas de o mundo que o quisessem fazer.  

            Os dois primeiros volumes dos Arcanos contêm as descrições de experiências realizadas com oito estáticos que possuíam a faculdade de ver e conversar com os Espíritos Adélia Maginot foi um dos mais notáveis, sendo ela a intermediária de extensa série de evocações. Mais de 150 atas foram ratificadas por testemunhas que afirmaram reconhecer os Espíritos que a sonâmbula descreveu. O abade Almignana, doutor em Direito Canônico, teólogo, assistiu com entusiasmo a várias sessões de Cahagnet, tornando-se adepto do magnetismo e desenvolvendo, mesmo, suas possibilidades mediúnicas.
          
 Somente no tomo III dos Arcanos refere-se o Autor aos fenômenos espíritas que se produziam nos Estados Unidos da América, e que foram também registados no nº 162 do Journal du Magnétisme. Neste volume, Cahagnet, em diálogos-refutações, responde vigorosa e inteligentemente aos seus contraditores: padres, homens de ciência, materialistas, alma etc., pondo por terra os diversos argumentos desfavoráveis ao conteúdo de sua obra. Cita ainda testemunhas merecedoras de crédito que relatam fenômenos de aparição, além de inúmeras respostas do Espírito de Swedenborg a questões formuladas.

            Pouco tempo depois de ter saído o primeiro tomo dos Arcanos, o Autor foi premiado por seus denodados esforços: ele recebe várias cartas, onde os signatários expandem sua satisfação, o seu júbilo emocionado por tão gratas revelações.

Barão du Potet


            Outros, entretanto, como o Barão du Potet, acharam que o assunto era cedo ainda para ser tratado. Procederam tal e qual, até hoje, procedem os nossos irmãos sacerdotes católicos, mesmo os desencarnados, sempre a dizerem que o homem ainda não deve conhecer essas profundas questões do ser, sendo-lhe necessária a disciplina dogmática. Mas assim não pensava Cahagnet, e, hoje, nós com ele. Potet, por exemplo, escrevera: "Tratais destas questões com o avanço de 20 anos; o homem ainda não está preparado para compreendê-las", ao que Cahagnet replicou, no vol. III, dizendo: "Ah! respondemos então, porque o vemos banhar com suas lágrimas as cinzas daqueles que julga haver perdido Para sempre? Em que momento da existência podemos chegar mais a propósito para dizer a esse homem: Consola-te, irmão, aquele que presumes separado de ti, para sempre, acha-se ao teu lado, a te asseverar, por meu intermédio, que ele vive, que é mais feliz do que na Terra, e que te aguarda nas esferas próximas para continuar o convívio contigo."

            Qual ocorreu com as obras de Kardec, as de Cahagnet também foram batizadas pelo fogo. A leitura dos Arcanos foi proibida em todos os países católicos, por decisão do Tribunal Supremo e Sagrado, chamado a "Sagrada Congregação", tribunal cristícola e não cristão, diz Cahagnet, tribunal que - informa ainda o Autor - "julgou sem nos ouvir e condenou sem outro motivo que o de prazerosamente arremessar três de nossas obras, num só dia, no fogo ... "
          
            Em 1856, um ano antes de aparecer O Livro dos Espíritos, Cahagnet fazia surgir as Révélations d’outre-tombe, pelos Espíritos de Galileu, Hipócrates,  Franklin, e outros, obra que estuda Deus, a preexistência das almas, a criação da Terra, vários problemas da Física, da Botânica, da Metafísica, da Medicina, a análise da existência do Cristo e do mundo espiritual, passando em revista as aparições e manifestações dos Espíritos, no século XIX, etc.

            Magie magnétique, outra publicação da autoria dele, surgida em 1857 ou 1858, trata dos fenômenos de transporte, de suspensão, das possessões, das convulsões, etc.
            O nome de Cahagnet atravessa as fronteiras francesas. Em 1861, ele recebe a honrosa visita do sábio Aksakof, que buscava dilatar seus conhecimentos e seus estudos sobre o magnetismo e o psiquismo.

            O número de produções aumenta. Aparecem: Encyclopédie magnétique spiritualiste (1854-1861); Étude sur le matérialisme et sur le spiritualisme (1869);  Étude sur l’âme  et le libre arbitre (1880)  e várias outras, parecendo-nos que a última obra  de Cahagnet tenha sido 
Thérapeutique du magnétisme et du somnambulisme, impressa em 1883.
         
Gabriel Delanne


   Realmente, Cahagnet foi um grande trabalhador, digno, sob todos os aspectos, da nossa admiração e reverência pela muita luz que, a par das críticas que sobre ele choviam, distribuiu entre muitos necessitados do espírito. "Um lutador soberbo",  "que teve a glória de fazer-se o que foi: um dos pioneiros da verdade" - manifesta-se G. Delanne, com ênfase.

            Interrogando os mortos, Cahagnet obteve respostas interessantes e reveladoras sobre diversos assuntos: noções de magnetismo, as propriedades da alma, a oração como meio de evitar os maus pensamentos, o modo por que deve ela ser proferida, as punições reservadas no mundo espiritual aos criminosos, as ocupações dos Espíritos, as sociedades formadas pelos Espíritos, as obsessões, descrição da separação que se faz entre a alma e o corpo no momento da morte, descrição dos Espíritos luminosos, sensações experimentadas no momento da morte, formas diversas que os Espíritos podem tomar, o inferno dos católicos (o que é), o fenômeno dos transportes, reunião dos familiares e afins no espaço, noções sobre a loucura, suas causas, suas consequências no mundo espiritual, alucinações causdas pelos maus Espíritos, o livre arbítrio, a cura pela prece, a linguagem do pensamento entre os Espíritos, a vestimenta dos Espíritos, as consequências do suicídio no além-túmulo, os lugares de reparação do mal, etc. etc. Dezenas de Espíritos, conhecidos e desconhecidos, se comunicaram com Cahagnet.

            Embora muitas respostas sejam imperfeitas e incompletas, pois o Espiritismo apenas alvorecia, e embora a obra do magnetista de Caen não se iguale  à inimitável exposição feita nos livros de Kardec, todos os espíritas devemos reverenciar a memória desse homem de fé e de coragem que foi - Cahagnet.

            Atualmente o Espírito de André Luiz nos vem dando revelações mais claras sobre a vida no além- túmulo, revelações que resumidamente já estavam explanadas em 1847, nos Arcanos e em algumas outras obras ditadas por sonâmbulos.      
            Registaremos algumas das perguntas e respostas constantes no livro mencionado:
          
            P. - Que fazem os irmãos (da sonâmbula) no céu?
            R. - Eles recreiam e passeiam.
           
            P. - Não se pode recrear e passear durante uma eternidade, sem um fim.
            R. - Oh! eles fazem música, estudam ciências; ocupam-se melhor e com mais prazer que nós.
            P. - Que faz ela (o Espírito da mãe da sonâmbula) no céu?
            R. - Ela está com meu pai, meus irmãos, minha irmã, enfim, toda a família; ela se inquieta muito por mim, mas está muito feliz; ela lê e se sente satisfeita em ouvir meus irmãos tocar música.

            P. - Há então livros no céu?
            R. - Eu te rogo crê-lo, e não são eles romances como na Terra.

            P. - De que falam eles?
            R. - Dos mistérios de Deus, das ciências; mas não são escritos da maneira por que o são sobre a Terra, diz-me a minha mãe.

            Noutra página, diz o Espírito da mãe da sonâmbula que, para o conhecimento de altos problemas, há instrutores, que são mais amigos que mestres."

            Eis agora como o Espírito de um sacerdote católico responde a algumas questões:
            P. - A forma da alma que tendes é perfeitamente semelhante à do corpo em que ela habitava?

            R. - Sim.
            P. - Vós dormis e comeis?
            R. - Dorme e come quem quer; isto não é uma necessidade como no Planeta; é mais uma satisfação para aqueles que o fazem.

            P. - Morais numa casa como na Terra?
            R. - Eu estou numa casa; há casas nesta vida, do mesmo modo que sobre a Terra.

            P. - Há também cidades e aldeias?
            R. - Eu não sei como se nomeiam as cidades no céu; basta dizer-vos que há casas. Não me ocupo do resto.

            P. - Quais são as vossas ocupações ordinárias?
            R. - Leio, escrevo e passo parte do meu tempo a aconselhar o bem aos indivíduos inclinados ao mal.

            P. - Podeis então comunicar com eles?
            R. - Sim, com os espíritos deles.

            O espiritista italiano Ernesto Volpi, tendo publicado, em determinado ano, um artigo em que narrava os primeiros albores do Espiritismo no mundo, foi contraditado por alguns espíritas americanos, que disseram não ter sido Kardec o fundador do Espiritismo, porque antes dele já haviam aparecido Davis e Cahagnet.

            Eis como Volpi, em Junho de 1890, a isso respondia, com clareza e exatidão: "Os fundadores do Espiritismo são os Espíritos que sempre e em todos os tempos se têm manifestado. Doutro lado, é bom observar que não falei de Kardec somente, mas da Doutrina que ele compendiou. Neste ponto ele é mais completo que os precedentes, precisamente porque sua sábia capacidade coordenadora pode servir-se também dessas últimas fontes. A Davis e a Cahagnet coube a glória de terem sido os primeiros a recolher os materiais para formar a base do Espiritismo moderno, e a Allan Kardec, a glória de havê-la solidamente estabelecida." Dessa forma, fica definida a posição de Cahagnet na história do Espiritismo, lugar de pioneiro que sempre será lembrado pelo nosso coração agradecido.

            A 10 de Abril de 1885, com 76 anos, desencarnava, em Argenteuíl, o velho batalhador - Cahagnet, a cujo enterro compareceram inúmeros amigos e espiritistas. A esposa, meses depois, o acompanhava.
            O jornal Phare, dos departamentos do Seine-et-Oise e do Sena, publicou um artigo necrológico que a Revue Spirite de 1º de Maio de 1885 transcreveu e do qual registaremos um trecho: "Cahagnet é um exemplo raro do que pode uma firme vontade aliada a uma vasta, inteligência. Ele se tornara, à força de trabalho e perseverança, um erudito, um profundo metafísico, e adquirira, no mundo que se ocupa do Magnetismo e do Espiritismo, distinguido lugar como publicista. Suas diversas obras - e o número é grande -, traduzidas para o inglês e o alemão, valeram-lhe numerosos testemunhos de estima e simpatia. Nada mais curioso e mais interessante a esse respeito que sua volumosa correspondência com sumidades científicas e literárias de todos os países."

            A Cahagnet, pois, rendamos as homenagens do espírito, e ele as merece plenamente.
assina     Zêus Wantuil
in ‘Reformador’ (FEB) Abril 1950