quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História da Era Apostólica - A crucificação de Jesus


HAROLDO DUTRA DIAS

“Para quem está familiarizado com a história antiga, não deve ser motivo de perturbação o fato de que as principais datas na vida de Jesus sejam apenas aproximadas. [...]”

O dados cronológicos mais  importantes da vida de Jesus encontram-se nas narrativas da infância (Mateus, 2; Lucas, 1:5, 2:1-40) e nas da Paixão (Mateus, 26-27; Marcos, 14-15; Lucas, 21-23; João, 13-19). Outros dados relevantes podem ser encontrados nos Evangelhos de Lucas e João (Lc., 3:1-2 e 23; Jo., 2:20).

Os historiadores do Cristianismo, porém, chamam a atenção para o fato de que os Evangelhos não são essencialmente obras de história, no sentido atual da palavra. Os Evangelistas não pretendiam produzir uma biografia completa ou mesmo um sumário da vida de Jesus. Ao contrário, escreveram com a finalidade de transmitir o ensino do Mestre, os fatos principais da sua vida, de modo a legar à posteridade o testemunho da fé.

Nesse sentido, é justo considerar  que os Evangelistas organizaram o material da tradição (oral e/ou escrita) de acordo com um propósito redacional. Compilaram e organizaram as narrativas sem se preocuparem com a ordem histórica dos acontecimentos.

Assim, em se tratando de cronologia do Cristianismo Nascente, por vezes, é preciso contentar se com o estabelecimento de intervalos temporais, dentro dos quais há maior probabilidade de ocorrência de determinado fato. As limitações das fontes históricas disponíveis justificam essa situação.

Seguindo o relato dos Evangelistas, entre o nascimento de Jesus e o início de seu ministério público, houve um período de “cerca de trinta anos” (Lucas, 3:23).

Considerando que seu nascimento se deu no outono/inverno do ano 5 a.C.,2 é possível estabelecer que sua missão pública entre os homens desenvolveu-se entre os anos 25 e 45 d.C. O intervalo é excessivamente extenso, e pode ser reduzido com base em outros dados.

Jesus foi crucificado quando Pôncio Pilatos era procurador da Judéia (TÁCITO, Anais, XV, 44; FLÁVIO JOSEFO, Antiguidades Judaicas, XVIII, 63; Relato dos evangelistas), ou seja, entre 26 e 36 d.C. Já conseguimos uma considerável redução no intervalo.

João Batista iniciou seu ministério no ano décimo quinto de Tibério César (Lucas, 3:1). Levan-do-se em conta as divergências na fixação desta data,3 tal fato ocorreu entre os anos 27 e 29 d.C. 

Jesus, por sua vez, deu início ao seu ministério público após João Batista ter iniciado o seu.
Computando-se um período razoável de duração do ministério do Cristo, o ano da sua morte, na opinião da maioria dos pesquisadores, deve se situar entre os anos 29 e 34 d.C. Nesta, houve uma redução drástica daquele intervalo temporal inicialmente proposto.

Sobre isso, julgamos oportuna a transcrição de pequeno trecho sobre a crucificação encontrado em famoso dicionário bíblico:

[...] Dentre as tentativas feitas para determinar o ano da crucificação, a mais frutífera tem sido feita com a ajuda da astronomia. De conformidade com todos os quatro evangelhos, a crucificação teve lugar numa sexta-feira; mas enquanto que nos sinóticos essa sexta-feira é 15 de Nisã, em João é 14 de Nisã. Portanto, o problema que tem que ser solucionado com a ajuda da astronomia, é o de determinar em qual dos anos 26--36 d.C. é que 14 e 15 de Nisã caíram numa sexta-feira. Mas, visto que nos tempos neotestamentários o mês judaico era lunar, e o tempo de seu início era marcado pela observação da lua nova, esse problema é basicamente o de resolver quando a lua nova se tornou visível. Estudando esse problema, Fotheringham e Schoch chegaram cada qual a uma só fórmula mediante cuja aplicação descobriram que 15 de Nisã caiu numa sexta-feira somente no ano 27 d.C., e que 14 de Nisã caiu numa sexta-feira somente nos anos 30 e 33. Visto que o ano de 27 como ano da crucificação está fora de questão, a escolha recai entre os anos 30 d.C. (7 de abril) e 33 d.C. (3 de abril). [...].4 (Grifo nosso.) 

Portanto, usando todos os recursos e métodos da moderna pesquisa histórica, pode-se afirmar que a crucificação ocorreu no dia 7 de abril do ano 30 d.C. ou no dia 3 de abril do ano 33 d.C.

A opção por qualquer dessas datas não isenta o pesquisador de responder a objeções fundadas. É nesse ponto da pesquisa que julgamos conveniente conjugar esforço humano e revelação espiritual, numa operação chamada por Allan Kardec de “fé raciocinada”.

Nesse sentido, dois textos encontrados na obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier chamam nossa atenção:

Nos primeiros dias do ano 30, antes de suas gloriosas manifestações, avistou-se Jesus com o Batista, no deserto triste da Judéia, não muito longe das areias ardentes da Arábia [...].5 Aproximava-se a Páscoa no ano 33. Numerosos amigos de Públio haviam aconselhado a sua volta temporária a Jerusalém, a fim de intensificar os serviços da procura do filhinho, no curso das festividades que concentravam,na época, as maiores multidões da Palestina [...].
....................................................

[...] De uma sala contígua ao seu gabinete, notou que Públio atendia a numerosas pessoas que o procuravam particularmente, em atitude discreta; e o interessante é que, segundo as suas observações, todos expunham ao senador o mesmo assunto, isto é, a prisão inesperada de Jesus Nazareno – acontecimento que desviara todas as atenções das festividades da Páscoa, tal o interesse despertado pelos feitos do Mestre, em todos os espíritos. [...]6

Assim, consoante a revelação espiritual, pelas mãos do respeitável médium Francisco Cândido Xavier, Jesus iniciou seu ministério no ano 30 d.C. e foi cru-

Fonte: Reformador Ano 126 Nº 2. 154 • Setembro 2008

1MEIER, John P. Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico. 3. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1993. p. 367.
2Consultar o artigo intitulado “Nascimento de Jesus”, publicado na revista Reformador, de junho de 2008, p.
3Alguns pesquisadores consideram, para  contagem dos quinze anos, o período em que Tibério César se tornou co-regente de Augusto, ao passo que outros recusam esse método de contagem asseverando que deve ser contabilizado apenas o período em que ele regeu sozinho, após a morte do imperador. Visto que Augusto faleceu em 19 de agosto de 14 d.C., a contagem deveria se iniciar após essa data.
4DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da bíblia. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006. p.
5XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.
6XAVIER, Francisco Cândido. Há dois milanos. Pelo Espírito Emmanuel. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira Parte, cap. VIII, p. 144, 147 e 148.
7A festa da Páscoa começa no crepúsculo da sexta-feira (14 de Nisã), ou seja, no início do sábado (15 de Nisã), uma vez que os judeus contavam o dia a partir das dezoito horas. Essa festa durava uma semana, findando no sábado seguinte (22 de Nisã).


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