domingo, 7 de abril de 2013

AS MULHERES DO EVANGELHO


As páginas do Evangelho, que relatam a sublime caminhada de Jesus pelas
terras da Palestina, há dois mil anos, é marcante a presença da figura feminina,
ensejando formosos ensinos do Mestre, exemplos de fé e perseverança das mulheres
citadas e esclarecimentos oportunos para todos os cristãos.

Não obstante a estrutura social israelita não favorecesse à mulher maior presença
e atividade em público, cita o evangelista Lucas que algumas mulheres seguiam
Jesus e os apóstolos em suas andanças, prestando-lhe, certamente, apoio logístico
e assistência com os seus bens (Lc 8:1/3). Demonstravam-lhe, assim, a mais vívida gratidão, porque as havia curado de espíritos malignos e enfermidades, como, entre outras, Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana.

Listamos algumas passagens em que é evidente a compreensão e compaixão de Jesus para com a mulher sofredora. Uma adúltera perseguida pela turba justiceira encontrou em Jesus a defesa, aparentemente silenciosa a princípio, que se fez eloquente e decisiva ao sentenciar: Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra. E, ao vê-la isentada, pelo afastamento de todos, disse-lhe compreensivo: Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais (Jo 8: 1/11).

Da pecadora que, arrependida, lhe regava os pés com suas lágrimas, os enxugava com os seus cabelos e os ungia com o unguento que levara, assegurou o Mestre a Simão, o fariseu hospedeiro, que seus muitos pecados lhe eram perdoados, porque muito amou. (Lc 7: 36/50). Seu amor, seu arrependimento e desejo de recuperação, era veementemente demonstrado naquele ato singelo.

Mas aquele a quem pouco se perdoa, é que pouco ama, disse ainda Jesus. Pouco ama quem ainda não percebeu o quanto tem recebido da bondade divina; não reconhece estar em erro, nem manifesta qualquer vontade de recuperação, nada faz para compensar o mal que tenha causado. Como poderá alcançar o perdão,
redimir-se perante a lei divina?

A mulher hemorrágica, movida pela fé ardente, aproximando-se de Jesus, pensava intimamente: Se eu apenas lhe tocar as vestes, fi carei curada. E, quando o fez, agiu como uma bomba aspirante, captando a virtude curadora de Jesus, mesmo em estando ele em meio à multidão, que o envolvia e pressionava (Ver Cap. XV, item 11, de A gênese, de Allan Kardec). E logo se lhe estancou a hemorragia e sentiu no corpo estar curada de seu flagelo. Jesus percebeu o acontecido: Quem me tocou?
Porque senti que de mim saiu poder. E, quando a mulher se revelou, lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do teu mal (Mc 5: 25/34, Lc 8:43/48).
Mas, na sinagoga, compadecido da mulher que, há dezoito anos andava encurvada, sem se poder endireitar, Jesus agiu como uma bomba calcante: impondo as
mãos sobre ela e, com seus fluidos salutares, vontade firme e autoridade moral,libertou-a do assédio de um “espírito de enfermidade” (Lc 13:10/13).

Estando Jesus pela região de Tiro e Sidon, uma mulher cananeia lhe pediu ajuda para sua filha que estava terrivelmente endemoniada. Apesar da oposição dos discípulos, ela, com rogos insistentes, seguia Jesus pelo caminho, demonstrando a grande confiança que tinha de que ele lhe poderia curar a filha. Quando o Mestre informou que só fora até ali em busca das “ovelhas perdidas da casa de Israel”, com humildade ela reconheceu não ter maior merecimento, mas perseverou no pedido, argumentando com inteligência: “Sim, senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”, conseguindo, enfim, o atendimento pleiteado (Mt 15:21/28).

Cenas instrutivas encontramos no Evangelho, com Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Jesus amava essa família e várias vezes esteve com eles em Betânia, onde moravam. Ali, certa vez, se encontrava hospedado e Maria, assentada aos seus pés, ouvia-lhe os ensinamentos. Marta, que se agitava de um lado para outro, ocupada em muitos serviços, pediu a Jesus que ordenasse a Maria fosse ajudá-la, mas ele respondeu: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada. (Lc 10: 33/42). Serve o episódio para nos alertar quanto ao equilíbrio que devemos manter entre os afazeres necessários à vida corpórea e os interesses do espírito, atendendo a uns sem descurarmos dos outros. Em outra oportunidade, Maria teve, novamente, o destaque e a aprovação de Jesus por seu agir. Foi após a ressurreição de Lázaro e pouco antes da última páscoa do Senhor. Lázaro e suas irmãs recepcionavam Jesus com uma ceia e Maria ungiu com bálsamo de nardo puro, mui precioso, os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. A casa toda se encheu do perfume.

Judas Iscariotes, um dos discípulos, comentou que teria sido melhor vender o caro erfume e doar seu valor aos pobres, ao que lembrou Jesus: os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes (Jo 12-1/8).
Jesus afastara de um homem o espírito que o deixava mudo e deu explicações sobre como exercem os invisíveis a ação perturbadora. Admirando-lhe a capacidade e o valor de seu ensino, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou: Bemaventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! Esse jeito popular de aplaudir e exaltar a quem se admira, ainda é encontrado em alguns povos (Lc 11:27/28). Jesus respondeu:

“Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”, porque o
que nos confere mérito espiritual não são os feitos de outros, mas os nossos próprios
atos. A cada um é dado segundo as suas obras.

No gazofilácio, onde se recolhiam as ofertas destinadas aos serviços do templo e as oferendas, pobre viúva depositara duas pequenas moedas. Sua doação foi imediatamente destacada por Jesus aos olhos dos discípulos, esclarecendo que os outros haviam ofertado do que lhes sobrava, enquanto ela, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento. Da sábia observação de Jesus, aprendemos que o valor de uma dádiva é tanto maior quanto a mais se renuncia para poder doar (Mc 12:42, Lc 21:2/4).

Caminhando para o Gólgota, sob o peso da cruz, seguido por grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam no peito, e o lamentavam, Jesus ainda encontrou forças para alertá-las e aconselhar:

Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos
filhos. E visualizando o futuro, quando a cidade de Jerusalém seria sitiada e invadida
pelos  romanos, continuou: Porque dias virão em que se dirá: bem-aventuradas as estéreis, que não geraram nem amamentaram.

Nesses dias dirão aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que será no lenho seco (Lc 23: 27/32)? Jesus era madeiro verde, a “videira verdadeira”, estava pleno de vitalidade espiritual.

Se sofria, era para o cumprimento de sua santa missão. E o fazia exemplificando
serenidade, não violência. Quando ressurgisse glorioso, testemunharia a imortalidade.
Os que o observavam e ainda não tinham aderido à sua mensagem vivificadora, eram lenho seco, sem maior vivência espiritual. Prosseguiriam errando no seu agir comum, acarretando para si mesmos merecidas dores e sofrimentos.

Examinando as mulheres do Evangelho, é preciso destacar, ainda, a admirável figura da samaritana, que mereceu de João quase todo o capítulo 4 do seu relato e à qual dediquei o capítulo 2 de meu livro Na luz do Evangelho. Já ao início do seu diálogo com Jesus, notamos que, apesar de estranhar que ele, sendo judeu, dirija a palavra a ela, uma samaritana, pois usualmente não eram amigáveis as relações entre judeus e samaritanos, essa mulher de mente ampla não se nega à conversação.

Ao ouvir Jesus falar que lhe poderia dar “água viva”, comenta, observadora, que ele não tem com que tirar água do poço, que é fundo, mas demonstra estar aberta para novas possibilidades, indagando, curiosa, onde teria ele a água que lhe oferece.

Anuncia-lhe o Mestre que a água que der passará a jorrar na pessoa como fonte para a vida eterna. É que o conhecimento espiritual, quando adquirido, faz-se base inicial de compreensão que abrirá, para a pessoa, perspectivas admiráveis e cada vez mais amplas quanto à vida imortal. A samaritana ainda não alcança o inteiro sentido da afirmativa de Jesus, mas, raciocinando de modo prático, pede para receber daquela  água e, assim, não ter mais sede, nem precisar ir ao poço para buscar o líquido precioso. Jesus, então, revela algo de suas possibilidades espirituais, demonstrando conhecer-lhe a vida, mesmo nunca a tendo encontrado antes. Por esse sinal, ela lhe percebe a qualidade de “profeta”, de ser um porta-voz do Alto. E, ante alguém com poderes especiais, essa samaritana, revelando admirável desprendimento, não solicita nada material, mas pede que lhe esclareça quanto a algo espiritual: a adoração a Deus. E Jesus ensina não haver um lugar físico especial para isso, pois Deus é espírito e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, isto é, em ação espiritual e sincera. Eu sei que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier nos anunciará todas as coisas... A afirmativa que a samaritana faz parece soar como tímida e indireta pergunta: És o Messias?

Deve ter sido por isso que Jesus, que geralmente se ocultava, para se proteger de eventuais adversários, a ela se revela confi ante: Sou eu, o que fala contigo. Chegam os apóstolos e o diálogo se interrompe, mas, fraterna, a samaritana pensa nos outros de sua comunidade e vai até eles, procurando interessá-los para que também conhecessem Jesus e ouvissem sua mensagem. E conseguiu bom êxito, pois, atraídos pelo seu testemunho, muitos samaritanos saíram da cidade e foram ter com Jesus, e muitos acreditaram nele.

Quando Jesus foi crucificado, com exceção de João, os demais apóstolos lá não estavam, haviam se escondido, receosos de perseguição. Mas seguiam-no, fiéis, as mulheres que, desde a Galiléia, o acompanhavam e serviam, e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém (Mc 15:40/41 e 45, e Lc 23:49).

Elas viram quando Jesus foi colocado no túmulo cedido por José de Arimateia e se retiraram para preparar aromas e bálsamos necessários ao preparo do corpo para o sepultamento, o que fariam no domingo de manhã (Lc 23:55/56). Foram elas as primeiras que deram com o túmulo vazio, ali viram os mensageiros espirituais, deles ouvindo a notícia feliz: Ele não está aqui, mas ressuscitou, e levaram aos apóstolos o primeiro alerta sobre a ressurreição de Jesus, embora os apóstolos não lhes dessem crédito, porque tais palavras lhes pareciam um como delírio” (Lc 24:1/11). Madalena, que viu o Mestre  ressurgido e com ele falou, conseguiu atrair Pedro e João ao túmulo para que  constatassem que não estava mais ali (Jo 20: 1/18) e, certamente, transmitiu a eles a orientação que Jesus lhes mandara dizer. Depois, o próprio Mestre começou a aparecer e se materializar ante apóstolos e discípulos, em várias ocasiões e locais, ao longo de quarenta dias, até que se despediu, elevando-se à vista de todos e se desmaterializando, deixando, porém, consolidada neles a certeza da sua imortalidade e de que continuaria a assisti-los pessoalmente e pela presença do Paráclito, através dos tempos.

Como vemos, do começo ao fim de sua sublime missão, Jesus contou com a presença e cooperação de muitas mulheres, que o entenderam e seguiram fiéis, ficando imortalizadas nas páginas dos evangelistas e na lembrança e respeito de todos nós.

Therezinha Oliveira é expositora e escritora

ICEB - Instituto de Cultura Espírita do Brasil / Ano IV - no 38 - Março / 2012


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terça-feira, 26 de março de 2013

BIOGRAFIA - DEOLINDO AMORIM - O FILÓSOFO E DIDATA DO ESPIRITISMO


Jaci Régis

Deolindo Amorim foi um grande didata a serviço do pensamento espírita. De personalidade serena e afetuosa, lutou incessantemente contra a corrupção do pensamento doutrinário e pelo entendimento da obra de Allan Kardec, sempre de forma elegante e independente.

Deolindo Amorim nasceu no Estado da Bahia, numa família pobre e católica. Foi presbiteriano fervoroso. Rompeu com sua igreja e permaneceu muitos anos sem definição filosófica ou religiosa. Em 1935 descobriu o Espiritismo.

A palavra descobriu é empregada no seu sentido de percepção totalizadora de uma idéia. É, certamente, um exercício intelectual, mas ultrapassa esse universo para penetrar no universo da apreensão do objeto.

Quando se descobre uma doutrina, por exemplo, ela se incorpora a nossa estrutura mental, ao nosso modo de estar no mundo.

Bem ao contrário de qualquer recaída fanática, a descoberta é a forma de inserir-se no conteúdo, abrangendo, pouco a pouco, não apenas os enunciados, as idéias, os conteúdos. É mais, percebe-se os objetivos, divisa-se o rumo e a essência. Enquanto o adepto, o estudioso permanece na superfície ou na profundidade da idéia, o descobridor se integra, faz uma ligação definitiva com a doutrina. Foi o que aconteceu com Deolindo Amorim.

Nascido a 23 de janeiro de 1908, Deolindo mudou-se para o Rio de Janeiro. Radicado na antiga capital do Brasil, tornou-se jornalista e, posteriormente funcionário público, tendo galgado elevada posição funcional no Ministério da Fazenda.

Desde que descobriu a Doutrina Espírita, tornou-se, progressiva e determinadamente, no baluarte pela definição específica do que é o Espiritismo.

Conheci pessoalmente Deolindo Amorim. Missivista atencioso, ele teceu comentários elogiosos à minha obra Comportamento Espírita, na ocasião de seu lançamento. A dimensão de seu trabalho certamente não cabe nos limites destas notas. Sua figura simpática, serena, não significava, entretanto, fraqueza ou acomodação. Polemizou com companheiros de forma responsável e respeitosa. Prosseguiu seu caminho com coerência e dignidade. Manteve posições firmes, mesmo contra amigos e situações.

Personalidade afetuosa, mostrou uma determinação e uma estrutura de pensamento ímpares. Foi, ao longo de sua vida, uma barreira positiva, definida, contra a corrupção do pensamento doutrinário. Lutou sem descanso pelo bom entendimento da obra de Allan Kardec.

Creio que a figura ímpar de Deolindo pode ser definida como o didata por excelência, o professor eficaz do Espiritismo.

O Ativista

Deolindo não ficou na teoria. Além de escrever livros, editar jornais, representar periódicos e enviar artigos para muitos jornais e revistas, proferir conferências, tomou iniciativas que marcaram o movimento espírita brasileiro.

Já em 1939 ele idealizou e promoveu o I Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado na cidade do Rio de Janeiro. Foi uma reunião de intelectuais espíritas, semente de propostas posteriores. O momento era crucial, o Espiritismo era perseguido pela Igreja e pela Polícia. A II Grande Guerra estava iniciada.

Esteve ao lado de Leopoldo Machado na promoção do I Congresso de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil e na criação do Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas.

Foi parceiro fiel de Aurino Souto, presidente da Liga Espírita do Brasil.

Finalmente, fundou em 7 de dezembro de 1957 O Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), instituição de grande influência no estudo e divulgação do Espiritismo, com sede no Rio de Janeiro e que dirigiu até sua desencarnação.

Em Defesa do Espiritismo

Um dos problemas mais emergentes relativos ao bom entendimento da Doutrina Espírita foi a constante tentativa de confundi-lo seja com a Umbanda, o Candomblé, com as religiões cristãs e doutrinas espiritualistas. Principalmente com os cultos afro-católicos, as confusões foram muitos grandes. Hoje, talvez, esse aspecto esteja quase superado mas já foi mais grave. A própria Federação Espírita Brasileira (FEB) pretendeu fazer uma divisão absurda: chamar de Espiritismo todas as práticas mediúnicas ou semelhantes e de Doutrina Espírita, a obra de Kardec.

Em 1947 Deolindo publicou Africanismo e Espiritismo, onde deixa clara a inexistência de ligações filosóficas, práticas ou doutrinárias entre o Espiritismo e as correntes espiritualistas apoiadas na cultura africana, trazida pelo escravos e que se converteram em várias seitas de gosto popular.

Determinado a explanar, didaticamente, as bases da doutrina de Allan Kardec, ele escreveu, O Espiritismo e os Problemas Humanos, O Espiritismo à Luz da Crítica, em resposta a um padre que escrevera livro atacando a Doutrina. Espiritismo e Criminologia, oriundo de uma conferência no Instituto de Criminologia da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1958, lançou O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas, onde não combate nenhuma corrente ou idéia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz, seitas de origem asiática ou africana. Ele simplesmente define, separa, identifica o que é o Espiritismo, mostrando a sua independência filosófica, embora ressaltando eventuais coincidências de pontos filosóficos, devido à base espiritualista desses movimentos.

O Didata da Doutrina

Deolindo não lançou teorias, nem propôs idéias revolucionárias de atualização ou desenvolvimento da Doutrina. Esmerou-se e o fez com absoluto sucesso, em definir o conteúdo, a abrangência, o papel e o lugar do Espiritismo na sociedade e nas doutrinas espiritualistas.

Não se pense, todavia, que tenha sido ortodoxo e conservador.

Nada disso. Foi uma mente aberta ao novo, entendeu perfeitamente o sentido evolucionista do Espiritismo e recusou-se a aceitar as idéias conservadoras, retrógradas.

Na Introdução de O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas ele diz: “Escrevemos este trabalho com o sincero propósito de concorrer, embora despretensiosamente, para que se esclareça cada vez mais a verdadeira posição do Espiritismo perante as doutrinas e os cultos espiritualistas. Todas as doutrinas, como todos os credos, sejam quais forem as suas origens, nos merecem o mais justo respeito. (...) Devemos, porém, dizer claramente o que é e o que não é Espiritismo, para que não haja confusão nem tomem corpo interpretações duvidosas.

E reafirma sua posição: “Repetimos que o Espiritismo é universalista, porque os fatos do espírito são universais, os seus problemas têm o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o Espiritismo não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade nem consistência”.

Que é o Espiritismo, afinal? Vejamos o que nos diz Allan Kardec: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Ciência de observação, sim, nem precisamos dizê-lo, porque tem por objeto uma fenomenologia que já foi comprovada em experiências; doutrina filosófica, realmente, porque, tendo por base experimental o fenômeno mediúnico, faz inquirições sobre as causas e leis, deduzindo conseqüências que incidem no domínio moral, da religião, da filosofia em si. Eis, em síntese, o que é o Espiritismo

Finalizando o excelente O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas, afirma que “Como doutrina essencialmente progressista, recebe os enriquecimentos das ciências, como acompanha os fenômenos sociais e culturais, sem perder, todavia, a sua integridade e as suas características. Nenhuma religião, nenhum culto espiritualista poderia absorvê-lo ou confundi-lo, a despeito da existência de aspectos comuns, porque as suas concepções basilares, tendo conseqüências científicas, filosóficas e religiosas, não permitem adaptações e concessões arbitrárias. Desta proposição, consequentemente, chegamos à conclusão de que O Espiritismo é uma doutrina que se basta a si mesma, sem empréstimos nem acréscimos artificiais “.

A Questão Religiosa

Sobre a questão religiosa no Espiritismo, sua posição foi bem igual a de Kardec. Citando as palavras do fundador, concluía que, como qualquer filosofia espiritualista, o Espiritismo tinha conseqüências religiosas, mas de forma alguma se tornava uma religião constituída.

“Allan Kardec frisa bem que o Espiritismo não é uma religião constituída. Não o fora nos primeiros tempos, quando o seus delineamentos ainda estavam na fase de elaboração, nem o seria hoje, com a experiência histórica de mais de um século, quando a Doutrina já está definitivamente consolidada. O qualificativo constituída não exclui a idéia religiosa. Há muita diferença entre o culto organizado e atos religiosos ou conseqüências religiosas. O Espiritismo tem, indiscutivelmente, conseqüências religiosas, e muito profundas, mas a sua esquematização, a sua índole e a sua conceituação básica não comportam qualquer forma de culto material, nem, sacerdotes, nem chefes carismáticos... O verdadeiro culto para o Espiritismo é o culto interior, é o sentimento, a elevação do pensamento.”

“O fato de haver Allan Kardec preferido não instituir nenhum sistema moral, porque lhe bastou a moral cristã para o coroamento da doutrina por ele codificada, não quer dizer que o Espiritismo concorde ou deva concordar com tudo quanto ensinam as diversas religiões e denominações cristãs; muito menos seria possível introduzir no Espiritismo práticas, dogmas e formas peculiares às religiões oriundas do Cristianismo.”

E, “não é possível reduzir o Espiritismo às limitações de uma seita cristã, assim como não se pode concordar com a suposição corrente de que tudo seja a mesma coisa.”

“Tendo-se preocupado fundamentalmente com a interpretação filosófica do fenômeno e suas conseqüências na ordem moral, a Codificação do Espiritismo não cogitou, nem poderia cogitar, de qualquer culto material, assim como não prescreve cerimônias de iniciação, nem hierarquia sacerdotal” .

Se reconhecida, como é obvio, que o Espiritismo tem uma ligação estreita com a moral de Jesus, e consequentemente com o Evangelho, deixa claro que essa foi uma decisão de Kardec e separa de maneira muito clara o cristianismo do Espiritismo.

Pelo fato de aceitar a mensagem do evangelho, afirmou, não significa que o Espiritismo aceita tudo do cristianismo. Ele sempre foi contrário à confusão dos que tentam diluir o Espiritismo seja com os cultos espiritualistas, seja com os rituais do cristianismo. Repudiava o tudo é a mesma coisa, frase usada para justificar as deturpações gritantes contra a identidade da doutrina.

“É o Espiritismo que interpreta o evangelho , não é o evangelho que interpreta o Espiritismo.”

Reforço à Intelectualidade

Como é comum no movimento espírita, Deolindo foi muito criticado por optar pela cultura e pela inteligência. Existiu, no Rio de Janeiro, a Faculdade Brasileira de Estudos Psíquicos que ele não fundou, como às vezes se diz, mas a que pertenceu e foi seu último presidente. Tornada insubsistente a continuidade da Faculdade, ele promoveu a criação do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) fundado em 7 de dezembro de 1957 e por ele dirigido até sua desencarnação.

Quanto à questão da unificação do movimento, Deolindo nunca aderiu à Federação Espírita Brasileira, tanto que aliou-se à Liga Espírita do Brasil, entidade criada em 1927, por Aurino Souto e da qual Deolindo foi o último 2º vice-presidente.

Em 1949, com o chamado Pacto Áureo, a Liga Espírita do Brasil, que não tinha representatividade nacional, deixou de existir, transformando-se numa entidade federativa estadual. Hoje, depois de várias denominaçòes, é a USERJ - União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro.

Deolindo foi contra o acordo.

Suas palavras sobre o assunto, em 1949: “quando a Liga aceitou o Acordo de 5 de outubro, acordo que se denominou depois, Pacto Áureo, tomei posição contrária (..) votei contra a resolução, porque não concordei com o modo pelo qual se firmara esse documento. E o fiz em voz alta, de pé, na Assembléia, com mais doze companheiros que pensavam da mesma forma”.

Admirava muito Léon Denis, de quem disse: “Léon Denis pertence, com inteira justiça, à galeria dos mais autênticos filósofos espíritas. Discípulo e continuador de Allan Kardec, ninguém o foi, até hoje, com mais afeição e com vigor intelectual”.

Mas seu respeito a sua fidelidade ao pensamento de Allan Kardec foi não apenas exemplar, mas de um tirocínio brilhante e uma defesa inteligente e atuante.

Em 24 de abril de 1984, aos 76 anos de vida terrena, desencarnou Deolindo Amorim, fechando um ciclo fecundo de pensadores espíritas, dos quais, com justiça ele está num lugar privilegiado.

Todavia, mais do que nunca, neste momento em que o Espiritismo precisa decidir seu próprio caminho, o pensamento, a palavra e a postura de Deolindo Amorim são elementos indispensáveis para entender, seguir e definir o futuro da Doutrina.

Postado por; http://www.espiritnet.com.br/Biografias/biogdeol.htm

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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2012/09/a-vida-e-obra-de-allan-kardec.html  

quinta-feira, 21 de março de 2013

CAUSA E NATUREZA DA CLARIVIDÊNCIA SONAMBÚLICA (OBRAS PÓSTUMAS)


Se procedermos por analogia, diremos que o fluido magnético, disseminado por toda a Natureza e cujos focos principais parece que são os corpos animados, é o veículo da clarividência sonambúlica, como o fluido luminoso é o veículo das imagens que a nossa faculdade visual percebe. 

Ora, assim como o fluido luminoso torna transparentes corpos que ele atravessa livremente, o fluido magnético, penetrando todos os corpos sem exceção, torna inexistentes os corpos opacos para os sonâmbulos. Tal a explicação mais simples e mais material da lucidez, falando do nosso ponto de vista. Temo-la como certa, porquanto o fluido magnético incontestavelmente desempenha importante papel nesse fenômeno; ela, entretanto, não poderia elucidar todos os fatos.

Há outra que os abrange todos; mas, para expô-la, fazem-se indispensáveis algumas explicações preliminares.

Na visão a distância, o sonâmbulo não distingue um objeto ao longe, como o faríamos nós com o auxílio de uma luneta.  Não é que o objeto, por uma ilusão de ótica, se aproxime dele, ELE É QUE SE APROXIMA DO OBJETO. O sonâmbulo vê o objeto exatamente como se este se achasse a seu lado; vê-se a si mesmo no lugar que ele observa; numa palavra: transporta-se para esse lugar. Seu corpo, no momento, parece extinto, a palavra lhe sai mais surda, o som da sua voz apresenta qualquer coisa de singular; a vida animal também parece que se lhe extingue; a vida espiritual está toda no lugar aonde o transporta o seu próprio pensamento: somente a matéria permanece onde estava. Há pois uma certa porção do ser que se lhe separa do corpo e se transporta instantaneamente através do espaço, conduzida pelo pensamento e pela vontade. Evidentemente, é imaterial essa porção; a não ser assim, produziria alguns dos efeitos que a matéria produz. É a essa parcela de nós mesmos que chamamos: a alma.

É a alma que confere ao sonâmbulo as maravilhosas faculdades de que ele goza. A alma é quem, dadas certas circunstâncias, se manifesta, isolando-se em parte e temporariamente do seu invólucro corpóreo.
Para quem quer que haja observado com atenção os fenômenos do sonambulismo em toda a sua pureza, é patente a existência da alma, tornando-se-lhe uma insensatez demonstrada até à evidência a ideia de que tudo em nós acaba com a vida animal. Pode-se, pois, dizer com alguma razão que o magnetismo e o materialismo são incompatíveis.

Se alguns magnetizadores se afastam desta regra e professam as doutrinas materialistas, é sem dúvida que se hão cingido a um estudo muito superficial dos fenômenos físicos do Magnetismo e não procuram seriamente a solução do problema da visão a distância. Como quer que seja, nunca vimos um único  sonâmbulo  que não se mostrasse penetrado de profundo sentimento religioso,  fossem quais fossem suas opiniões no estado vígil.

SONAMBULISMO NA PRÁTICA


Adilson Mota

Na segunda edição do Jornal Vórtice, de julho de 2008, escrevemos artigo acerca do sonambulismo e suas características. Trataremos, hoje, dos aspectos práticos relativos ao fenômeno sonambúlico, ou seja, como reconhecer um sonâmbulo e como aproveitar as suas faculdades.

Há um ano e meio vimos trabalhando com o sonambulismo através de duas sonâmbulas, das quais a primeira foi descoberta ao ser tratada magneticamente. Ao receber passes, ela via-se fora do corpo, recebia instruções espirituais, orientava telepaticamente o magnetizador quanto às técnicas que deveriam ser utilizadas, via o ambiente material estando de olhos fechados, enxergava à distância, a maioria das informações podendo ser comprovadas após o término da aplicação.

A nossa ignorância no assunto dificultava o entendimento, deixando-nos indiferentes com relação ao que acontecia, até percebermos que aquele fenômeno se chamava sonambulismo.

O desconhecimento do assunto é a maior dificuldade que se apresenta. Os fenômenos que Kardec chamou de “fenômenos de emancipação da alma” são muitas vezes ignorados ou confundidos com mediunidade, fazendo se perca, às vezes, bons trabalhadores nesta área. Graças à análise apressada aliada à falta de conhecimento, muita gente tem, ainda, desenvolvido o medo das próprias faculdades, confundindo o sonambulismo com obsessão.

A melhor forma de saber se alguém é sonâmbulo é conversando com ele quando o transe chega. Através do diálogo, se poderá diferenciar um processo mediúnico ou obsessivo do sonambulismo. As respostas atestarão a presença de um terceiro ser (um Espírito desencarnado) ou a capacidade do próprio encarnado de se relacionar e conversar conosco, mesmo estando desprendido parcialmente do corpo físico. Se for um Espírito, ele poderá dizer que o é, se identificar, inclusive. Se tratando de um sonâmbulo, ele dirá que é ele mesmo que fala, podendo descrever as pessoas e coisas que percebe, seja do mundo físico ou espiritual, dentre outras capacidades, se ele já as tiver desenvolvido.

É importante saber que nenhum sonâmbulo é igual ao outro.

Apesar de haver características gerais, os graus de percepção, os níveis de transe, as potencialidades, enfim, de cada um, são muito particulares. Enquanto alguns veem os Espíritos, outros apenas os entreveem; alguns ouvem os Espíritos, outros captam seus pensamentos intuitivamente; há os que enxergam à distância ou através de obstáculos materiais, veem o interior do organismo físico, comunicamse telepaticamente, veem-se fora do corpo físico, enquanto outros o conseguem mais ou menos. É importante para quem vai lidar com o sonâmbulo saber destas diferenças a fim de não tentar lhe impor o desenvolvimento de um aspecto que ele não possui. O mais recomendável é que a faculdade desenvolva-se naturalmente, devendo, o magnetizador, apenas aproveitar da melhor forma os recursos disponíveis em cada sujet.

Apesar do caráter espontâneo que deve haver para o desenvolvimento das faculdades sonambúlicas, o magnetizador não será um sujeito passivo. Ele não é apenas o doador de fluidos para a magnetização que levará o  sujet ao transe e aos estágios sonambúlicos. O magnetizador é mais do que isso. Ele é o cuidador, controlador e direcionador do trabalho, a fim de que o mesmo alcance os resultados desejados.

Durante todo o transcorrer da sessão sonambúlica, deve o magnetizador zelar pela integridade física e psíquica do sonâmbulo, a começar pela acomodação do mesmo, pois este, em certo estágio do transe, perde o controle dos movimentos voluntários, com exceção dos que são necessários à fala. Deve, ainda, haver confiança recíproca, a fim de que o sonâmbulo mantenha a sua serenidade em qualquer percalço durante a tarefa, para que se entregue ao trabalho sabendo que alguém vela por ele. As nossas
sonâmbulas, às vezes, quando diante de uma situação espiritual muito negativa, relatam dificuldades de percepção.

É o momento em que fazemos uma prece, juntamente com elas, o que as deixa mais seguras e confiantes, além de que as dificuldades encontradas se desvanecem. O magnetizador pode, com a voz mesmo, infundir-lhe serenidade, segurança e confiança na Espiritualidade e em si mesmo. A cada sessão, vai-se criando uma interação magnética intensa entre magnetizador e sonâmbulo, ao ponto das disposições íntimas e dos pensamentos do magnetizador poderem interferir nos resultados alcançados pelo sonâmbulo.

Esta relação magnética, aumentando com o tempo, faz com que a necessidade de magnetização para provocar o transe seja reduzida bastando, às vezes, um comando de voz para o transe sonambúlico acontecer.

Não devem ser esperados, de início, grandes resultados. É um desenvolvimento que o exercício irá fazer através do tempo, com paciência e serenidade.

Os recursos oferecidos pelo  sujet devem ser deixados se manifestar espontaneamente, mas isto não deve ser tomado de forma absoluta, é preciso um direcionamento. E este é feito pelo magnetizador. No trabalho que realizamos, a cada sessão selecionamos um paciente a ser verificado. Mais abaixo, analisaremos a questão da quantidade de pacientes e da duração do trabalho. Pois bem, sem esta definição, o sonâmbulo poderia “ver” qualquer um que quisesse. Apesar disto ter um lado positivo, pois podemos colher informações sobre determinado paciente que, talvez, jamais averiguássemos, por outro lado, pode ser improdutivo.

O mesmo com relação aos detalhes referentes a cada paciente. O sonâmbulo deve ficar à vontade para relatar todas as desarmonias que percebe, o que não impede que, de vez em quando o magnetizador lhe peça para verificar este ou aquele órgão, este ou aquele centro de força, este ou aquele aspecto seja físico, energético, emocional ou espiritual. Dessa maneira, o rendimento se torna muito maior e mais rico.

Alguns dos leitores podem estar se questionando neste momento: e se isto o induzir a percepções ilusórias, ou seja, a perceber coisas criadas pela sua mente e não percepções reais a respeito do paciente? Não deveria, para evitar este percalço, deixar tudo acontecer espontaneamente? Primeiramente, compreenda-se que a espontaneidade não é garantia de autenticidade, pois a mente do sonâmbulo funciona sozinha e, a despeito do magnetizador, pode fantasiar. Em segundo lugar, há um meio que é o mais seguro para se saber da fidedignidade destas informações, que é a análise.

Todas as recomendações dadas por Allan Kardec relativas às comunicações mediúnicas devem ser seguidas com relação ao sonambulismo. Devem ser passadas pelo crivo da lógica e da razão, questionadas, comparadas. Só assim, chegaremos a discernir acerca do seu grau de confiabilidade.

Há mais um motivo para o magnetizador direcionar o trabalho quando necessário. Fora do corpo físico toma, o ser, uma maior independência e, sendo possuidor de vontade própria, pode, de início, por conta da inexperiência, tomar o rumo que quiser, ou quando há diferença entre os seus desejos enquanto no corpo físico e de quando liberto do mesmo. Neste caso, é necessário que o magnetizador chame o sonâmbulo ao trabalho a fim de que as suas finalidades sejam alcançadas.

A pergunta seguinte é: como estruturar um trabalho usando o sonambulismo?

O trabalho pode ser com um só sonâmbulo ou com vários, necessitando de um magnetizador para cada. É preciso, como já dito acima, que os sonâmbulos estejam bem acomodados, podendo ser em cadeiras ou em macas. Inicia-se com uma prece, após a qual se realiza a magnetização, certificandose de que o sonâmbulo esteja à vontade e relaxado.

O que fazer em seguida, somente a experiência poderá dizer, bem como os objetivos e propósitos de cada grupo e sessão. Pode-se verificar a situação de um ou de vários pacientes. Pode-se, inclusive, pedir a todos os sonâmbulos para diagnosticarem a situação do mesmo paciente para efeito de comparação dos resultados.

Terminados os relatos e não havendo mais nada que o sonâmbulo queira comunicar, inicia-se a desmagnetização, não sem antes deixá-lo amparado e tranquilo quanto ao retorno e ao bem-estar que deverá sentir depois que despertar. É comum, nas primeiras sessões, o sonâmbulo reclamar, ao retornar completamente ao corpo físico, de algumas dores e incômodos, muitas vezes originários das tensões e nervosismos do iniciante. Estas sensações podem ser atenuadas, caso o magnetizador tome as devidas precauções antes de fazê-lo retomar a sua consciência. Para isto, deve-se executar a desmagnetização sem pressa, longamente, podendo, ainda, sugerir verbalmente ao sonâmbulo ideias de bem estar, leveza e tranquilidade. Após a desmagnetização, faz-se uma prece de encerramento. No trabalho que realizamos, costumamos após todo o encerramento trocar impressões com as sonâmbulas, com vistas ao aprendizado geral.

Quanto à duração de cada sessão, não há regra, depende da disponibilidade dos participantes, devendo levar em conta o bom senso, pois há dispêndios de energia tanto por parte do sonâmbulo quanto do magnetizador.

Pode ainda ser aproveitado o sonambulismo de algum paciente, durante a aplicação de passes, quando o mesmo ocorre espontaneamente. Assim sendo, ele mesmo verificará a sua situação de doença, suas desarmonias e poderá dar indicações e recomendações de tratamento.

Uma última questão a analisar é com relação ao discernimento quanto àquilo que seja proveniente da faculdade sonambúlica ou da participação de Espíritos durante a sessão. O primeiro ponto é que devemos conquistar a confiança da Espiritualidade, atraindo os Bons Espíritos através dos propósitos elevados do trabalho, pautado no bem do próximo e da busca de aprendizado sincero, excluída toda curiosidade malsã. Assim sendo, eles auxiliarão muito mais do que se possa imaginar. Participarão de todo o processo, desde proteção até direcionamentos e informações. O segundo ponto é que às vezes é muito difícil ou até mesmo impossível delimitar onde termina a participação do sonâmbulo e começa a dos Espíritos. Na maioria das vezes, o sonâmbulo consegue fazer este discernimento. Uma das sonâmbulas com as quais trabalhamos faz todas as verificações sozinha a respeito do paciente. Quanto às técnicas magnéticas para o tratamento, ela transmite a orientação dada pelos Espíritos. Lembrando que esta não é uma regra para todos os sonâmbulos. O último ponto é que, quase sempre, fazer essa distinção não é o importante, mas sim o conteúdo informado, que deve sempre ser analisado.