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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

MELINDRES


Richard Simonetti

Melindres

Indagado sobre problemas de relacionamento humano, disse Chico:

    Existem pessoas que se sentem ofendidas, magoadas por qualquer coisa: à mais leve contrariedade, se sentem humilhadas... Ora, nós não viemos a este mundo para nos banhar em águas de rosas... Somos Espíritos altamente endividados - dentro de nós o passado ainda fala mais alto...  Não podemos ser tão suscetíveis assim...

 Com a sabedoria de sempre, há todo um tratado de bem viver em suas singelas expressões.

Muitos problemas seriam evitados se as pessoas se dessem ao trabalho de cogitar dos objetivos da existência.

Não somos fruto do acaso, a partir do encontro de um óvulo com espermatozoide vencedor.

Vivíamos antes do berço.

Viveremos após o túmulo.

Transitamos pela Terra pilotando o corpo, máquina frágil que precisa ser alimentada e cuidada.

A todo momento apresenta desajustes e dores que exigem cuidados e, não raro, nos oprimem.

E convivemos com pessoas que guardam limitações semelhantes, sob a regência do egoísmo, esse vilão das almas, a sustentar as dores e confusões do Mundo.

 Estimaríamos, no relacionamento humano, banhar-nos em rosas, guardando inefável tranquilidade e inalterável bem-estar.

Ocorre que isso nunca acontece em plenitude, porquanto há sempre espinhos que nos ferem a sensibilidade, impostos pela convivência com desafetos da Terra e do Além.

O problema, amigo leitor, não está na contundência dos espinhos, mas, como afirma Chico, em nossa suscetibilidade, que se exprime na facilidade em nos melindrarmos.

É como uma alergia.

Há pessoas que podem comer quilos de queijo, sem problema algum. Outras ficam com o rosto deformado pelo inchaço, ingerindo mínima porção.

O melindre é a alergia da alma.

Um mínimo de contrariedade e eis o estrago feito, promovendo transtornos em nosso ânimo.

Para vencer a alergia física há uma terapia de dessensibilização, com o suporte medicamentoso a ser aplicado com critério e perseverança.

Para vencer a alergia espiritual, que tanto nos perturba e aborrece, é preciso arejar a alma, com o exercício perseverante da humildade.

Alguém alegará:

– Como pode ser a humildade o remédio para o melindre se é justamente por sermos humilhados que nos sentimos melindrados?

Quem assim questiona está confundindo humildade com humilhação.

A humilhação é a sensação de rebaixamento, de discriminação. Julgamos que alguém nos boicotou, diminuiu ou menosprezou…

A humildade é a consciência de nossas próprias limitações, que nos induz a não nos julgarmos melhor do que ninguém.

É simples entender.

Se sou humilde, nunca me sentirei humilhado.

Se me sinto humilhado, humilde não sou.

 Proclama Jesus (Lucas, 17:21):

  …o Reino de Deus está dentro de vós.

 Isso significa que entrar no Reino é realizá-lo em nossa própria consciência, em inefável tranquilidade interior.

Jesus nos indica como fazê-lo, em O Sermão da Montanha (Mateus, 5:3):

 Bem-aventurados os humildes, porque deles é o Reino de Deus.

 Olhe aí, amigo leitor, mais uma vez a humildade!

É muito mais do que um remédio para a alergia da Alma!

É o passaporte para estados de beatitude na consciência, o Reino em nós, sem as escuras nuvens de indesejável suscetibilidade.

richardsimonetti@uol.com.br

OS FENÔMENOS ANÍMICOS E O ESPIRITISMO



Há mais de 10 anos conheço uma jovem que, vez ou outra, passa por certas dificuldades, as quais acontecem com ela desde criança. São crises de ausência, transe prolongado, força física exacerbada, saídas conscientes do corpo, percepções extrasensoriais, etc., sendo tudo isto reputado a um prolongado e difícil problema obsessivo. Tratamentos desobsessivos foram tentados ao longo do tempo com poucos resultados positivos.
Não faz muito tempo, ao ler Magnetismo Espiritual de Michaellus, a “ficha foi caindo” a cada capítulo. Descobri que esta irmã é sonâmbula.
Ficou claro para mim, naquele momento, o porquê do desdobramento consciente, da insensibilidade física, da dupla vista. Aquilo que sempre foi tido à conta de obsessão, nada mais é do que sonambulismo natural que, mal orientado, tem provocado distúrbios diversos na vida dela e dos que lhe rodeiam. Como foi possível ninguém ter percebido esta ligação?
Inclusive eu, nunca tinha pensado nesta possibilidade até a leitura do livro, o que me causa uma certa vergonha.
Afinal de contas, Kardec deixou um capítulo inteiro (e extenso) escrito em O Livro dos Espíritos sobre os fenômenos anímicos intitulado “Emancipação da Alma”.
Nas demais obras da Codificação existem muitas referências ao assunto, tanto quanto na Revista Espírita nos seus diversos volumes.
E eu que já li e reli O Livro dos Espíritos inúmeras vezes!
Será que estamos sabendo estudar Kardec? De outra forma: será que estamos dando o devido valor às obras do codificador? Quantos espíritas será que existem que fazem confusão entre os fenômenos anímicos e os fenômenos mediúnicos e que todo tipo de dificuldade enfrentada, remete à influência dos Espíritos? Conhecer então a importância do sonambulismo para o Espiritismo... nem pensar. Para ilustrar, transcrevo abaixo o e-mail que uma amiga espírita me enviou.

Trabalho em um Centro Espírita onde estudamos a polaridade como uma técnica de passe (se é que assim posso dizer). Estudamos um livro de Richard Gordon "A cura pelas mãos". Daí comecei a sentir dores pelo corpo no momento de aplicação.
Curiosamente eu senti uma dor na perna esquerda em um paciente e, quando ele voltou, oito dias depois, mancava e sentia dor na mesma perna (lá nós não comentamos nada com os pacientes, às vezes sutilmente percebemos ou o mesmo fala); depois comecei a ver manchas escuras que passeiam pelo corpo; certa feita vi minha mão entrar no corpo e voltar com algo redondo e escuro e tinha a sensação que segurava algo. Quando toco nos pacientes, às vezes é como se suas células conversassem comigo e me dissessem de “algo” fisico ou psíquico. Recentemente, vejo por dentro do corpo humano como um ultrassom de última geração em 3D e colorido. Não são em todos os pacientes, varia muito. Vejo médicos, cirurgias e, por vezes, com auxílio de irmãos espirituais alivio dores. Em outros momentos aumento estas dores. Até agora fiquei quieta, achei que o telefone só toca de lá prá cá. Mas, como vem aumentando os detalhes, acho que devo aprender e auxiliar os “amigos”. Só não sei como, às vezes fico na dúvida do que sinto e vejo e nada falo aos amigos médiuns que me cercam. Antes que você pense, não tenho formação na área de saúde. Depois disso tudo, leio e, quando vejo os orgãos, recorro aos mapas de anatomia e fico pasma, são iguais. O que devo fazer? Você pode me ajudar? As pessoas que converso aqui me dizem que estou em desenvolvimento mediúnico, faz oito anos, que tudo isso acontece. Já esperei demais sem me aprofundar, sei que os amigos espirituais precisam de instrumentos afinados. Agradeço mais uma vez.
Muita paz.

Dá para imaginar o drama desta irmã, possuindo inúmeras faculdades valiosas que podem e devem ser utilizadas para beneficiar o próximo, porém, sem conhecimentos adequados por parte dela e das pessoas com as quais convive nas atividades do Centro Espírita.
Aquilo que se tem entendido como mediunidade, pode-se ver que é fenômeno anímico, ou seja, faculdades da própria alma encarnada, como por exemplo, percepções e sensações com relação às desarmonias do paciente, visão interna dos órgãos físicos, dupla vista. Ao que parece, existe uma capacidade mediúnica, porém complementada por uma bela faculdade anímica. São, portanto, recursos medianímicos que necessitam de estudo por parte da sua portadora e de todos os envolvidos, a fim de se encontrar formas adequadas de aproveitá-los para o benefício do próximo.
Muitas Casas Espíritas não contemplam estes assuntos em seus estudos doutrinários. Além do mais, as pessoas não podem comentar o que sentem e, quando comentam, recebem respostas ou explicações evasivas e superficiais. Os pacientes também não podem relatar o que sentem a fim de se fazer um acompanhamento eficiente das suas problemáticas. E quanto se aprenderia com estes relatos! Sendo assim, é preciso adequar as estruturas de trabalho pois, do contrário, pode-se simplesmente desperdiçar estas oportunidades por não se saber lidar com elas ou por força de uma estrutura que não condiz com os instrumentos humanos e psíquicos disponíveis.
Inúmeras “Casas” não oferecem condições nos seus trabalhos de cura para que se possa acompanhar a situação do paciente ao longo do tratamento, nem estabelecem trocas de experiência entre os trabalhadores, onde facilmente se detectaria as ansiedades e angústias de pessoas como a autora do e-mail acima.
Não é à toa que o magnetismo e o sonambulismo são tão desconhecidos por nós espíritas, o que realça a nossa ignorância. Logicamente, não estou generalizando pois há inúmeros companheiros que se dedicam ao aprendizado teórico e prático destes fenômenos que formam a base do Espiritismo. É do conhecimento de todos, acredito, que toda mediunidade tem seu pilar de sustentação nos fenômenos de emancipação da alma.
Evolutivamente, a faculdade mediúnica surgiu a partir do momento em que o espírito encarnado desenvolveu a capacidade de dissociar-se do corpo físico iniciando, cada vez de forma mais direta, os contatos com os seres de outras dimensões que, aos poucos, procederam ao processo de transmissão mental através do indivíduo em transe, vindo, com o tempo, a surgirem as mais variadas nuances mediúnicas tão bem estudadas por Allan Kardec e que compõem as suas obras.
Os fenômenos anímicos se revestem da maior importância para a ciência magnética no ponto em que esta engloba desde a telepatia e a visão à distância, passando pela dupla vista, catalepsia e letargia até chegar ao êxtase, dentre outros. Todas estas variações da emancipação da alma já eram conhecidas dos magnetizadores antigos, inclusive de Kardec, mesmo antes do surgimento da Doutrina Espírita.
Através do sonambulismo, por exemplo, os magnetizadores detectaram a existência do Espírito como princípio imortal no ser humano.
O sonâmbulo, que a maioria das pessoas só conhece como sendo alguém que acorda no meio da noite e caminha pela casa (sonambulismo natural), era utilizado largamente pelos magnetizadores durante os tratamentos, quando a faculdade se manifestava espontaneamente no paciente, como meio de diagnóstico e orientação quanto ao método de cura. Estes indivíduos que conseguiam realizar as maiores proezas psíquicas como enxergar o interior do seu corpo físico e detectar as doenças, ver através das paredes ou de qualquer corpo opaco, ler com os olhos vendados, captar pensamentos, ver à distância, tornar-se insensíveis à dor, etc., provavam, através destas faculdades, que existe algo no ser humano que não pode ser físico pois que transcende a todas as possibilidades de realização dos sentidos físicos.
E saber que Kardec estudou tudo isto e colocou na Codificação Espírita. Pena que nos grupos de estudo, nas palestras, seminários, congressos, etc. este tema é tão pouco abordado. Não é que dou menor valor à mediunidade, em hipótese alguma, mas é que nós encarnados somos também Espíritos. E todas as faculdades que aqui relatamos, e ainda outras, fazem parte da herança espiritual que carregamos. Somos dotados destas capacidades em menor ou maior grau por que somos Espíritos. E muita gente as possui sem se dar conta, muitas vezes confundindo com mediunidade ou mesmo com obsessão.
A única saída é repensarmos a nossa maneira de estudar e aprender Kardec. Deixar de lado o “fulano disse que é assim” ou “o Espírito tal disse que é assim” e voltarmos a usar a lógica que Kardec sempre utilizou. E em matéria de lógica Kardec é exemplar.

Alguns fenômenos anímicos definidos por Kardec:

SONO: momento de repouso do corpo quando o Espírito, aproveitando que os laços que o ligam ao corpo afrouxam-se e não precisando este último da sua presença, se lança no espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.

SONHO: é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Nem sempre sonhamos por que nem sempre nos lembramos do que vimos ou de tudo que vimos. Devido a não termos a alma em pleno desenvolvimento das faculdades, não nos resta mais do que a lembrança da perturbação que acompanha a partida ou o regresso ao corpo, à qual se junta a lembrança do que fizemos ou do que nos preocupa no estado de vigília.

TELEPATIA: comunicação de pensamento com outros Espíritos, encarnados ou desencarnados, mesmo em vigília, embora o faça mais dificilmente.

LETARGIA: perda momentânea da sensibilidade e do movimento. A suspensão das forças vitais se dá de forma geral dando ao corpo todas as aparências da morte.

CATALEPSIA: semelhante à letargia, só que de forma localizada, podendo afetar uma parte mais ou menos extensa do corpo e deixando a inteligência livre para se manifestar.

SONAMBULISMO: estado de independência da alma em que esta se encontra na posse plena de si mesma. Pode ser natural ou magnético (provocado) e ocorre principalmente durante o sono. O sonâmbulo pode adquirir a clarividência com a qual pode ver à distância, através de corpos opacos, ou ainda demonstrar conhecimentos que não expressa no estado de vigília. Pode também conversar com Espíritos e deles receber orientações.

ÊXTASE: estado em que a alma se encontra mais independente ainda do que no sonambulismo. A alma do extático penetra nos Mundos Superiores, vê os Espíritos que lá habitam e compreende a sua felicidade.

DUPLA VISTA: é a vista da alma, embora o corpo não esteja adormecido. Dá a quem a possui a faculdade de ver, ouvir e sentir além dos limites do nossos sentidos. Percebem as coisas ausentes por toda parte onde a alma possa estender a sua ação; veem, por assim dizer, através da vista ordinária e como por uma espécie de miragem.

Extraído de O Livro dos Espíritos, cap. Emancipação da Alma.