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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO SÓCRATES

Seu nome em grego é Sokrátes. Sua cidade natal foi Atenas, no ano de 469 a . C., tendo nascido filho de um escultor, de nome Sofronisco e de uma parteira, Fenarete.

Fisicamente, era considerado feio, com seu nariz achatado, olhos esbugalhados, uma calva enorme, rosto pequeno, estômago saliente e uma longa barba crespa.

Casou-se com Xantipa e teve três filhos mas dizem que trabalhava apenas o necessário para que a família não viesse a perecer à fome.

Tendo sido proclamado pelo oráculo de Delfos, como o mais sábio dos homens, Sócrates passou a se incumbir de converter os seus concidadãos à sabedoria e à virtude. Considerava-se protegido por um "daimon" , gênio, demônio, espírito, cuja voz, afirmava, desde a infância, o aconselhava a se afastar do mal.

Não tinha propriamente uma escola, mas um círculo de familiares, discípulos com os quais se encontrava, de preferência , no ginásio do Liceu. Em verdade, onde quer que se encontrasse, na casa de amigos, no ginásio, na praça pública, interrogava os seus interlocutores a respeito das coisas que, por hipótese, deveriam saber, fossem eles um adolescente, um escravo, um futuro político, um militar, uma cortesã ou sofistas.

Desta forma, conclue que eles não sabem o que julgam saber e, o que é mais grave, não sabem que não sabem. Por sua vez, ele, Sócrates, não sabe mas sabe que não sabe.

Era considerado um homem corajoso e de muita resistência física. Todos se recordavam de como ele, sozinho, enfrentara a histeria coletiva que se seguira à batalha naval de Arginusas, quando dez generais foram condenados à morte por não terem salvo soldados que estavam a se afogar.

Ele ensinava que a boa conduta era aquela controlada pelo espírito e que as virtudes consistiam na predominância da razão sobre os sentimentos. Introduziu a idéia de definir os termos, pois, "antes de se começar a falar, era preciso saber sobre o que é que se estava falando."

Para Sócrates, a virtude supõe o conhecimento racional do bem. Para fazer o bem, basta, portanto, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, quer dizer, o bem, e o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal voluntariamente.

Foi denunciado como subversivo , por não acreditar nos deuses da cidade, e também corruptor da mocidade. Não se sabe exatamente o que os seus acusadores pretendiam dizer, mas o certo é que os moços o amavam e o seguiam. O convite a pensar por si mesmos atraía os jovens e talvez fosse isso que temessem pais e políticos. Ocorreu também que um dos seus discípulos, de nome Alcibíades, durante a guerra com Esparta tinha se passado para o lado do inimigo. Embora a culpa não fosse de Sócrates, pois a decisão fora pessoal, Atenas buscava culpados.

Foi julgado por um tribunal popular de 501 cidadãos e condenado à morte. Poderia ter recorrido da sentença e, com certeza, receber uma pena mais branda. Entretanto, racional como era, afirmou aos discípulos que o visitaram na prisão:

"Uma das coisas em que acredito é no reinado da lei. Bom cidadão, como eu tantas vezes vos tenho dito, é aquele que obedece às leis de sua cidade. As leis de Atenas condenaram-me à morte, e a inferência lógica é que, como bom cidadão, eu deva morrer."

É Platão quem descreve a morte do seu mestre, no diálogo Fédon. Sócrates passou esta noite a discutir filosofia com seus jovens amigos. O tema, "Haverá uma outra vida depois da morte?"

Embora fosse morrer em poucas horas, discutiu sem paixão sobre as probabilidades de uma vida futura, ouvindo mesmo as objeções dos discípulos que eram contrários à sua própria opinião.

Quando o carcereiro lhe apresentou a taça de veneno, em tom calmo e prático, Sócrates lhe disse:

"Agora, você que entende dessas coisas, diga-me o que fazer."

"Beba a cicuta, depois levante-se e passeie até sentir as pernas pesadas, respondeu o carcereiro. Então, deite-se, e o torpor subirá para o coração."
Sócrates a tudo obedeceu. Como os amigos chorassem e soluçassem muito, ele os censurou. Seu último pensamento foi de uma pequena dívida que havia esquecido. Afastou a coberta que lhe haviam colocado sobre o rosto e pediu:

"Crito, devo um galo a Esculápio...Providencie para que a dívida seja paga."

Fechou os olhos e cobriu novamente o rosto. Quando Crito tornou a lhe indagar se tinha outras recomendações a fazer, ele não mais respondeu. Havia penetrado o mundo dos espíritos. Era o ano 399 a .C.

Sócrates nada escreveu e sua doutrina somente nos chegou pelos escritos de seu discípulo Platão. Ambos, mestre e discípulo, são considerados precursores da idéia cristã e do espiritismo, tendo o Codificador dedicado as páginas da introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo para esse detalhamento.

O nome de Sócrates se encontra especialmente em Prolegômenos de O livro dos espíritos, logo após o de O espírito da verdade, seguido de Platão. Ainda encontramos seus comentários aos itens 197 e 198 de O livro dos médiuns, no capítulo que trata dos médiuns especiais, demonstrando que o trabalhador verdadeiro não cessa suas atividades, embora a morte do corpo fisico e de que, afinal, somos verdadeiramente uma só e única família universal: espíritos e homens , envidando esforços para o atingimento da Perfeição.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 19.
Grandes vidas, grandes obras , Seleções do Reader's Digest, 1968.
Jornal Mundo Espírita - Dezembro de 2000


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domingo, 10 de agosto de 2014

EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO PLATÃO

É pelos frutos que se conhece a árvore. Toda ação deve ser qualificada pelo que produz: qualificá-la de má, quando dela provenha mal; de boa, quando dê origem ao bem."

Estas palavras bem podem soar, para quem já leu o Evangelho, como palavras textuais do Senhor Jesus.

Contudo, foram anotadas e dadas ao mundo séculos antes de Jesus, por Platão, filósofo grego, discípulo de Sócrates. Seu nascimento data do ano 428 ou 427 a C, na cidade de Atenas, na Grécia.

Pertencente à alta aristocracia, em torno dos seus 20 anos, conheceu e tornou-se amigo do filósofo Sócrates, a quem acompanhou até os seus últimos dias e de quem anotou os ensinos, graças ao que nos chegaram aos dias atuais.

Empreendeu viagem ao Egito e à Itália meridional. Na Sicília freqüentou a corte de um tirano de Siracusa de nome Dionísio. Desejando influir na política da cidade, terminou por se incompatibilizar com Dionísio, que o mandou vender como escravo, na ilha de Egina, que se achava em guerra com Atenas.

Resgatado, retornou para sua cidade natal onde, em torno dos seus quarenta anos, fundou a Academia, na qual ensinou até o final dos seus dias terrenos.

Fácil de se entender porque ele e Sócrates são considerados precursores da idéia cristã e do Espiritismo, bastando se leiam alguns dos seus escritos. A obra kardequiana O evangelho segundo o Espiritismo apresenta pequenos trechos que se referem ao conceito dos dois filósofos gregos a respeito da alma, seu progresso, a reencarnação, o mundo espiritual e seus habitantes, bem assim a respeito das mais excelsas virtudes, exatamente traçando um paralelo entre aquelas idéias, as do Cristo e, por conseqüência, os princípios fundamentais do Espiritismo.

Considerado um dos filósofos mais influentes de todos os tempos, pois que seu pensamento dominou a filosofia cristã antiga e medieval, seus escritos nos legaram o pensamento socrático, bem assim os relatos comoventes dos últimos dias de seu mestre. Criador pessoal ainda do diálogo filosófico, espécie de drama de idéias.

Sua obra O Banquete é considerada uma das maiores da literatura antiga. Como poeta, seu estilo é o ponto mais alto da prosa grega e o demonstra nos seus poemas em prosa do mito da Caverna, da Atlântida e de Eros.

Escreveu ele "O amor está por toda parte em a Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor."

As obras de Platão discorrem sobre a mentira, a natureza do homem, a piedade, o dever, o belo, a sabedoria, a justiça, a coragem, a amizade, a virtude. No livro VII da República, ele apresenta o célebre mito da caverna: acorrentados no interior de um cárcere subterrâneo e de costas voltadas para a entrada por onde penetra a luz, os que estão ali presos somente podem ver dos homens, dos animais e de tudo o mais que se encontre no exterior da caverna, as sombras que se projetam no fundo dela.

Um homem que consegue se libertar, ofusca-se com a luz do sol no exterior e descobre que tudo o que vira até então era a irrealidade. Ali estava o mundo real. No entanto, se retornar ao interior e desejar transmitir aos demais, ainda prisioneiros, o que viu, sente que corre o risco de ser maltratado e até morto. Esta, segundo Platão, é exatamente a missão do filósofo.

Tendo desencarnado, pleno de lucidez e força criadora, aos 80 anos de idade, da espiritualidade, unindo-se a tantos outros espíritos de envergadura intelecto-moral, Platão continua na sua missão, revelando as nuances do mundo espiritual, o mundo do sol ofuscante, o mundo real, verdadeiro.

Seu nome é citado em Prolegômenos de O livro dos espíritos, bem assim assina um dos trechos da resposta à questão 1009 da mesma obra, onde falando a respeito da inexistência das penas eternas bem recorda as exortações de Sócrates, quando ao seu tempo, apresentou a alma migrando através de múltiplas existências, em seguida a mais ou menos longos períodos de erraticidade.

E conclui: "Humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na idéia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo."

Pesquisa:

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Rio de Janeiro, 1974. perg. 1009.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo,
Rio de Janeiro, 1987. introdução.
Enciclopédia Mirador Internacional, vol 16,
verbete: Platão

Jornal Mundo Espírita - Janeiro de 2001


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sábado, 7 de junho de 2014

O SEGREDO DE ALLAN KARDEC

Homenagem ao sesquicentenário de “O Evangelho segundo o Espiritismo” (1864-2014).

Adilton Pugliese

Relata o escritor Richard Simonetti, que “no livro A República, Platão, filósofo grego que viveu entre 428 e 348 a.C., coloca nos lábios do também filósofo grego Sócrates (470 a.C.-399 a.C.), interessante metáfora, ou seja, um sentido figurado, relacionada com nossa visão da realidade: numa caverna vivem seres humanos. Ali nasceram. Dali nunca saem. Estão acorrentados, em tal disposição, que só podem observar o que está à sua frente. Por trás deles arde uma fogueira. A luz do fogo projeta sombras na parede. É tudo o que veem. Seu mundo é feito de sombras”.

O que pode ser deduzido dessa imagem, dessa metáfora que ficou conhecida como o mito da caverna? “A caverna simboliza as limitações impostas pelos sentidos e pela ignorância. Impedem as pessoas de ver o mundo real, que Platão chama universo das ideias. A fogueira é a experiência sensorial que pouco ilumina, projetando sombras de ilusão nas paredes existenciais”.

“Alguém desenvolve a sensibilidade, supera a ignorância, conquista o saber, e então, deixa a caverna. Num primeiro momento, deslumbra-se com a luz solar, a visão gloriosa da Natureza. Lamenta o tempo perdido, o comprometimento com as sombras... Decide ajudar os companheiros com sua experiência. Não é bem recebido. Não acreditam nele. Julgam que está delirando. Hostilizam-no”.(1)

Muitas criaturas na humanidade terrestre estão prisioneiras em suas cavernas íntimas. Como libertar-se do esconderijo, das prisões invisíveis ou visíveis que as prendem? Idealistas consideram que somente subvertendo a ordem, por meio de uma revolução, de conquistas, de um motim, de movimentos guerreiros e libertários.
Destacam historiadores que “nos séculos XI ao XIII oito expedições foram empreendidas pela Europa cristã da época, num movimento que ficou conhecido como Cruzadas, para libertar o chamado Santo Sepulcro das mãos dos muçulmanos, fato que aconteceu a partir de um Concílio realizado na cidade de Clermont em 1095 e que durou até 1291. Aos gritos de Deus o quer! foram quase duzentos anos de operação militar, sem que o objetivo fosse alcançado. É como se o mundo espiritual quisesse dizer aos homens: o importante não é onde o corpo de Cristo foi sepultado, mas seguir os Seus ensinamentos, pois são eles que conduzem a criatura na direção do seu progresso espiritual. São eles que libertam”.

Jesus sabia dessas lutas que os homens empreenderiam para libertar coisas e objetos, lugares e povos; para nos libertarmos dos vícios, das paixões e da violência e sintetizou, há mais de dois mil anos, o meio de conseguirmos a liberdade: “Então conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.(2) O que seria essa verdade? Onde e como encontrá-la?

Permita-me o leitor um depoimento pessoal. Estive, um dia, preso na caverna das ilusões, da insegurança e da incerteza, numa cruzada em busca de quimeras, até que num sábado à noite, há quase 40 anos, meu pai colocou em minhas mãos um livro extraordinário, de conteúdo libertador. Esse livro tem uma história e podemos dizer que ela começa no mesmo dia em que Allan Kardec publicou em Paris O Livro dos Espíritos.

Após os acontecimentos que envolveram a sua iniciação no Espiritismo, entre os anos de 1854 e 1855, o professor H.L.D. Rivail entra em contato, em fins de 1856, com o livreiro Dentu, na Rue Montpensier, no Palais Royal, em Paris, apresentando-lhe os manuscritos de O Livro dos Espíritos, em cuja capa grafara o pseudônimo que adotara para caracterizar o autor: Allan Kardec, seu antigo nome quando da reencarnação na personalidade de um sacerdote druida, conforme lhe fora revelado pelo Espírito Z..., ou Zéfiro.(3)

Cerca de quatro meses depois, exatamente em 18 de abril de 1857, pela manhã, retornavam da tipografia 1.200 volumes da primeira edição de O Livro dos Espíritos, de capa cor cinza, com 501 perguntas.(4) O livreiro conversava com seu amigo, o jornalista Du Chalard, do jornal Courier de Paris, a quem presenteara com um exemplar do livro, dizendo-lhe: “Este é o trabalho mais sério até hoje publicado na França, sobre os Espíritos; é uma obra edificante e serena”, e pede-lhe que dê, depois de ler o livro, o seu parecer aos leitores do jornal.(5)

E, efetivamente, mais tarde, na edição de 11 de junho de 1857, Du Chalard publica extenso artigo de sua autoria: “O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos convencidos de que esta página será assinalada (...). Não conhecemos o autor, mas confessamos, abertamente, que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Quem escreveu a introdução de O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres”. “A todos os deserdados da Terra, a todos quantos avançam ou caem, regando com as lágrimas o pó da estrada, diremos: lede O Livro dos Espíritos; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que em seu caminho só encontram as aclamações da multidão e os sorrisos da fortuna, diremos: estudai-o e ele vos tornará melhores”.(6)

Um abade francês, de nome Leçanu, autor de um livro chamado História de Satanás, assim diz no seu livro: “Observando-se as máximas de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, faz-se o bastante para se tornar santo na Terra”. O escritor francês Victorien Sardou (1831-1908), leu a obra e antes mesmo de haver chegado ao fim da leitura, escreveu a Kardec elogiosa carta, destacando que O Livro dos Espíritos é o livro da vida, é o guia da humanidade.(7)

É com esses e outros depoimentos que Allan Kardec iniciaria a fase de Elaboração da Codificação. Declara Hermínio Miranda (1920-2013), ao analisar “A Obra de Kardec e Kardec diante da Obra”(8): “Concluindo o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo. É preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos. Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, ele prepara e lança, em Paris, em janeiro de 1861, O Livro dos Médiuns. Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não seria preciso criar uma nova moral, já existia a do Cristo”.

Então, durante uma parte do ano de 1863, Allan Kardec guardou um segredo: ele estava escrevendo uma nova obra e a ninguém dera ciência do assunto; até o Sr. Didier, o seu Editor, somente tomou conhecimento da existência da obra quando do envio para impressão.
Em 9 de agosto resolve ouvir os Espíritos acerca do seu segredo, sobre o que eles pensavam a respeito, e obtém como resposta, para surpresa do Codificador, que “O novo livro teria considerável influência, pois que abordava questões capitais, e que não só o mundo religioso encontraria nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes”. E os Espíritos elogiam Kardec por ter abordado, no livro, as questões de alta moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, sociais e religiosos. Os Espíritos preveem que com esse livro Kardec teria grandes dificuldades e que seria violentamente atacado pelo clero da época (que se sentiria muito mais ferido do que com a publicação de O Livro dos Espíritos), mas declaram que confiam nele, na sua resistência, e dizem: “Ao te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de bronze, resistiria a todos os ataques”.(9) (grifamos)

A esse novo livro Allan Kardec dera, preliminarmente, o título de Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo. Porém, mudou-o para O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (a partir da segunda edição, em 1865), publicado como a terceira obra da Codificação Espírita, em abril de 1864. A reação foi a Sagrada Congregação do Index, em 1o de maio de 1864, incluir no seu catálogo todas as obras de Kardec sobre o Espiritismo(10)! Causou estranheza a medida extemporânea, mas logo foi compreendido que O Evangelho Segundo o Espiritismo provocara a decisão.

Foi esse livro que meu pai colocou em minhas mãos e eu coloquei no meu coração, e que mudaria a minha vida, certamente, para sempre. Na Introdução do livro, Allan Kardec explica o objetivo da obra: cada pessoa poder tirar dela os meios de conformar sua conduta moral à do Cristo. Enfatiza o Codificador que os espíritas nela encontrarão as aplicações que lhes concernem mais especialmente. O ensino moral, portanto, é a tônica fundamental de O Evangelho Segundo o Espiritismo e Kardec explica por que se fixou nessa parte das matérias contidas nos Evangelhos:(11)
– A parte moral exige a reforma de cada um.
– É uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida.
– É o caminho infalível da felicidade futura.
– É o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça.
Realmente, a montagem da estrutura didática de O Evangelho Segundo o Espiritismo teve duas finalidades: (1) A explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e (2) Aplicações às diversas circunstâncias da vida, como Kardec exarou no frontispício da obra. Por que este livro, O Evangelho Segundo o Espiritismo, se tornou a obra espírita mais lida e aceita pelos brasileiros, com milhões de exemplares impressos em suas edições, sobretudo por parte da FEB Editora?

Pode-se afirmar que uma questão de fundamental importância da moral do Cristo, em nossas existências, é quanto às consequências de sermos espíritas. Conforme declara Deolindo Amorim (1906-1984), ao estudarmos a Doutrina, conhecemos a sua origem, sua constituição e sua natureza, mas, se depois de tudo isso, não resultasse daí alguma consequência, a Doutrina seria apenas indagação pura, ou, quando muito, simples “devaneio filosófico”. O coroamento de tudo quanto estudamos no Espiritismo está justamente na influência que os seus princípios devem ter nos atos de nossa vida.(12)

Saudamo-lo, então, Livro Luz¸ nos seus 150 anos de existência, e que as suas páginas, que expressam o amor de Jesus pela humanidade, possam continuar a iluminar as nossas vidas, para sempre, libertando os que se encontram nos redutos da ilusão e nas cruzadas das conquistas efêmeras.

Texto revisado pelo prof. Luciano Urpia.

1. SIMONETTI, Richard. Luzes no Caminho. 1ed.CEAC Editora, p.59.
2. JOÃO 8:32.
3. WANTUIL, Zeus. THIESEN, Francisco. Allan Kardec – Volume II, 1ed.FEB, p.74.
4. ABREU, Canuto. O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária, 1ed. Edições LFU, p.42.
5. IDEM, Ibidem, p.43 e 44.
6. WANTUIL, Zeus. THIESEN, Francisco. Allan Kardec – Volume II, 1ed.FEB, p.83.
7.. IDEM, Ibidem.
8. MIRANDA, Hermínio. Nas Fronteiras do Além. 1ed. FEB, p.16.
9. KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 1ed. FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, p.399.
10. WANTUIL, Zeus. THIESEN, Francisco. Allan Kardec – Volume II, 1ed.FEB, p.289.
11. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, 131ed. FEB, edição histórica, tradução de Guillon Ribeiro, Introdução.
12. DEOLINDO, Amorim. Doutrina Espírita. 1ed. Círculo Espírita da Oração, p.77.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

FORA DA CAVERNA - UM CASO EUROPEU ATUAL

 UM CASO EUROPEU ATUAL
Ana Vargas
Aproximadamente 400 a.C, Platão escreveu o mito da caverna. Resumidamente, conta a istória de pessoas para quem o mundo era a caverna onde viviam e a vida fora dela era algo ameaçador que elas contemplavam e conheciam pelas sombras projetadas nas paredes. É incrível como Platão consegue manter-se atual e aplicável ainda hoje, passados 2400 anos. Ainda encontramos criaturas com mentes fechadas, temerosas do que julgam ser “novo”, apenas porque não faz parte da caverna onde está. O magnetismo, no meio espírita brasileiro, enquadra-se bem nesse caso. E quando sai da caverna deslumbra-se com a beleza do que há lá fora, às vezes retorna, decidido a contar, a falar o que viu, o que descobriu, o que experimentou,o quanto se pode fazer e como isso pode nos ajudar a entender que somos seres espirituais e viver essa realidade, aqui e agora, também. A vida espiritual também sai da expectativa do amanhã, do depois da morte, e vem para a realidade do hoje. Mas daí descobre que o medo, o orgulho e a preguiça causam surdez psicológica (esse diagnóstico é meu, ainda não foi reconhecido por nenhum órgão oficial), pois ele simplesmente é ignorado, quando não transferido à categoria dos “não vistos”.


Caros amigos, esse breve comentário é para provocar a nossa reflexão. Mostrando que além da caverna existe muito que não conhecemos, traduzo abaixo a experiência de um magnetizador francês, Laurent Lefebvre. Não foi realizada em 1700 ou em 1800, foi neste ano, em janeiro de 2013, em Nancy, França. Recebo o jornal que distribuem “La Journal Spirite, La Revue du Circle Spirite Allan Kardec de Nancy”, não os conheço pessoalmente, mas há alguns anos acompanho o trabalho deles e noto muita seriedade e conhecimento teórico e prático de Magnetismo e Espiritismo. Estão fora da “nossa caverna”, vale a pena conhecer e saber que fora daqui e dos nativos brasileiros, também há vida, e vida em abundância. É confortador sabermos que não somos o “povo escolhido”, nem os detentores da verdade. Talvez o que falte por aqui seja coragem e humildade para sair da caverna. Analisemos, pensemos, não tenhamos medo de mudar, aprender, de buscar ser feliz em tudo que fazemos, só assim cresceremos como pessoas humanas.

CURA MAGNÉTICA DA ENXAQUECA

Laurent Lefebvre

Em janeiro passado, A.P, uma jovem, me pediu atendimento magnético. Tratava-se de um caso de enxaqueca e para avaliar o mais bem possível seu problema de saúde e ver em que medida atuar para aliviá-la, combinamos uma entrevista inicial. Expliquei-lhe o princípio de funcionamento do nosso trabalho e a origem dos eventuais cuidados que poderia oferecer-lhe. Com efeito, a fim de dar ao magnetismo a máxima eficácia, os magnetizadores da nossa associação seguem precisamente as recomendações dos Espíritos para curar. Assim, para determinadas patologias, temos recebido Espíritos médicos, em reuniões mediúnicas, que definem um protocolo preciso de atendimento que consiste em uma sucessão de movimentos e imposições a ser executados.

Desta maneira, a energia magnética é colocada o mais exatamente possível sobre os locais do corpo que devem ser reequilibrados. O magnetismo chega então ao perispírito do paciente em forma vibratória e energética, repercute em suas células e no psiquismo da pessoa.
Depois de haver aceitado a origem das curas, AP descreveu-me em detalhes sua patologia. A trinta e um anos sofre de fortes enxaquecas recorrentes. Esse problema começou quando tinha dez anos e tem afetado sua vida diária.

As enxaquecas são muito frequentes, três a quatro vezes por semana, e podem durar dois dias seguidos, deixando-a incapaz de sair de casa. É obrigada a ficar no escuro, em silêncio e também não se alimenta para evitar as náuseas.

Quando era criança, as enxaquecas eram acompanhadas de sangramentos no nariz.

A.P estava grávida de seis meses e, por consequência, os medicamentos que poderiam aliviá-la estavam proibidos.

Para atuar sobre a enxaqueca propus dois atendimentos magnéticos:
um para favorecer a circulação na cavidade craniana e a outra para ajudar a evacuar congestões e coágulos. Estas duas ações são co mplementares e favoreceriam a circulação sanguínea no cérebro. Se a origem da enxaqueca está vinculada, em parte, a uma má irrigação do cérebro, o magnetismo atuará com eficácia. Igualmente, desejei dar-lhe serenidade, pois o estresse também pode provocar dores de cabeça. Mas, como A.P. espera um filho, obrigome a aplicar-lhe também o atendimento específico a uma mulher grávida. Esta ação produzirá relaxamento e facilitará a telepatia natural com a criança por nascer. Esta relação telepática é descrita nestes termos: “A mulher grávida necessita relaxar, libertar-se das tensões, reconhecer nela um profundo sentimento de tranquilidade  e doçura. A mulher grávida está em permanente telepatia com seu filho. E o auxílio magnético pode facilitar para que essa telepatia se desenvolva nas melhores condições” (grifo no original). Era, então, por meio da aplicação destas diferentes técnicas complementares que eu iria trabalhar.

Após nossa entrevista e para não perder tempo propus a A.P o início imediato das sessões.

Com seu consentimento, executei sucessivamente passes magnéticos e imposições, começando pelo atendimento específico para mulheres grávidas, depois as outras para circulação cerebral. Esse  trabalho durou aproximadamente trinta minutos. Era preciso fazer, segundo o protocolo definido, passes longitudinais, imposições das mãos com ou sem pressão, e utilizar o sopro.

Ao fim da primeira sessão, combinamos o retorno para a próxima semana e avaliarmos durante esse tempo os progressos realizados.

Em sua segunda visita, narrou uma considerável diminuição das dores. As enxaquecas haviam diminuído de intensidade, embora persistissem, já não eram as mesmas que havia suportado até então. Seguimos com esse protocolo por dois meses com cinco ou seis sessões, com intervalos de uma ou duas semanas, conforme as disponibilidades da paciente.

A cada nova sessão, A.P dizia estar melhor, fato notável por conta de sua patologia. Teve efeitos notórios desde a primeira sessão.
O resultado foi muito convincente e se, todavia, ainda sofre algumas enxaquecas, são esporádicas, são mais espaçadas e de pouca intensidade.
Assim, A.P encontrou equilíbrio em seu cotidiano e os atendimentos feitos permitiram-lhe dar a luz com maior serenidade.

Comprovamos que o magnetismo é uma energia que utilizada em boas condições pode atuar eficazmente em situações nas quais a medicina e os medicamentos mostram seus limites.

O reconhecimento oficial da ação magnética dará nascimento a uma medicina complementar e, em certos aspectos, mais respeitosa da natureza humana. O magnetismo pode fazer muito, mas na medida em que for utilizado convenientemente e com método. E é na base dos conselhos de Espíritos médicos e magnetizadores desencarnados onde repousa a essência do magnetismo espírita e o caracteriza.□

(Texto traduzido da versão em espanhol do Le Journal Spirite, La Revue Du Circle Spirite Allan Kardec de Nancy, nº 93 – Julho a Setembro, 2013, coluna Cuidados Espíritas, texto: 
Curaciones magnéticas de migrañas, de Laurent Lefebvre)


O MITO DA CAVERNA

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo  que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.

A luz que ali entra provém de uma imensa a alta fogueira externa. Entre eles e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede no fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginavam que as sombras vistas eram as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.

Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.

Num primeiro momento ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.

Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando- o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

Extraído de A República de Platão
Fonte: www.historianet.com.br

PLATAO

Este importante filósofo grego nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. É considerado um dos principais pensadores gregos, pois influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas ideias baseiam-se na diferenciação do mundo entre as coisas sensíveis (mundo das ideias e a inteligência) e as coisas visíveis (seres vivos e a matéria).Filho de uma família de aristocratas, começou seus trabalhos filosóficos após estabelecer contato com outro importante pensador grego: Sócrates. Platão torna-se seguidor e discípulo de Sócrates. Em 387 a.C, fundou a Academia, uma escola de filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos socráticos. Convidado pelo rei Dionísio, passa um bom tempo em Siracusa, ensinando filosofia na corte. Ao voltar para Atenas, passa a administrar e comandar a Academia, destinando mais energia no estudo e na pesquisa em diversas áreas do conhecimento: ciências, matemática, retórica (arte de falar em público), além da filosofia. Suas obras mais importantes e conhecidas são: Apologia de Sócrates, em que valoriza os pensamentos do mestre; O Banquete, fala sobre o amor de uma forma dialética; e A República, em que analisa a política grega, a ética, o funcionamento das cidades, a cidadania e questões sobre a imortalidade da alma.

Fonte: http://www.suapesquisa.com/platao/


JORNAL VÓRTICE ANO VI, N.º 04 - SETEMBRO - 2013