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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PASSES ESPECIAIS

Tiago Martins
tiagoms-rs@hotmail.com

“Toda prática magnética era antecedida por um momento de relação magnética, isto é, um momento em que o magnetizador se aproximava do doente com o fim de viabilizar a combinação dos fluidos do magnetizado e do magnetizador. “

Na casa espírita é comum que mais de um magnetizador (passista) realize, ao mesmo tempo, uma ação magnética (o chamado passe) sobre uma mesma pessoa enferma.
Dois ou mais magnetizadores concentram-se ao redor do atendido, impondo sobre ele as mãos. Geralmente o critério para essa prática conjunta dos passistas é a gravidade da doença, mas também pode ser o estado geral apresentado pelo atendido, ou ainda casos de obsessão. Essas magnetizações são vulgarmente chamadas “Passes Especiais” no Sul do país.

Um dos motivos que levam os espíritas a essa prática é a ideia de que a pessoa, para ficar melhor, precisa receber energias. E, dependendo do estado do atendido, a necessidade de energia pede que mais de uma pessoa doe ao mesmo tempo. Essa ideia tem cá um pé na realidade material, no dia a dia de todos. Se desejo aumentar o calor da lareira, ponho mais lenha. Se quero ferver a água rapidamente, aumento a chama do fogão. Se desejo construir uma casa em menor tempo, aumento o número de pedreiros e serventes. Nesses casos, o incremento de energia e pessoas é um fator relevante para que algo possa se tornar realidade.

Contudo, será que no imenso universo dos fluidos é necessário que mais de um magnetizador se ocupe de uma mesma pessoa? E será que todas as pessoas necessitam indistintamente de doações de fluidos vitais?

A segunda pergunta seja respondida em primeiro lugar. Não, nem todas as pessoas que buscam o passe necessitam de doações fluídicas. Em muitos casos, o atendido tem necessidade de se desvencilhar de fluidos que o congestionam total ou parcialmente.
Em outros casos, nenhuma doação é necessária, pois a ação magnética realiza uma transmutação dos fluidos vitais do atendido, tornando salutar a energia que anteriormente era insalubre. Assim, uma prática magnética bem estudada e bem refletida mostra que a noção do passe como exclusiva doação fluídica não condiz muito bem com a realidade.

Já a primeira pergunta carece de maiores análises. Do ponto de vista histórico, os primeiros magnetizadores, entre eles Allan Kardec, não realizavam magnetizações em duplas ou em trios. Até onde conheço, não há registros de passes realizados por mais de um magnetizador ao mesmo tempo sobre uma mesma pessoa. As chamadas magnetizações coletivas eram realizadas por um único magnetizador sobre um grupo de dez, vinte ou trinta pessoas, variando tal número a depender do poder magnético do magnetizador.

O motivo para que eles não acolhessem tal prática talvez resida em um princípio muito respeitado por todos os magnetizadores clássicos: a relação magnética. Toda prática
magnética era antecedida por um momento de relação magnética, isto é, um momento em que o magnetizador se aproximava do doente com o fim de viabilizar a combinação dos fluidos do magnetizado e do magnetizador.
Somente após sentir que essa relação fluídica havia sido estabelecida com perfeição, é que o magnetizador iniciava o seu trabalho.

A relação magnética é estabelecida pela vontade do magnetizador.
Ele quer realizar esse vínculo com o magnetizado, e o magnetizado aceitou e se entrega passi-vamente a essa ação. Na verdade, estabelecer a relação magnética nem sempre é fácil, pois embora passivo, o atendido pode gerar e viver de fluidos que de maneira alguma se coadunam com os fluidos do magnetizador. Isso nada tem que ver com evolução, maldade ou imoralidade do atendido ou do magnetizador, mas apenas com uma indisposição vibratória de dois seres que são diferentes.

De qualquer modo, em regra, a relação magnética é necessária.
Porém, estabelecida a relação magnética por um magnetizador, o ingresso de um terceiro necessariamente tende a romper o equilíbrio vibratório estabelecido entre opaciente e o primeiro magnetizador. Nesse caso, haverá dois magnetizadores "lutando" para realizar a harmonização vibratória, o que dificilmente se realizará face a duas vontades distintas atuantes.

Por outro lado, o paciente acaba por ter de suportar sucessivas desarmonizações em seu campo energético, face à diferença de intensidade e qualidade das emanações fluídicas dos diferentes magnetizadores. Colocar uma organização física e perispiritual sobre essa carga de estresse fluídico pode ser danoso em casos melindrosos, predispondo o campo vital a receber influências contraditórias que se anulam ou mesmo digladiam uma com a outra. Se, por exemplo, o fluido de um magnetizador tem características calmantes e o do outro características ativantes, claro está que o organismo físico estará sujeito a estimulações que acabarão por aumentar o trabalho do corpo, que lutará para estabelecer o equilíbrio energético. Num organismo doente, o acréscimo de trabalho tende a ser prejudicial para o restabelecimento.

Neste sentido, e tendo em vista a bandeira da caridade que deve permanecer bem alta nos trabalhos de Magnetismo na Casa Espírita, não parece conveniente que dois ou mais passistas apliquem passes sobre uma mesma pessoa, pois ela poderá estar sendo submetida à verdadeira tortura fluídica.

A magnetização não deve acrescentar dano ou mal-estar ao atendido, mas antes aliviar e restabelecer o equilíbrio.

Há casos em que a pessoa atendida necessita de grandes concentrações fluídicas. Os magnetizadores clássicos perceberam que a relação magnética era indispensável para uma eficiente doação. Assim, ainda que necessitando de muitos fluidos, o magnetizador torna-se capaz de doar tudo quanto a pessoa precisa, pois o trânsito de energias entre um e outro está desimpedido, como uma imensa e larga rodovia que permite a passagem de inúmeros carros em altíssima velocidade.

Além disso, os magnetizadores levavam muito a sério a ação magnética, doando todo tempo necessário para que a pessoa atendida recebesse aquilo que necessitava. Deste modo, é possível que em cinco minutos o magnetizador não fosse capaz de doar tudo quanto a pessoa precisasse, e nem ela talvez fosse capaz de receber tanto em tão curto espaço de tempo. Contudo, as magnetizações prolongadas em trinta, cinquenta minutos, uma hora, tendem a oferecer rico material fluídico ao magnetizado, face ao fenômeno de usinagem ou produção fluídica que se desenvolve nos centros de força. Em largos períodos de tempo, a vontade do magnetizador faz com que os centros de força renovem a produção fluídica, daí advindo material suficiente para aqueles que necessitam de grandes cargas energéticas.

Por fim, nada impede que os trabalhos de passes se realizem com a assistência de outras pessoas, as quais permanecem vibrando pelo doente e pelo magnetizador, sem realizar qualquer imposição de mãos. No ambiente dessa assistência, o magnetizador capta recursos novos e, em razão da relação magnética, os aplica no paciente com segurança e proveito.

Em face de todas essas ponderações, pede o bom senso e a prudência que se evitem os chamados passes especiais. Se o espírita deseja amar e servir efetivamente, que o faça de maneira que evite prejuízos a quem lhe busca a assistência. Como não basta dizer “Senhor, Senhor!”, também não basta querer fazer a caridade. Antes, é preciso ter a certeza de que é um bem e não um mal que se está fazendo ao próximo.□

 JORNAL VÓRTICE ANO VI, N.º 07 - DEZEMBRO - 2013


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