quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ORGULHO


Traduzido do termo francês orgueil, do Dictionnaire Encyclopédique de la Bible A. Westphal, por Viviane Ribeiro, para o GEAK.

O Antigo Testamento retorna sem cessar ao orgulho e usa nada menos do que doze palavras para designá-lo. Vê-se por isso que ele lhe atribui uma importância capital e conhece sua complexidade.
O orgulho é um amor desregrado de si mesmo; é o estado de um homem que se basta, que se admira em suas obras, vê em si qualidades que não tem e empenha-se para que os outros compartilhem da opinião que tem de si mesmo. Murray disse: “A humildade não é somente uma virtude entre outras, mas sim a raiz de toda as virtudes”; pode-se dizer o mesmo do orgulho, que não é apenas um vício entre outros, mas sim a raiz de todos os vícios. A humildade exala um perfume que dá valor a todas as virtudes; o orgulho carrega em si um fermento que faz eclodir todos os vícios. A inveja, é o orgulho que não pode tirar partido das vantagens de outrem; a cólera nos mostra o orgulho reagindo contra o que lhe resiste; o ciúme nasce da insuportável impressão produzida sobre o orgulho por uma superioridade que se impõe; a própria mentira é muito frequentemente o orgulho que se cobre e se mascara, esperando por seu falso rosto obter a estima que ele não merece. Observou-se que ninguém gosta tanto de alardear a sua humildade e as exigências de sua consciência quanto o orgulhoso.

Este alarde, que entra em contradição com a sua atitude altaneira e suas mesquinhas intenções acarretou para os fariseus a interpelação de Jesus: “Hipócritas (ou atores), vós expressais fisionomias pesadas, vós vos preparais rostos extenuados pelo jejum... Vós limpais o exterior do copo e do prato... Vós pagais o dízimo da menta, do endro e do cominho e deixais de lado o que há de mais importante na lei: a justiça, a misericórdia, a boa fé, o amor a Deus” (Mt 6 e Mt 23).

“O orgulho, diz La Rochefoucauld, nunca é melhor disfarçado e mais capaz de enganar do que quando ele se esconde sob a figura da humildade.”
Vê-se os estragos que o orgulho causa na vida moral. Na vida religiosa, em que a humildade é a introdutora da graça, os efeitos do orgulho são ainda mais temíveis. Ele é para a alma aquilo que a lepra é para o corpo, ele enfeia, corrói, mata e é por isso que se encontram homens que, no início de sua carreira cristã, exerciam, por seu entusiasmo, uma verdadeira atração, mas que, ao viver uma situação em que o orgulho espreita as almas inseguras, perderam pouco a pouco suas qualidades espirituais e até mesmo a chama de seu olhar.

Após estas observações gerais, poderemos compreender o papel que o orgulho desempenha na Bíblia e a insistência com que ela procura prevenir os crentes contra o orgulho. Desde as suas primeiras páginas, ela nos adverte que a habilidade do infernal sugestor foi ter semeado de orgulho o coração virgem do primeiro casal humano : “Sereis como deuses!” Quando o orgulho brotou, ele produziu a ganância; ela provocou a desobediência e o homem foi expulso do Paraíso (Gen 3). Em todo o seu esforço para salvar a humanidade perdida, Deus se choca contra o orgulho. Profetas, salmistas e sábios denunciam o orgulho como o companheiro da maldade (Jó 20:6 35:12, Sl 31:19 73:6 119:51 123:4, Pv 21:24) e da estupidez (Pv 14:3, Sl 59:13); eles lhe atribuem, como consequências, a vergonha, a humilhação, as divisões, a efusão do sangue, a ruina (Pv 11:2 29:23 13:10 16:18) ; eles proclamam que Deus o odeia (2Rs 19:28, Is 37:29, Pv 8:13 16:5, Am 6:8) e dele se vingará (Deut 17:12 e seguintes, Sl 119:21 31:24, cf. Sl 94:2 119:78,122, Is 13:11 2:12, Os 7:10, Jer 13:9-17, Ez 7:10,24 16:56 etc.). Pode-se sentir que para os profetas, todo o destino do homem e em particular do povo eleito está em jogo entre os dois polos: humildade e orgulho.

Os Apócrifos dão também um grande destaque ao orgulho (cf. 2Mac 5:21 9:7,1115:6,Tob 4:13, Sab 5:8, Sir1 13:20 15:8 etc.). Sir 10 encerra uma tocante descrição do orgulho que parece ter inspirado uma passagem do Magnificat (cf. Sir 10:14 e seguintes e
Lc 15:1 e seguintes). Jesus, por sua atitude a respeito dos fariseus sanciona a revelação do Antigo Testamento. Seu discurso, em Mt 23, não é senão um requisitório, e dos mais ardentes, contra os pecados do orgulho. O orgulho dos fariseus os impediu de ir ao
batismo de João Batista, por isso diz Jesus, “eles tornaram inútil o desígnio de Deus em relação a eles” (Lc 7:30, cf. Lc 15:1). O orgulho sugere ao homem enfermo que ele está bem de saúde, ao pecador que ele é justo; Jesus declara: “Aqueles que têm boa saúde não precisam de médicos mas sim aqueles que estão doentes. Eu não vim chamar os justos mas sim os pecadores.” (Mc 2:13-17). A parábola do fariseu e do publicano é o texto clássico desta questão: (Lc 18:9-14) “Oh Deus, eu te rendo graças por não ser como o resto dos homens.”
Aquele cujo orgulho chega a este ponto, não tem próximo. Ele está distante demais para compadecer-se com a dor dos outros, não espereis que ele admita ou ceda: se ele confessasse ser falível, ele se diminuiria. O orgulho instala o coração na atmosfera das resistências. O orgulho é o grande isolante. Se ele nos isola dos outros, como ele não nos isolaria de Deus de quem só podemos nos aproximar através da atmosfera da graça.
“Aquele que se eleva será rebaixado.”

Os apóstolos usam, para este ponto, a mesma linguagem do A. T. e Jesus. Tiago e Pedro, citando Pv 3:34 segundo os LXX, concordam em dizer: “Deus resiste aos orgulhosos, mas ele dá sua graça aos humildes.” (Tg 4:6,1Pe 5:5). João, referindo-se ao relato da queda (Gen 3:6), escreve: “A cupidez da carne, a cupidez dos olhos e o orgulho da vida não vêm do Pai mas do mundo, ora, o mundo passa...” (1Jo 2:16 e seguinte). Já se podia esperar que Paulo, o apóstolo da graça, fosse implacável contra o orgulho (Rom 1:30, 2Tim 3:2 e seguintes, cf. 1Tim 6:4, 1Cor 5:2, 2Cor 12:20, Rom 11:20, 1Tim 6:17) e colocasse aos ministros do Evangelho o dever de se manter longe dele (1Tim 3:6, Tt 1:7).Ver Humildade. Alex. W.

1 Eclesiástico ou Sirácida (Não confundir Eclesiástico com Eclesiaste)

Fonte; Geak - Grupo de Estudos Allan Kardec



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