quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História da Era Apostólica - A preparação no deserto

                               Damasco, na Síria. Ilustração de 1668

“O ex-rabino modificara o próprio aspecto, ao contato direto das forças agressivas da Natureza. [...] Entretanto, a solidão, as disciplinas austeras, o tear laborioso, lhe haviam enriquecido a alma de luz e serenidade. Os olhos calmos e profundos atestavam os novos valores do espírito. Entendera, finalmente, aquela paz desconhecida que Jesus desejara aos discípulos.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

O romance mediúnico Paulo e Estêvão representa uma dádiva da Espiritualidade superior. Além de relatar o perfil dos personagens mais destacados do Cristianismo Nascente, bem como suas transformações ao longo do tempo, fornece dados históricos extremamente importantes para a reconstrução do primeiro século, tornando possível a compreensão de pontos obscuros do Novo Testamento.
Novamente, urge realizar uma combinação harmoniosa e criteriosa de dados, com vistas à formação de um quadro cronológico coerente e convincente, baseado nas informações de Emmanuel:

Quando as sombras crepusculares se faziam mais densas, dois homens desconhecidos entravam nos subúrbios da cidade.
Embora a ventania afastasse as nuvens tempestuosas na direção do deserto, grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas. As janelas das casas residenciais fechavam-se com estrépito. Damasco podia recordar o jovem tarsense [...]2

Naquela tarde, Gamaliel deixou a rústica choupana, dirigindo-se com o ex-discípulo à casa do irmão, que acolheu, desde então, o jovem tarsense [...]

[...] o velho rabino de Jerusalém expôs ao negociante a situação do seu protegido. [...]esclareceu que ele tencionava trabalhar como tecelão nas tendas do deserto [...] Daí a três dias, Saulo despedia-se do mestre, debaixo de profunda comoção.3

Quando mais de um ano havia corrido sobre aquela soledade, uma caravana vinda de Palmira trazia-lhe um bilhete lacônico. O negociante comunicava-lhe a morte súbita do irmão, aliás de há muito esperada.

A partida de Gamaliel para os reinos da morte não deixou de ser uma dolorosa surpresa.[...]4
                         A cidade romana de Palmira

Com efeito, depois da passagem da grande caravana que lhes trazia os substitutos, servidos de um camelo, os três irmãos do “Caminho” deixaram o oásis em direção a Palmira, onde a família de Gamaliel os acolheu com desvelado carinho.

Áquila e a mulher ali ficariam algum tempo ao serviço de Ezequias, até que 
Em dois minutos achou-se novamente na via pública. Era quase meio-dia, um dia quente. Sentiu sede e fome. Consultou a bolsa, estava quase vazia. Um resto do que recebera das mãos generosas do irmão de Gamaliel, ao deixar Palmira definitivamente. [...]6

Antes de comparar os textos, é conveniente relembrar algumas datas importantes, todas detalhadamente explicadas em edições anteriores desta revista.

Após organizar a célebre viagem à cidade de Damasco, em busca de Ananias, Saulo adentra em Damasco, acometido de temporária cegueira, e sente que 
                                Jerusalém nos dias atuais

[...] “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas”. Nos países banhados pelo mar Mediterrâneo, o clima é muito semelhante, com verões secos e quentes e invernos moderados e chuvosos. As estações do ano se dividem em dois grandes blocos: primavera–verão (abril–setembro) e outono–inverno (outubro-março).
A primavera tem início no mês de abril, quando cessam as chuvas.
Nesse caso, é plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que a conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do ano 36 d. C.7

O tempo de permanência do antigo doutor da lei no deserto de Palmira foi estabelecido de forma precisa por Emmanuel: três anos. Durante sua estada no Oásis de Dan, foi surpreendido com a notícia da morte do seu grande orientador, Gamaliel.

Retornando para Damasco, Paulo se vê obrigado a fugir da cidade, em razão de mandado de prisão expedido pelo Sinédrio. Empreende, então, a primeira viagem à cidade de Jerusalém, após sua conversão.

Nesse ponto, o Benfeitor Emmanuel, utilizando recurso por nós conhecido, menciona as condições climáticas da cidade de Jerusalém, de modo a construir sua cronologia com base nas estações do ano, evitando-se imprecisões decorrentes da conversão do calendário judaico para o gregoriano.

Sendo assim, não é difícil concluir que a chegada de Paulo em Jerusalém se deu num dia quente de verão, três anos após sua conversão em Damasco. Portanto, a primeira viagem de Paulo a Jerusalém ocorreu no verão do ano 39 d.C.

Trata-se de uma data importantíssima para toda a cronologia do primeiro século do Cristianismo, bem como para a cronologia da própria vida de Paulo.

Na segunda epístola aos Coríntios, Paulo menciona que o “etnarca do rei Aretas” guardava Damasco por ocasião de sua fuga dramática em um cesto (2 Cor.11:32-33). Ora, o rei nabateu Aretas IV morreu entre 38 e 40 d.C. (provavelmente em 39 d.C.). Asseveram os pesquisadores ser improvável o controle nabateu de Damasco antes do ano 37 d.C., quando a ascensão de Calígula ao trono assinalou uma nova política romana para com os reis dependentes. 

Por esta razão, acreditam que a fuga de Damasco se deu entre 37 e 39 d.C. O romance mediúnico nos confirma que a fuga se deu no ano 39 d.C.

Na epístola aos Gálatas (Gl., 1:16-20), o Apóstolo dos gentios descreve sua conversão, sua permanência de três anos na Arábia e sua primeira visita a Jerusalém, que, somadas ao relato de Atos dos Apóstolos (At., 9:1-30), nos confirmam os eventos, todavia, não nos oferecem um referencial seguro para a estruturação da cronologia.

Nesse caso, as indicações detalhadas de Emmanuel, na obra mediúnica, representam uma importante contribuição da Espiritualidade para a determinação precisa desses marcos cronológicos.

Fonte: Reformador  Ano  127 • Nº 2. 162 • Maio 2009

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. P. 2, cap. 2, p. 313.
2Idem, ibidem. P. 1, cap. 9, p. 250.
3Idem, ibidem. P. 2, cap. 2, p. 301-302 e 304.
4XAVIER, Francisco C. Op. cit. P. 2, cap. 2, p. 314.
5Idem, ibidem. p. 320. 6Idem, ibidem. P. 2, cap. 3, p. 340.
6Idem, ibidem. P. 2, cap. 3, p. 340.
7DIAS, Haroldo D. Cristianismo redivivo: história da era apostólica, a conversão de Saulo, Reformador, ano 127, n. 2.160, p. 36(114)-37(115), mar. 2009. Jerusalém nos dias atuais

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